Por Marcia Hirota e Erika Guimarães*
O Brasil comemora a marca de quase 11 milhões de visitantes nos seus parques nacionais em 2017. O aumento de visitantes foi expressivo – cerca de 20% em relação ao ano anterior. Os dados são Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), autarquia ligada ao Ministério do Meio Ambiente (MMA), responsável pela gestão dos parques e outras Unidades de Conservação (UCs) federais.
A visitação aos parques nacionais é uma estratégia extremamente importante para engajar a sociedade e promover a sua reconexão com a natureza. Especialmente na Mata Atlântica, que abriga uma parcela significativa da população brasileira urbana, essas áreas são muitas vezes os últimos refúgios nos quais as pessoas podem desfrutar de práticas esportivas, recreativas e de lazer.
Não faltam estudos que evidenciam os efeitos positivos para a saúde física e emocional de se estar na natureza e o Japão é um dos países que mais tem investido no desenvolvimento de pesquisas nessa área. Cientistas da Universidade de Chiba (Tóquio) demonstraram, por exemplo, que um passeio em um ambiente natural pode relaxar e melhorar alguns aspectos da saúde, como a redução da concentração de cortisol no sangue – o chamado hormônio do estresse – e da pressão arterial; o fortalecimento do sistema imunológico; aumento da capacidade de concentração e melhora em quadros de depressão. Lá, os chamados “banhos de floresta” têm sido considerados uma prática de saúde pública.
Medidas semelhantes ganham cada vez mais importância em países como a Austrália e os Estados Unidos, reforçando a grande contribuição da visitação nas áreas protegidas para a saúde e bem-estar.
Todas as categorias de Unidades de Conservação permitem algum tipo de visitação, seja com finalidade de lazer, recreação ou mesmo pesquisa e educação ambiental, mas são os parques nacionais os campeões de visitação. Os que estão situados na Mata Atlântica receberam cerca de 6,5 milhões do contingente de pessoas que visitaram as UCs federais em 2017, sendo os Parques Nacionais de Tijuca (RJ) e do Iguaçu (PR) os mais visitados. Eles também foram os primeiros a implantar uma modalidade de parceria que tem crescido muito: a concessão dos serviços de visitação.
Tal como ocorre em outros setores da economia, as concessões têm se mostrado uma boa ferramenta para melhorar a infraestrutura de apoio à visitação nos parques, proporcionando maior conforto e qualidade na experiência dos usuários das UCs. As concessões também contribuem para diversificar o portfólio de roteiros e atividades possíveis nos parques, o que permite atrair um público cada vez mais diversificado e com diferentes interesses.
Se bem implantado, o turismo e a visitação podem ser grandes aliados para promover a conservação das áreas protegidas e o engajamento da sociedade. E pode ainda ter um impacto relevante no desenvolvimento econômico dos municípios que ficam no entorno dessas áreas.
Os números confirmam que, de fato, o impacto econômico da visitação nos parques e outras áreas naturais protegidas é muito grande – mas tem um potencial ainda maior. Um estudo realizado pelo ICMBio mostrou que a visitação em 2015 teve um impacto econômico de R$ 1 bilhão e gerou mais de 43 mil empregos. Segundo o levantamento, cada 1 real investido na gestão dessas unidades produziu outros 7 reais em benefícios econômicos diretos para o país. Esses números se referem a pouco mais da metade dos parques nacionais do país, mostrando que essas cifras podem ser ainda maiores. Investir nas UCs traz um retorno direto na forma de aumento da renda e geração de postos de trabalho.
Embora o Brasil tenha avançado nessa agenda de maneira expressiva nos últimos anos, ainda estamos muito aquém do nosso potencial. Como um país megadiverso e de natureza exuberante, o potencial de geração de receita pelo uso de seu patrimônio natural é muito alto.
Para isso, é preciso adotar medidas para garantir a abertura para a visitação e a estruturação de todos os parques nacionais brasileiros, em especial naqueles que estão mais próximos dos centros urbanos, como os da Mata Atlântica. Isso deve ser feito de maneira organizada, lançando mão de uma agenda e parcerias com empresas ligadas ao setor do turismo e com as comunidades do entorno das UCs, por meio das concessões de serviços, permissões e outros instrumentos. Essa agenda contribui não só para que essas unidades de proteção cumpram os objetivos para os quais foram criados, mas também funcionem como um polo indutor para alavancar o turismo e movimentar a economia nas regiões em que estão inseridos.
Receber bem e ampliar a oferta de atrativos é condição fundamental para garantir uma melhor experiência dos visitantes e contribuir para uma agenda ainda maior: engajar pessoas para se tornarem aliadas da causa ambiental. Esperamos que o próximo governo se comprometa a manter essa agenda robusta e fortalecida, atraindo cada vez mais cidadãos para as nossas áreas protegidas, para que eles possam se tornar, assim, guardiões da nossa natureza.
*Marcia Hirota e Erika Guimarães são, respectivamente, diretora executiva e gerente de Áreas Protegidas da Fundação SOS Mata Atlântica.
Fonte: SOSMA