Conheça histórias de quem mudou a carreira para mudar o mundo
Por Vitor Lillo
Rafaat Toumani, 23, poderia ter se tornado um diretor de marketing. Mayura Okuda, 27, talvez chegasse a CEO de uma multinacional. Gabriel Estevam, 25, seria um engenheiro disputadíssimo pelas grandes empresas. Mas os três resolveram montar seus próprios negócios e, de certa forma, um futuro diferente para o mundo.
Eles – e muitos outros da turma dos vinte e tantos anos – apostaram em serviços que medem seu sucesso não somente pelo lucro e rendimento financeiro, mas por seu impacto na sociedade. Essa é a principal característica de um empreendimento sustentável – e poderia ser de qualquer negócio.
“Todo empreendedor tem que estar pensando em ser lucrativo, mas também [precisa ter foco] na parte social e de sustentabilidade desde o começo. É inaceitável que um negócio não surja sem essa preocupação”, ratifica Rene Rodrigues, gerente de projetos do Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Rodrigues enxerga o empreendedorismo sustentável como “uma tendência sem volta”. “O que a gente vê é um crescimento muito grande. Há tem uma série de mudanças na legislação que exigem empreendimentos sustentáveis, como, por exemplo, a Política Nacional de Resíduos Sólidos”, salienta.
E qual é a razão para os jovens tomarem a dianteira nessa tendência? Renê aponta o fator geracional como motivo. “Alguns nasceram depois da Rio 92 e outros enxergam hoje o esgotamento dos modelos urbanos baseados em consumo de combustíveis. Estão face à uma mudança extremamente relevante”, avalia.
Lucro = impacto social
“Empreender nem sempre é criar empresas, é fazer coisas novas”, diz Rafaat Toumani que já tinha no currículo um prêmio de empreendedorismo jovem. “Minha motivação foi sempre criar algo novo para o público. Queria atender as necessidades do mundo sem acabar com ele”.
A “necessidade” identificada por Toumani era o apoio à ONGs e projetos ambientais. “Muitos deles não têm expertise, não sabem chegar ao público”, avalia Rafaat. Ocorre que, sem verbas, também não faz projetos e nem divulgação. A solução para interromper esse círculo vicioso veio através do crowdfunding ou financiamento colaborativo.
A possibilidade de pessoas físicas fazerem doações de quaisquer valores pela internet chamou a atenção de Rafaat. “Aqui no Brasil havia uma força muito grande no mercado cultural, mas havia essa demanda na área de sustentabilidade. E o legal era atingir a todos e não um grupo”, conta. Foi aí que nasceu a idéia da Kolmea.
O site, que entrou no ar em julho, se diferencia dos demais pelo apoio oferecido às campanhas de doação. “A gente faz um treinamento, grava o vídeo e edita”. Se o projeto alcançar ou ultrapassar a meta estipulada, uma parte do valor fica para o site.
Do contrário, todo o dinheiro arrecadado é devolvido aos doadores em forma de créditos dentro da Kolmea ou em débito na conta corrente. “É uma fórmula em que todos ganham. Enquanto não causar impacto na sociedade ela não estará cumprindo sua missão. Seu foco deve ser pelo impacto social e não somente pelo lucro”.
“O passivo pode ser um ativo”
O primeiro contato de Mayura Okuda com a área de Resíduos Sólidos foi enquanto Gestão Ambiental na Universidade de São Paulo (USP). “Me especializei em mercado de carbono e um dos maiores projetos em que me envolvi envolvia aterros. Então eu tive contato com os donos [dos aterros] e ouvi falar das bolsas de resíduos”.
Essas “bolsas de resíduos” eram formadas por empresas e aterros que negociavam esses materiais entre si de forma informal, sem uma gestão ou divulgação adequada. Essa falta de organização acabou matando a “bolsa”, mas foi a oportunidade para Mayura abrir a plataforma de comércio eletrônico de resíduos B2Blue.com, em 2011.
O sistema de compra e venda é simples: a empresa interessada se cadastra no site e faz o anúncio do material descartado, com todo o processo de negociação e compra sendo feito eletronicamente. A plataforma fica com 5% do valor da transação. Mas o serviço da empresa não se restringe à compra e venda.
