Moradores transformam lixão em parque ecológico – exemplo mundial de cidadania
Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro
No alto do morro do Vidigal, zona sul do Rio de Janeiro, 16 toneladas de lixo se acumulavam por 25 anos. Onde se encontravam restos de comida, eletrodomésticos, móveis quebrados e até animais mortos.
Foi então que, em 2005, Mauro Quintanilla, morador da favela e músico, teve a ideia de limpar o lixão.
A área degradada era um sítio bucólico nos tempos de infância do músico. A degradação ambiental urbana, a segregação social da comunidade em que morava e a absoluta falta de presença do Poder Público, contribuíram definitivamente para a transformação do antigo sítio em lixão.
Recuperação de àrea degradada e combate à criminalidade
A criminalidade não apenas ocupa os espaços dos morros no Rio de Janeiro, com o tráfico de drogas. A expansão imobiliária e obras civis de infraestrutura ocorrentes à beira mar também propiciam uma atividade clandestina bastante comum nas cidades brasileiras: os bota-foras de entulhos, terras contaminadas e, posteriormente, a disposição irregular de lixo orgânico.
Essa atividade poluente, por óbvio, como tudo aquilo que não interessa à convivência na sociedade legal carioca, subiu o morro e veio se instalar no local admirado por Mauro Quintanilha, que, finalmente, resolveu reagir.
De início, ele contou com o apoio de poucos amigos e teve de superar comentários desanimadores, inclusive da família, duvidando do sucesso do projeto.
A saída que encontrou foi organizar mutirões, atraindo voluntários em verdadeiros eventos multiculturais.
Por seis anos, regularmente, Mauro Quintanilha mobilizou amigos, moradores e simpatizantes da causa, para organizar a área, limpá-la e transformá-la. Nessa tarefa, viu o número de participantes voluntários crescer exponencialmente. Fizeram a limpeza do local e trataram de reflorestá-lo.
Assim, após seis anos de luta, Mauro e seus companheiros de jornada inauguraram o Parque Ecológico, de 8,5 mil metros quadrados. e fundaram o Instituto Sitiê, cujo nome resulta da mescla das palavras “sítio” com “Tiê-Sangue”- pássaro nativo que caracteriza o local.
Inclusão social e Economia
Vários ítens, encontrados no próprio depósito de lixo, foram reciclados e reaproveitados no parque.
O Jardim Botânico do Rio de Janeiro, contribuiu para a doação das primeiras mudas e articulou o apoio de um arquiteto pós-graduado em Harvard para projetar o espaço.
O parque ecológico, hoje, é uma realidade consolidada.
Não é um local “quadradinho”, como costuma ocorrer quando a instalação de um parque ocorre pelas mãos insensíveis de um burocrata ambientalista – seja por conta de uma intervenção do governo, seja por conta de algum Termo de Ajuste de Conduta ou decisão judicial.
A ação foi direta, comandada pela própria comunidade, que se apropriou da área degradada e a reabilitou.
O parque é uma unidade de disseminação de um projeto de democracia e, mais ainda, uma agrofloresta – ou seja, um espaço que não apenas possui árvores e aparelhos de lazer mas, também, produz alimentos.
O título de agrofloresta foi obtido junto à prefeitura do Rio de Janeiro – título recebido em 2012. Este fato permitiu que o projeto ganhasse maior apoio da sociedade.
O parque ecológico oferece atividades de reciclagem, reflorestamento, agricultura urbana, paisagismo, educação e design ambiental. Fomenta práticas sustentáveis de consumo e estimula a atividade das crianças. Com isso, propicia inclusão social e integração familiar através de ações ecológicas em uma zona carente de infraestrutura e lazer.
Ao mesmo tempo, a agrofloresta apresenta importantes resultados econômicos – produziu mais de 700 quilos de verduras, legumes e frutas – doados aos moradores da favela.
Democracia Direta
O projeto desenvolve uma proposta política de Ágora Digital (AD) – um espaço para diálogo e deliberações dos moradores da favela sobre os mais variados assuntos que envolvem a vida em coletivo no Morro do Vidigal.
O projeto se enquadra no conceito de democracia direta. A idéia é proporcionar um empoderamento da comunidade, preparando-a para resolver os seus próprios problemas, sem que seja necessário buscar políticos profissionais ou órgãos governamentais para atender à maior parte das demandas da comunidade.
Exemplo
O Parque Ecológico carrega um projeto de cunho ideológico. Portanto, sua atividade tem a ambição de extrapolar o modelo proposto para além dos limites da favela do Vidigal.
Para tanto, o instituto que gere o parque busca reconhecimento internacional, para além dos diversos prêmios de urbanismo que já andou conquistando no exterior.
Há, assim, uma idéia de autonomia comunitária em curso, cujo desenvolvimento pode levar a modificações no relacionamento das camadas mais pobres da população com o Poder local. A autonomia é uma das três grandes demandas que caracterizam a era dos interesses difusos, que hoje vivemos, ao lado das demandas por qualidade de vida e participação social. Essas três demandas estão presentes no conceito de Democracia Direta gerado no Parque.
Ambientalistas urbanóides – acostumados a obrigar a população a entender parques e praças como locais destinados á contemplação, torcem o nariz. No entanto, o projeto é um sucesso justamente por integrar um projeto de preservação ecológica à realidade local. Isso permitiu a erradicação do lixão e, portanto, da atividade criminosa, bem como previniu a criminalidade, permitindo a participação de crianças, adolescentes e idosos, integrados, na atividade econômica de produzir alimentos.
É um projeto para ser, efetivamente, observado.
Fonte: www.anf.org.br/deposito-de-lixo-vira-parque-ecologico-em-favela-carioca/
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É notória a melhoria do papel dos parques urbanos na melhoria da qualidade de vida, por meio da adequação do ambiente de uma cidade, seja ela onde for.O aspecto da coesão social que ocorre em torno do parque é o fator mais importante em toda esta dis
cussão.Este projeto, sem dúvida alguma é legitimado pela comunidade e observem que esta iniciativa atraiu parcerias de vários tipos.
Acredito que todos nós estamos convencidos que o Anbiente Legal enriquece o convivio de qualquer comunidade principalmente no que diz respeito ao uso público.Um ponto fundamental em toda esta discussão é a pergunta que nasce será que uma comunidade pacificada não poderia necessariamente receber este projeto ao inves de uma GUARITA POLICIAL? Na Criminologia temos embasamento para esta resposta.A Escola de Chicago traz consigo a grande informaação “A cidade submete o indivíduo a estímulos, conduzindo à impessoalidade, à liberdade, ao anonimato e ao distanciamento tanto físico quanto emocional. Assim, a cidade rompe os mecanismos tradicionais de controle dos comportamentos”.