Pesquisa de cientista argentino alerta para contaminação nos alimentos por agrotóxico
por Nilton Gomes
Pesquisa do cientista Andrés Carrasco, sobre glifosato é publicada e aponta resultados pavorosos.
Ao longo dos últimos meses temos divulgado a saga do pesquisador argentino Andrés Carrasco, chefe do Laboratório de Embriologia Molecular da Universidade de Buenos Aires (UBA), que em abril de 2009 divulgou dados de suas pesquisas indicando sérios efeitos do herbicida glifosato em embriões de anfíbios (modelo tradicional de estudo para avaliação de efeitos fisiológicos em vertebrados, cujos resultados podem ser comparáveis ao que aconteceria com embriões humanos).
A perseguição que o pesquisador vem enfrentando desde então atingiu o extremo no início deste mês, quando sua comitiva foi espancada durante uma palestra em La Leonesa, na Província do Chaco – Argentina.
A principal crítica alegada pelos defensores do glifosato era a de que o estudo ainda não havia sido publicado em um periódico científico e, portanto, não teria valor científico.
Finalmente, em 09 de agosto de 2015, a revista Chemical Research in Toxicology, da Sociedade Americana de Química (ACS, na sigla em inglês) -que conta com mais de 160 mil membros e é referência mundial-, publicou a pesquisa, assinada por toda a equipe científica de Carrasco, legitimando-a definitivamente.
Durante 30 meses os pesquisadores estudaram o efeito do glifosato em embriões de anfíbios e frangos. O estudo intitulado “Herbicidas a base de glifosato produzem efeitos teratogênicos em vertebrados interferindo no metabolismo do ácido retinoico” confirma as deformações produzidas pelo veneno em concentrações até 5 mil vezes menores do que as do produto comercial (500 menores do que as utilizadas na agricultura).
As dez páginas da revista científica estão recheadas de termos técnicos que dão conta dos efeitos negativos do agrotóxico: microftalmia (olhos menores que o normal), microcefalia (cabeças pequenas e deformadas), ciclopia (um olho só, no meio do rosto, malformação conhecida pela clínica médica), malformações craniofaciais (deformação de cartilagens faciais e craniais) e encurtamento do tronco embrionário. E a pesquisa não descarta que, em etapas posteriores, se confirmem malformações cardíacas.
O agrotóxico tem a propriedade de permanecer por extensos períodos no ambiente e de viajar a longas distâncias carregado pelo vento e pela água. Outros estudos já comprovaram que a placenta humana é permeável ao glifosato.
“O efeito (do glifosato) sobre embriões abre a preocupação acerca dos casos de malformações em humanos observadas em populações expostas em zonas agrícolas”, observa a revista científica e explica: “Devido a defeitos craniofaciais observados em seres humanos de zonas agrícolas, decidimos explorar se os genes implicados no desenvolvimento da cabeça são alterados com os agrotóxicos. Confirmamos que tanto a marca comercial como o glifosato puro produzem defeitos cefálicos”.
A partir das provas científicas, a pesquisa adverte: “Os resultados comprovados em laboratório são compatíveis com malformações observadas em humanos expostos ao glifosato durante a gravidez”.
Em junho deste ano uma comissão oficial do governo do Chaco, província argentina, publicou um relatório informando que ao longo da última década -período em que o uso de venenos agrícolas se expandiu na região- quadruplicaram os nascimentos de bebês com malformações em todo o estado.
A revista científica assinala que se avançou em um feito inédito, de particular interesse para o meio científico, que é vincular as malformações com a influência do glifosato sobre o aumento do ácido retinoico (derivado da vitamina A, normal em todos os vertebrados e essencial para a regulação correta dos genes envolvidos na vida embrionária).
“Pequenas variações de ácido retinoico produzem malformações.
Nilton Gomes é engenheiro químico (UMG) e mecânico (UMC)
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