Governo Paulista está atolado no programa de reciclagem dos veículos apreendidos
Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro
O “CASE” QUE VIROU SUCATA
Em maio de 2013, o Governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin, acertou com o Poder Judiciário paulista a liberação de licitação para a reciclar os veículos apreendidos e recolhidos pela policia – um volume que supera quatro dezenas de milhares de automóveis, abarrotando páteos e depósitos só na região metropolitana de São Paulo.
O maior desses depósitos fica numa região de restrição ambiental e de manancial para abastecimento de água para a Capital.
A iniciativa pioneira foi muito festejada e deveria ser seguida nos demais estados da união. De fato, há um volume enorme de veículos apodrecendo em páteos, postos rodoviários, delegacias, abarrotando espaços e contaminando solos.
Firmada autorização, sobreveio a habitual lentidão do Poder Público para por adiante aquilo que se determina a fazer… e o fato é que somente em 17 fevereiro de 2014, após processo de comunicação aos proprietários e dos trâmites legais, a empresa que ganhou a licitação começou a descontaminação e destruição dos veículos. O início dos trabalhos contou com a presença do governador Geraldo Alckmin que presenciou a compactação de alguns carros para reciclagem.
O prazo para o término dos trabalhos está calculado em seis(6) meses, pois é grande a quantidade de carros e motocicletas depositados – cerca de 45 mil unidades. É quase certo que o prazo passará em branco, sem que o processo tenha sido concluído.
A demora para o desembarace dos carros não é excepcional. A justiça é lenta para solucionar casos de apreensão e recolhimento de veículos (retidos por conta do envolvimento em algum tipo de crime ou por abandono por falta de pagamento ou de documentação). A justiça demora, também, para determinar a liberação para a reciclagem.
Toda essa rede de indefinições causa danos de toda ordem.
Em Santo Amaro, no maior depósito de todos, há cerca de 20 mil veículos, entre automóveis e motocicletas. Pela lei, deveriam ficar somente por três(3) meses no pátio. No entanto, a média de estada dos veículos ali, é de 10 anos.
O pátio de Santo Amaro é alugado e a locação tornou -se grande problema para o proprietário. Ele aguarda há anos o desfecho do processo judicial contra o Governo do Estado, para a desapropriação da área.
O proprietário também sofreu autuação e advertência da CETESB, que concedeu um prazo para a solução do problema da contaminação do solo e incompatibilidade da atividade de disposição dos veículos.
O fato acarretou grandes prejuízos financeiros, causando demissão dos funcionários que cuidavam do local.
O que poderia ser um case de sucesso, entra na vala comum dos projetos encalhados e mal conduzidos na gestão ambiental do Estado de São Paulo.
TRATAR A SUCATA AINDA É FICÇÃO
Toda essa confusão é sintoma da falta de cultura de reciclagem em nosso país.
O Brasil recicla apenas 1,5 % da sua frota de veículos, enquanto os Estados Unidos e grande parte dos países da Europa, reciclam 95 % do total produzido e comercializado, é de se questionar os motivos que impedem essa porcentagem de chegar, também, ao nosso país.
Conforme informado pelo Sindinesfa (Sindicato do Comércio Atacadista de Sucata Ferrosa e Não Ferrosa do Estado de São Paulo-SP, que representa as empresas do ramo), 95% de um carro é reciclável. O aço da carroceria pode ser reaproveitado quantas vezes forem necessárias, além dos materiais plásticos e de vidro.
De fato, o processo de transformação de carros em sucata reaproveitável como insumo para siderurgia é clássico.
O processo de descontaminação dos carros consiste em basicamente retirar e separar todo o material reaproveitável, revisar a estrutura minunciosamente e encaminhar os 5% de partes não recicláveis para descarte ambientalmente correto em aterro erigido para esse fim.
Pela lei, tudo deve ser documentado, pois há questões sensíveis em jogo, como a eliminação de números de chassis, encerramento de documentos de propriedade do veículo, etc.
