O nazismo é uma serpente que precisa ser extirpada no ninho. Não há espaço para flertes ou inocência
Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro*
O governo Bolsonaro foi eleito para resgatar o país do jugo do establishment parasita, formado pelo lodo da corrupção, do fisiologismo, do rentismo, da parasitagem cultural e da burocracia.
Esse lodaçal disfuncional chamado establishment, não guarda qualquer compromisso com a Nação. Ele se mantém entranhado no “deep state” – o Estado Profundo, de onde emite sinais trocados à cidadania. Assim age, como reação ao risco crescente de ver-se desalojado da organização política da sociedade.
Essa guerra contra um inimigo encastelado nas instituições públicas, na grande mídia, na academia e nas organizações multilaterais, já sabíamos que o governo Bolsonaro iria enfrentar em repetidas e duras batalhas. O que não prevíamos era que o governo fosse ser duramente atingido de dentro para fora, pelo comportamento idiossincrático do líder e de vários de seus quadros assessores. E a infiltração nazifascista parece ser um dos vários vetores desse Cavalo de Tróia.
A infiltração nazista foi explicitada pelo pastiche gobbeliano protagonizado pelo Secretário da Cultura Ricardo / Roberto Alvim, no início de 2020, quando transmitiu uma mensagem de vídeo sobre a “nova cultura” parafraseando Goebbels, com cenário similar e fundo musical wagneriano – para ratificar a natureza do ato.
Disse Alvim:
“A arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes de nosso povo, ou então não será nada”.
Não só na forma, como no conteúdo, o vídeo remete ao ministro da propaganda de Adolf Hitler. Afinal, disse Joseph Goebbels:
“A arte alemã da próxima década será heroica, será ferreamente romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande páthos e igualmente imperativa e vinculante, ou então não será nada”.
Goebbels, quando disse a frase em 1933, pretendia conferir uma “nova ordem germânica” ao caos da moribunda República de Weimar, “subjugada pelo bolchevismo”. Alvim, pelo que disse na “‘live” gravada anteriormente com o Presidente, pretendia resgatar a “cultura nacional”, destruída pelo caos imposto pelo “marxismo cultural”.
No exercício de um cargo público federal, o indigitado Alvim transmitiu uma mensagem NAZISTA – um dog whistle, na linguagem de inteligência – sinal cifrado dirigido à própria matilha.
De fato, a matilha nazi no entorno e no governo bolsonaro, já emitiu outros sinais.
O episódio do copo de leite, tomado em live do presidente, aparentemente para prestigiar a produção de leite no Brasil, foi absolutamente “contextulazidado” pelo youtuber bolsonarista Allan dos Santos, no seu programa de rede digital chamado “Terça Livre”, quando expressou que “entendedores entenderão”, tomando também o seu copo de leite como numa saudação.
Entendedores interpretaram o gesto como mais um dog whistle dirigido à matilha nazista. Afinal, o celebrar com o leite foi apropriado culturalmente pela extrema direita, como um gesto de pureza racial.
A nova extrema direita norte americana, chamada de alt-right , associa o consumo de leite a uma série de atributos positivos sobre a própria existência: por serem brancos e comerem carne (ou caça), formariam uma raça superior.
Mas a série de sinais não parou aí.
Posteriormente, manifestantes bolsonaristas passaram a agitar a bandeira histórica da Ucrânia – negra e vermelha, também arrebatada como símbolo do movimento radical de direita ucraniano Pravy Sektor (Right Sector, em inglês), que reúne movimentos ultra-nacionalistas ucranianos e que acabou se transformando em partido político.
Em 2014, Kiev, capital da Ucrânia, em plena luta contra o governo pró-russo ali instalado, foi também vítima de manifestações dos Pravy Sektor. Banners dos partidários da “supremacia branca” e bandeiras dos confederados norte-americanos foram fixadas dentro da prefeitura de Kiev ocupada. Manifestantes içaram bandeiras da SS nazista e símbolos do poder branco sobre a estátua tombada de Lenin. Depois que o presidente pró-russo Yanukovich fugiu do palácio estatal de helicóptero, os manifestantes destruíram a estátua dos ucranianos que morreram lutando contra a ocupação alemã durante a Segunda Guerra Mundial.
Saudações nazistas e o símbolo do Wolfsangel (um símbolo heráldico alemão) tornaram-se cada vez mais comuns na praça Maiden. Forças neo-nazi chegaram a estabelecer “zonas autonômas” em torno de Kiev, até o novo governo tratar de pacificar o país, reprimindo os neonazistas. No entanto, é em relação a eles que nazistas fora da Ucrânia se referem quando usam o termo “ucranizar” como “libertação do jugo comunista” (como se Putin e o governo russo ainda o fossem…).
Assim, não há espaço para qualquer interpretação inocente, em um campo claramente nazista.
