Por Ricardo Viveiros*
Não é apenas neste país tropical, bonito por natureza, que as pessoas gostam de empregar ditados, adágios, provérbios. A sabedoria de muitos intelectuais, além da popular, expressa em verdades que se originam na experiência prática da luta pela sobrevivência.
Há quem deteste tais pensamentos, e reaja contradizendo cada um deles: “Devagar se vai ao longe”, pode ser “Devagar se chega tarde”. Ou ainda, “Em terra de cego quem tem um olho é rei”, corrigido para “Em terra de cego quem tem um olho é caolho”. E há os criativos a ponto de fundir em uma só frase o ditado e a suposta correção dele: “O apressado come cru, mas não queima a boca”.
Isso, sem falar dos ditados que são empregados incorretamente. Exemplos: “Cor de burro quando foge”, errado. O certo é: “Corro de burro quando foge!”. Outro: “Cuspido e escarrado”, errado. O certo é: “Esculpido em Carrara” (tipo de mármore dessa região na Itália). Mais um: “Quem não tem cão, caça com gato”, errado. O certo é: “Quem não tem cão, caça como gato” (portanto, sozinho). Outro: “São ossos do ofício”, errado. O certo é: “São ócios do ofício”. E um bastante conhecido: “Quem tem boca vai a Roma”, errado. O certo é: “Quem tem boca vaia Roma”.
Essas frases curtas que pretendem gerar reflexão, são metáforas transmitidas ao longo dos anos de geração para geração nos diferentes países. Provérbios têm origem em todas as áreas do conhecimento. Sejam criados por filósofos, pregadores, publicitários, escritores, compositores ou, a maioria deles, por pessoas simples do campo e da cidade.
Dentre os muitos provérbios usados em distintos idiomas, está o extraído da fábula do grego Esopo, “A Reunião Geral dos Ratos”, escrito nos anos 500 a.C. O texto conta que certa feita alguns ratos, que viviam com medo de um determinado gato, resolveram fazer uma reunião para encontrar um jeito de acabar com o problema. Diferentes ideias foram dadas e debatidas, porém sem nenhuma que agradasse a todos.
Já no fim da reunião, quando estavam cansados e desanimados, um jovem rato pediu a palavra e sugeriu pendurar uma sineta no pescoço do gato. Dessa forma, sempre que o perigoso felino se aproximasse todos ouviriam a sineta e poderiam esconder-se. Em meio a muitos aplausos, achando que tudo estava resolvido, um velho rato levantou-se do seu canto e falou que a ideia, sem dúvida, era muito inteligente. Só faltava uma coisa: qual dos ratos iria pendurar a sineta no pescoço do gato?
Nos países que falam alemão, há um provérbio que diz “Nicht jede Kuh lässt sich melken”, ou seja, “Nem toda vaca se deixa ordenhar”. Tal pensamento provoca reflexões sobre o quão é importante saber resistir às tentativas de cooptar nossa consciência. Da coragem e força necessárias para manter a dignidade e impor limites. Pensar com liberdade e amplitude. Criar um entendimento pessoal das coisas.
Às vezes, na vida, nos vemos forçados por circunstâncias a fazer o que não gostamos, o que não queremos. E dói ainda mais quando a imposição vem de um político eleito por você, ou um superior intransigente no trabalho, ou um religioso radical.
Em tempos confusos, com várias crises que vão da sanitária, passando pela política até alcançar a econômica, tudo junto e misturado, é possível que em algum momento você se depare com pessoas que, sem nenhum respeito, tentem impor-lhe o que deve fazer. Faça sempre prevalecer a sua liberdade, um direito inalienável do qual você jamais deve prescindir.
Quem manda no seu pensamento é você, ninguém mais. E para ter suas próprias conclusões, tenha o hábito de ouvir/ler – de modo aberto – todas as tendências e, diante do conhecimento amplo, poder opinar com tranquilidade. Pense que não há nada mais livre do que sua mente. Você pode ser preso, amarrado, amordaçado, vendado e continuará pensando o que bem quiser.
Pode até pensar errado para o outro, mas estará pensando certo para você. E do debate respeitoso surge a luz, o avanço. Entre o obscurantismo, fique com o iluminismo. Afinal, como diz o ditado popular: “Quem cala consente”.
*Ricardo Viveiros é jornalista, escritor e professor. Doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, foi diretor-geral do Museu Padre Anchieta (Pateo do Collegio) e tem vários livros publicados, entre os quais: “Justiça Seja Feita”, “A Vila que Descobriu o Brasil”, “Pelos Caminhos da Educação” e “O Poeta e o Passarinho”.
Fonte: Giramundo Blog
Publicação Ambiente Legal, 24/08/2022
Edição: Ana Alves Alencar
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