Por Danielle Denny, Karina Mekhitarian, Karina Fiorini e Andressa Onohara
Diferente de outros com premiações compradas e honras forjadas, “Mulheres que constroem” buscou ser autêntico. Vera Bradibad, vencedora do Troféu Mulher Imprensa 2012, por exemplo, sempre recusa falar em homenagens às mulheres porque “esses eventos fazem a pessoa se sentir exótica por ser mulher e profissional, não foi o caso deste, cujo formato de troca de experiências realmente teve uma proposta de contribuir para o avanço da temática feminista”.
Realizado pelo Instituto Brasileiro de Direito de Defesa, dia 27 de agosto, em São Paulo, teve entre as homenageadas Rosana Chiavassa, candidata à presidência da Ordem dos Advogados de São Paulo; a Ministra Eliana Calmon, corregedora do Conselho Nacional de Justiça; Albertina Duarte, coordenadora do Programa de Saúde Integral do Adolescente da Secretaria de Estado de São Paulo; Nádia Campeão, engenheira agrônoma; Silvia Pimentel, professora e militante pelo direito feminista; Ophelia Reinecke, uma das fundadoras do grupo Ação Mulher; Norma Kyriakos, Procuradora Geral do Estado na década de 90, Eliane Cantanhêde, colunista da Folha de São Paulo e Vera Brandimarte, diretora de redação do Valor Econômico e vencedora do Troféu Mulher Imprensa 2012.
Segundo Roberto Parentoni, Presidente do IBRADD (Instituto Brasileiro do Direito da Defesa), responsável pela organização do evento, o objetivo foi promover o encontro de representantes de diferentes segmentos que fizeram história por terem desenvolvido importantes trabalhos sociais e políticos, com legado para as próximas gerações, “a seleção das homenageadas foi feita por cinco juradas e todos os custos foram arcados pelo IBRADD”.
Para Vera Brandimarte, as mulheres ascenderam muito, mas ainda são raridade nos cargos de chefia “elas nunca chegam lá, as próximas gerações quem sabe, atualmente somos poucas. Dizem que eu sou muito briguenta. Homem firme é glória, mulher firme recebe os piores adjetivos de sapatão para baixo. Não devemos desistir pois estamos pavimentando caminho para as nossas filhas, para as quais o caminho será muito mais fácil, espero”.
Nádia Campeão, ex-presidente do PCdoB/SP e vice de Fernando Haddad à prefeitura de São Paulo, ressaltou que a geração atual tem um compromisso histórico com as mulheres que as precederam. “As mulheres precisam fazer algo além que cuidar da vida particular, só assim a sociedade vai melhorar, principalmente com relação à desigualdade social, a grande maioria ainda não faz, nas atuais eleições municipais, de 24 candidatos a prefeito e vice, há apenas cinco mulheres. As mulheres ainda enfrentam dificuldades na ocupação de espaços de poder. Já é difícil ter mulher para participar das eleições e ainda mais sendo eleita. Mulher assessora, mas não decide esse é o chavão. Só chega ao poder se a fila de homens já acabou. Temos um caminho longo a trilhar.”
Rosana Chiavassa, primeira candidata mulher à presidência da OAB/SP, reconhece que pouco soube da luta da mulher antes de enfrentá-la, “aprendemos quando caímos e caímos muito, muitas vezes nos culpamos, mas é geral a todas as mulheres”. Agrados preconceituosos demonstram que homens não sabem lidar com mulheres “se seguem pela sedução, pelo mando ou pelo formalismo”. E as mães são responsáveis, “estamos de alguma forma dificultando a igualdade, pois as mulheres educam os filhos para reproduzir os mesmos ideais machistas.” Ela aponta ainda que apesar da aparente igualdade, o preconceito continua “de forma simpática, velada, se a mulher sair de licença a maternidade, por exemplo, quando voltar não tem mais emprego”.
A Ministra Eliana Calmon, corregedora do Conselho Nacional de Justiça, eleita a mulher mais influente do ano de 2005 pela Forbes, identifica que por ter família de boa condição financeira, sempre teve grande proteção, além disso, por ser concursada do Ministério Público e do Judiciário, “teve esse biombo e não usou todas as regalias”. Segundo ela, todas as mulheres que chegaram ao poder dessa maneira, não sentiram na pele a necessidade de participar do movimento feminista, então são ausentes, mas deveria ser o contrário “toda vez que temos sucesso em vencer cultura machista temos ajuda de outras mulheres. Se a mulher chegou lá não se engrandece individualmente, tem de levar para o coletivo, tem de integrar o movimento feminista, tem de orientar as demais. O que incomoda é desigualdade da mulher preta, cheia de filho, pobre, sem acesso a babá, enfermeira, ou escolinha. As coisas não são iguais, a sociedade é fatiada.”
Silvia Pimentel, professora da PUC/SP, acredita que: “mesmo que a gente não mude o mundo, alguma coisa muda”, seu contato com a juventude, ela tem mais de 200 alunos por ano, lhe permite uma comparação geracional significativa: “na época da ditadura o inimigo era concreto, o código civil, por exemplo, que fazia a mulher relativamente incapaz com o casamento, hoje, estamos em momento avassalador, com muitas nuances, a maioria opta for ficar alienada, como nunca fazem uma coisa só, não resta espaço para análise crítica sobre a realidade que os cercam. Jovens não tem tempo para processar a avalanche de informação. O capitalismo selvagem está muito difícil. Mas tem bons inimigos, além da desigualdade de gênero, a corrupção por exemplo, que graças à imprensa está na pauta, se dependêssemos dos estudantes nada seria feito.”
Norma Chiriaqui, procuradora geral do estado durante o governo Montoro, primeira mulher a ser conselheira da OAB, primeira secretária geral da OAB, quem criou a comissão da mulher na OAB é contundente em sua crítica: “a OAB defende o estado de direito e a igualdade, mas não pratica isso nos seus quadros internos”. Para ela, a eleição de Rosana Chiavassa para a presidência da OAB terá como grande diferencial o olhar feminino sobre os problemas da sociedade: “as mulheres na OAB, faremos história, sem dúvida.”