Os sinais de nazificação infelizmente progridem.
Recentemente, organizações paramilitares, a pretexto de reunirem “reservistas”, protagonizaram atos similares aos das Tropas de Assalto – SAs nazistas, inclusive gravando vídeos com clara ameaça a opositores e à “esquerda” brasileira (sendo que “esquerda”, para esse tipo de ogro, é tudo que está á esquerda dele…).
Agora, o principal assessor para assuntos internacionais do Palácio do Planalto, Felipe Martins, protagonizou o mais estranho “arranjo de lapela” durante uma vídeo-conferência no Senado Federal, em que o Ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, era questionado sobre a condução ideologizada da política internacional brasileira.
Martins claramente acenou com a mão direita em forma de “OK”, porém com a palma da mão oculta, ou seja, ao contrário da forma tradicional. Isso leva a duas interpretações: ou inadvertidamente fez um símbolo notoriamente obsceno para a cultura brasileira ou, pior, reproduziu outro dog whistle para as câmeras e redes sociais: reproduziu o odioso símbolo dos supremacistas brancos – o sinal “white power”.
Por mais que se tente conferir alguma funcionalidade de estilo ao sinal, diversa do que ele representa cultural e ideologicamente, é patente que em um ambiente onde se deixam do lado de fora a inocência e a ingenuidade e nenhum gesto é gratuito – o ato protagonizado pelo assessor – por si só, merece reprimenda.
Felipe pode até ter tentado mesmo acertar a lapela do terno, como afirma de forma acerba em resposta às insinuações. No entanto, como diria o youtuber Allan dos Santos: “entendedores entenderão”.
O ovo da serpente só pode ser observado quando posto contra a luz. Aí o monstro se revela. Os meios de comunicação, a mídia digital, a imprensa, escancaram gestos, fatos e remissões. Não há espaço para ingenuidade.
Os fatos, o contexto e as circunstâncias, no mínimo, revelam que há serpentes do nazifascismo eclodindo nos ovos bolsonaristas, vários deles postos no ninho do governo Bolsonaro.
O comportamento seria escandaloso em qualquer país. Mas é preocupante no caso brasileiro, pelo histórico de tentativas do extremismo de direita se instalar em nosso Estado. A tentação nazi-fascista, somada à bajulação populista, irá nos levar ao conflito. É da natureza do nazifascismo provocar o caos e nutrí-lo com o ódio.
Bolsonaro transformou-se em líder populista quando deveria ter assumido para representar a vanguarda de luta pelo restabelecimento do conservadorismo liberal – pelo restabelecimento da ordem pluralista. Foi eleito para combater o populismo e nisso teve o apoio firme da sociedade de bem e das forças armadas. Mas esse apoio se desvanece à medida em que o rumo do governo aponta para o populismo.
A infiltração nazista em governos no Brasil não é nova. Há registros datados desde antes da 2a. Guerra Mundial. Sobre isso apontei uma relação de fatos em outro artigo, onde comentava o pastiche protagonizado pelo Secretário Alvim*, acima referido. No entanto, há tempos que as Forças Armadas brasileiras trataram de blindar seus quadros face a esse perigo.
Os militares de nossas forças de defesa nacional sabem do risco neonazista, seu significado geopolítico e a necessidade de matar qualquer iniciativa no nascedouro – destruir a serpente no ninho, de preferência ainda no ovo.
O nazismo é uma serpente que precisa ser extirpada no ninho. Não há espaço para flertes ou inocência. Não se trata mais de “ala ideológica” ou “conservadores” atuando no governo. Pelos gestos e sinais, todos flertam com o perigo, Estamos diante de fascistas, de uma exrema direita que está abandonando a dissimulação.
Se o sinal já estava amarelo no governo Bolsonaro. Agora parece estar disparando. Ou o presidente extirpa o mal… ou será por ele extirpado.
Leia também:
PEDRO, Antonio Fernando Pinheiro – “O RISCO PARA O CONSERVADORISMO ESTÁ À DIREITA”, in blog The Eagle View, in https://www.theeagleview.com.br/2020/01/o-risco-para-o-conservadorismo-tambem.html
*Antonio Fernando Pinheiro Pedro é advogado (USP), jornalista e consultor ambiental. Sócio do escritório Pinheiro Pedro Advogados. Integrante do Green Economy Task Force da Câmara de Comércio Internacional, membro do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB e da Comissão Nacional de Direito Ambiental do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB. É Editor-Chefe dos Portais Ambiente Legal, Dazibao e responsável pelo blog The Eagle View. Twitter: @Pinheiro_Pedro. LinkedIn: http://www.linkedin.com/in/pinheiropedro
Fonte: The Eagle View
Publicação Ambiente Legal, 25/03/2021
Edição: Ana A. Alencar
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