Por Luiza Pastor*
Na Praça da Sé, aqui em São Paulo, 14 esculturas disputam o espaço histórico com uma verdadeira multidão de mendigos e sem teto, que se deixam ficar ao sol que alivia o inverno rigoroso deste ano. Nos olhares baixos e nas expressões vazias dos rostos gastos, adivinha-se a tristeza de vidas limítrofes à linha do que se pode considerar humanidade. Pois é dessas pessoas esquecidas e maltratadas que nasce diariamente a décima quinta escultura: um enorme varal de cobertores e roupas penduradas para quarar e aquecer, antes que o frio da próxima noite venha.
Em contraste com as obras frias, trambolhos de arte aos quais praticamente ninguém presta atenção, esse varal é o maior monumento à incompetência da gestão de nossos homens e mulheres públicos – todos eles, de todos os matizes e em todos os níveis da administração.
Bruno Giorgi, Franz Weissemann, Amilcar de Castro e Rubem Valentin que me perdoem, assim como seus demais colegas -em especial José Resende, cuja criação Lousa” é a base do varal. Mas os maiores artistas ali expostos são esses seres deambulantes, sobreviventes por acaso e teimosia.
Luiza Pastor – Jornalista formada pela Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo, trabalhou como repórter, editora e colaboradora nos jornais Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Gazeta Mercantil, O Globo, Valor Econômico e revistas Senhor, IstoÉ Dinheiro, Exame e IstoÉ. Atriz bissexta, autora de teatro ocasional e poeta por acaso, gosta de andar, correr e tentar de tudo ao menos uma vez.