“Quando ela finaliza [a compra] a gente instrui, verifica as documentações. Se é resíduo perigoso, nós damos uma orientação maior. Geralmente quem gera o resíduo não entende, não sabe a importância de saber o que acontece e do outro lado existe o problema da documentação”, explica Mayura.
Foi com esse trabalho junto aos geradores e compradores de resíduos que a B2Blue conquistou credibilidade – e também prêmios, como o ESPM Startup Challenge de 2012. “Hoje está em negociações com fundos para alavancar o negócio e o próximo passo é focar na capacitação do usuário, o que faria o cara sair da zona de conforto dele. As pessoas veem o resíduo como um elefante branco, mas esse passivo pode ser um ativo”.
Fábrica de ideias
Em Cubatão, na Baixada Santista, se fabrica aço, fertilizantes, cloro e também ideias. Caso da GED Inovação, empresa voltada ao desenvolvimento de produtos sustentáveis, inaugurada em 2011 pelo engenheiro Gabriel Estevam, quando ele tinha apenas 23 anos. Nada que o assustasse muito para quem ainda na infância produzia seus próprios produtos de higiene pessoal, usando o que tivesse disponível em casa.
As dificuldades não foram poucas no início. “Na época o que mais me prejudicava era a dificuldade de encontrar uma equipe que entendesse literalmente o conceito da empresa e tivesse um pouco do meu perfil ‘e vestisse a camisa’. […] Escutei de altos executivos com excelentes qualificações: ‘como um menino que consegue fazer uma coisa dessas’”, lembra Estevam.
Gabriel superou o preconceito com inovações como o reator que transforma o esgoto em água própria para lavagem de calçadas e irrigação de plantas utilizando apenas energia elétrica, sem a necessidade de utilizar vários tanques. Sem falar da ração para cães e gatos feita com restos da pesca de camarões e peixes, uma importante atividade econômica da região da Baixada Santista.
Uma das inovações mais recentes da GED, a Ecotinta, que reutiliza resíduos das fábricas de fertilizantes e transforma em massa acrílica para pintar paredes, lhe valeu o título de Embaixador Ambiental oferecido pela Bayer em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) de 2012, mais um título para a galeria de 19 prêmios na área de inovação.
Mas outra razão do sucesso da GED é a sua estratégia de negócios. “Meu objetivo não é ‘queimar’ os produtos convencionais e sim ser um parceiro dos empresários que atuam no mesmo segmento que eu, para tentar mostrar a eles que dá para continuar ganhando muito dinheiro alinhado a produção limpa, ou seja, reutilizando matérias primas e não agredindo tanto o meio ambiente”, relata Estevam.
De jovem para jovem
Tomar a decisão de montar um empreendimento, sustentável ou não, é um desafio e tanto para um adulto, imagine então para quem está começando a viver pela própria conta – e risco. Nessa hora, o que deve se levar em conta? Pedimos conselhos aos entrevistados para essa matéria e reunimos em quatro. Saiba quais são:
1 – Tenha certeza do que quer
Entenda que você vai viver, acordar e dormir no seu negócio. Esteja certo se é isso que deseja para a sua vida.
2 – Pesquisar e planejar
Faça sempre algum tipo de planejamento. O projeto deve responder a quatro perguntas básicas: se o momento é propício; se existem mercado e consumidores; qual é o público alvo; e se esse público está disposto a gastar dinheiro com a sua empresa.
3 – Siga sua intuição
O empreendedor deve se guiar pelo sentimento, por aquilo que acredita. Não se deixe que procedimentos ou metodologias sejam amarras. Vá em frente e faça acontecer.
4 – Saiba ouvir “não”
Por mais inovadora que sua ideia seja, nem sempre ela pode convencer ou mesmo dar certo de primeira. Mas, se você acredita no poder da sua ideia, não desista.
Perfeito matéria!
Thanks to Matt Crouch and Paul Crouch for investing in the TBN neowtrk. Trinity Broadcasting Network is going around the world with the help of it’s partners. Big thanks to Jan Crouch too.
Excelente matéria, muito esclarecedora e incentivadora….
Deixo aqui os meus parabéns.
obrigado!
Muito boa a materia,incentivadora.