A gestão desse resíduo, que se acumula ao longo de pátios em estradas, portos, áreas de preservação, periferias, etc, e imperativa, pois se trata de um estoque sob guarda do Estado.
No entanto, a ausência de normas para obrigar destino similar a todos os automóveis, ao final da vida útil deles, acaba servindo como fonte de abastecimento inesgotável dessa ocupação de carros sucateados em pátios oficiais.
O governo federal não equaciona essa questão, pelo contrário, incentiva o consumo, a compra de veículos 0 km, de uma lado e, do outro, não cria qualquer programa de descarte correto dos automóveis usados.
O Governo Federal deveria atentar para a nova economia decorrente da logística reversa, em especial da automotiva.
NOVA ECONOMIA, PORÉM AINDA IGNORADA
Há um incremento das empresas especializadas em descontaminação e destruição. Há um incentivo ás empresas legalizadas de desmanche e na venda de peças, fabricação de novos carros e oficinas de conserto.
O fato é que isso tudo forma uma nova economia, sustentável, importante e sensível.
O que vemos em São Paulo e no Brasil, é lentidão no trânsito, lentidão no processo de reciclagem dos veículos fora de uso, lentidão burocrática, lentidão judiciária, obsolescência má produtividade.
A inércia das montadoras, a falta de conhecimento técnico e institucional sobre o assunto, a impassibilidade estatal, a irresponsabilidade dos proprietários de automóvel e a impunidade contribuem para a lentidão desse processo.
O Brasil deixa de arrecadar por não reciclar seus veículos. A população perde a saúde, fisica e financeira, a contaminação de solo é certa e o sucateamento da lei torna-se inevitável.
Leia sobre atividade bem sucedida no Rio Grande do Sul: https://www.ambientelegal.com.br/reciclagem-no-detranrs-completa-cinco-anos/
Pesquisa e anotações: Ana Alencar
Fonte:
http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/lixo/o-triste-destino-dos-carros-especial-lixo-778160.shtml
http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2014/02/carros-que-lotam-patios-de-delegacias-de-sp-comecam-ser-destruidos.html
http://marioleitedebarrosfilho.blogspot.com.br/2013/06/estado-obtem-autorizacao-da-justica.html
A informação que o Estado de SP é pioneiro nesta atividade esta incorreta, conforme matéria publicada na revista quatro rodas http://quatrorodas.abril.com.br/noticias/sustentabilidade-reciclagem-veiculos-detran-rs-redacao-275471_p.shtml
de 2010 o Estado do Rio Grande do Sul adota este processo desde o ano de 2009.
Diogenes, a iniciativa gaúcha foi louvável mas limitada. Talvez por isso não tenha repercutido.
Agradecemos a correção.
Limitada!? Sem repercussão?
Apenas complementando:
O programa de reciclagem gaúcho continua a pleno vapor, com aperfeiçoamento contínuo do processo e expressivo incremento anual de veículos destinados.
Abaixo alguns links que ilustram o processo de reciclagem, ecologicamente correto, adotado no RS.
http://globotv.globo.com/rede-globo/autoesporte/t/todos-os-videos/v/reciclagem-pode-reduzir-quantidade-de-carros-abandonados-em-patios/3353679/
http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/noticia/2014/10/passo-a-passo-saiba-como-um-carro-e-reciclado-e-vira-aco-para-a-industria-e-construcao-civil-4630319.html
Bom sabermos disso por vc, Diogenes!
Se quiser contribuir falando sobre isso, nos envie um artigo ou nota sua para contato@ambientelegal.com.br
Abraço e obrigado.
Editor
Boa colocação. Temos que nos redimir.
Sugiro que nos envie uma nota sua ou artigo sobre a experiência gaúcha para reproduzirmos aqui.
Envie para contato@ambientelegal.com.br
Obrigado.
O Editor