Por Renato Paquet*
A compra e a venda de resíduos podem ser consideradas práticas ainda complexas no Brasil. Existem diversos fatores que dificultam compradores e vendedores a investirem mais nesse nicho, sem medo de errar na escolha: dificuldade em encontrar parceiros qualificados, custos de logística e alto custo de prospecção para fornecedores qualificados, dificuldade em alocar equipe 100% dedicada, bitributação dos materiais recicláveis, outras prioridades de investimento ou falta de tempo e capital são alguns dos motivos mais comuns.
Para se ter uma ideia, o Brasil enterra, anualmente, cerca de 120 bilhões em resíduos que poderiam ser reciclados como matéria-prima. Isso significa que instituições privadas, estatais e órgãos do governo precisam se conscientizar ainda mais de como devem proceder com seus resíduos de maneira sustentável. Porém, a distância e dificuldade de interlocução entre as partes ainda são aspectos que geram bloqueio para essa atitude se tornar cada vez mais real no mundo industrial e corporativo.
Vivemos um momento de grandes mudanças na forma como as empresas fazem seus negócios, o chamado business as usual vem sendo ressignificado nas indústrias mais inovadoras e também naquelas tradicionais que já enxergam resíduos como fonte de receita acessória e matéria-prima. Porém ainda muito se ouve falar sobre a relevância da implementação de práticas sustentáveis e pouco sobre a solução efetiva dos problemas e a grande oportunidade que há por trás da valoração dos resíduos. E o quanto isso representa para o nosso futuro, tendo em vista serem alarmantemente os maiores problemas da era antropocênica tanto a poluição quanto a escassez de recursos ecossistêmicos.
O processo está sendo desencadeado pouco a pouco pela revolução tecnológica e cultural já existente, ou seja, utilizar artifícios tecnológicos que otimizam a venda e compra de resíduos para além de maior rentabilidade às empresas, agrega diferentes benefícios para o futuro da sociedade e das instituições: toda vez que consumimos resíduos como matéria-prima, temos dois ganhos diretos – deixar de explorar ecossistemas para extrair recursos virgens e gastar menos energia no processo de fabricação de um produto, já que 75% da energia necessária para este processo é consumida entre etapa de extração do recurso e sua transformação e matéria-prima.
Por meio de soluções tecnológicas, por exemplo, é possível implementar a logística reversa e conectar compradores e vendedores de resíduos, diminuindo também as barreiras da distância, eliminando os custos e a necessidade de uma equipe interna para vender e comprar resíduos, além de cumprir a lei necessária de forma lucrativa e estimulando a economia circular.
A inovação dentro desse segmento permite que novas tecnologias ressignifiquem resíduos em coprodutos, ou seja, altere o mindset do industriário para tratar resíduos de uma outra forma, enxergando-o também como resultado do seu processo produtivo e o comercializando, reduzindo os impactos negativos no meio ambiente, gerando valor para uma empresa e contribuindo para a redução de consumo de recursos naturais. Por isso, vale a pena repensar em como armazenar, descartar e classificar seus resíduos. Eles podem ser a matéria-prima de alguém, nova fonte de receita e um grande agente de mudança para transformarmos a qualidade ambiental do nosso planeta!
*Renato Paquet é formado em Ecologia com ênfase em economia circular e gestão na UFRJ, Diretor Presidente de Cleantechs da Associação Brasileira de Startups e fundador da Polen, uma startup de sustentabilidade que realiza a logística reversa e transforma resíduos em matéria-prima e para mais de 800 empresas no Brasil e em 6 países.
Fonte: Piar Comunicação