Grande problema ambiental do século pode ser solução para o setor elétrico
Por Vitor Lillo
O Brasil precisa dar uma destinação adequada para as 240 mil toneladas de lixo que a população brasileira produz diariamente. E também necessita de mais energia elétrica para afastar o risco de um novo apagão do setor elétrico, hipótese que esteve próxima de virar realidade no início de 2013. O que muita gente nem suspeita é que um destes problemas pode ser a solução do outro.
Utilizar o lixo como matriz de geração de energia não é algo tão distante da realidade. Países industrializados como Japão, China e Estados Unidos estão na vanguarda dessa tecnologia. A Europa também está na liderança. Na Dinamarca, por exemplo, o lixo que abastece suas usinas é importado de países vizinhos como Suécia e Noruega, além do Reino Unido.
Voltando para terras tupiniquins, não existem usinas termoelétricas semelhantes. A tecnologia é cara e o preço da energia produzida é alto, se comparado às fontes convencionais. Mas já existem alguns projetos pioneiros de menor escala em São Paulo e no Rio de Janeiro e, além disso, Governo Federal e iniciativa privada começam a voltar seus olhos para essa alternativa.
A Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), órgão ligado ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), pretende lançar em julho um estudo de viabilidade da implantação de usinas movidas a lixo. “Por meio do estudo e da colaboração de diversas instâncias envolvidas, estamos adequando esse objetivo à realidade do país e, com isso, tornando-o possível”, declarou o gerente de projetos da ABDI, Miguel Nery, à imprensa.
Queimar ou queimar
Existem dois processos mais utilizados atualmente: a queima direta dos resíduos, o sistema mais utilizado (1.500 usinas termoelétricas queimam o lixo para gerar energia ou calor no mundo atualmente) e a queima do biogás produzido a partir da decomposição da matéria orgânica do lixo que já é utilizado em dois projetos na cidade de São Paulo.
Na queima direta dos resíduos (waste-to-energy em inglês), os resíduos chegam à usina, são separados para reciclagem e o descarte é enviado aos incineradores. O calor da queima do lixo alimenta os motores da usina, gerando energia elétrica. No Brasil existe um protótipo de tecnologia nacional em operação no campus da Universidade Federal do Rio de Janeiro, na Ilha do Fundão, a chamada Usina Verde.
Em carga total essa usina é capaz de produzir energia suficiente para abastecer até 15 mil residências e os restos da incineração podem servir como asfalto para a pavimentação de vias públicas ou pode então voltar aos aterros, ocupando pouco mais de 10% da área que seria ocupada normalmente com os resíduos que são normalmente destinados.
Outro método, a queima do gás do lixo, também chamado de biogás, é uma solução interessante para os inúmeros aterros que existem no país. Nesse processo, uma primeira usina faz a captação de gás do aterro por meio de sucção que em seguida passa por um processo de pré-tratamento que retira toda a umidade do gás, bem como as impurezas, e o direciona à usina termoelétrica para geração de energia.
O Aterro Bandeirantes, situado na região de Perus, zona norte de São Paulo, foi a primeira usina de biogás do país, inaugurada em 2004. A capacidade total de produção da usina é de 24 megawatts por hora, o suficiente para abastecer uma cidade de 300 mil habitantes. Juntamente com a usina do Aterro São João, na zona leste, é responsável por 2% da energia consumida pela maior cidade do Brasil.
“Foi um empreendimento bem interessante, teve retorno do custo da construção e também é registrado pela ONU, por isso recebemos créditos de carbono”, avalia Anderson Alves da Silva, gerente de projetos da Biogás, consórcio de empresas responsável pela usina do Aterro Bandeirantes. Com a desativação do aterro em 2007, a usina pode deixar de gerar energia, mas ainda contribuirá para o meio ambiente.
“Como o gás do aterro tem um percentual alto de metano, um gás que provoca o efeito-estufa e é 25 vezes mais nocivo que o CO², a de sucção vai continuar. Porque essa usina queima o gás de maneira controlada, destruindo 100% do metano”, salienta Anderson.
Energia do futuro?
Segundo levantamento do Ministério do Meio Ambiente, que considerou apenas os 56 maiores aterros do país, o biogás acumulado têm potencial para gerar 311 MW/h o suficiente para abastecer a cidade do Rio de Janeiro, com 5,6 milhões de habitantes. Até 2020 a produção de energia do lixo poderá ser muito maior: 421 MW/h, o suficiente para abastecer quase 8,8 milhões de pessoas, o equivalente à população de Pernambuco.
Apesar das vantagens de resolver a questão do lixo e de se utilizar de uma fonte de energia mais barata e limpa que os combustíveis fósseis, por exemplo, a produção de energia a partir do lixo suscita uma grande polêmica entre ambientalistas por conta da emissão de substâncias cancerígenas contidas na fuligem que seria liberada a partir da queima dos resíduos.
“Fizemos um estudo recentemente, com especialistas da Faculdade de Medicina da USP e calculamos que todas as tecnologias [de queima do lixo para produção de energia] estão abaixo do limite aceitável de risco. A questão da incineração é polêmica, porque muitas pessoas a pensam como era na forma antiga.”, afirma Suani Teixeira Coelho, coordenadora do Centro Nacional de Referência em Biomassa (CENBIO).
Segundo a professora, a questão ambiental acerca da produção de energia a partir de resíduos sólidos “está bastante encaminhada”. “Além da separação prévia do lixo que impede a queima de resíduos com substâncias tóxicas, você tem a tecnologia e regulamentação de controle da emissão de gases nocivos”, sustenta.
Outro empecilho para o desenvolvimento dessa alternativa energética no Brasil está em seu alto custo, que torna o preço da energia produzida nessas usinas pouco competitivo, se comparado às usinas convencionais. Para se ter um exemplo, só a Usina Verde da UFRJ, citada no começo da reportagem, custou R$ 50 milhões para ser construída.
O engenheiro Anderson Silva aponta que a desvalorização dos créditos de carbono por conta da crise financeira esfriou o ânimo dos investidores em projetos de produção de energia do lixo. “Os investidores têm dado uma segurada (sic). O credito chegou a valer 17 euros a tonelada e hoje está na casa dos centavos”, explica.
Para Suani Teixeira, que foi secretária adjunta de Meio Ambiente de São Paulo de 2003 a 2006, faltam incentivos governamentais e que, principalmente, “o mercado leve em conta os impactos ambientais positivos”. “Hoje em dia toda a comercialização de energia é feita na base do menor preço. No caso do lixo, além da geração de energia, existe o adicional social. É preciso que o setor elétrico olhe de forma diferente, não só com regras de mercado”, sustenta.
Em suma, é hora do Brasil “fazer do limão uma limonada”. No estágio atual de implantação da Política Nacional de Resíduos Sólidos, dificilmente a meta de desativar todos os aterros sanitários do país até 2014 será alcançada. A produção de energia através do lixo pode nos ajudar a atingir essa meta, ainda que isso leve mais tempo. Falta o Poder Público e a iniciativa privada agirem com a mesma energia.
O artigo é bom, mas contem uma FALSA alternativa, queimar ou queimar. Na verdade, queimar o lixo, incineração, NÂO é a melhor alternativa. A conversão termoquimica do lixo tem mais eficiencia que a incineração do lixo. A vantagem adicional da conversão termoquimica é que tem emissão ZERO. Incineração é a oxidação completa do lixo para CO2, com restos poluentes. Conversão termoquimica produz gas de síntese que pode ser usado como combustível ou como insumo para a síntese química de novos produtos.
Estimado Dr. Flávio,
concordo plenamente,
Trouxemos esta tecnologia da Europa ha 4 anos,
transformar lixo em gás de Síntese.
Nossa tecnologia está patenteada em 181 países.
mas nosso Brasil ainda com velhos hábitos e protecionismo tem
dificultado a instalação da primeira em território nacional.
já temos instalado este reator em alguns países.
Forte Abraço
Josué Medeiros
Boa matéria amigo, o que precisa é vontade política e responsabilidade social com ética.
Caros colegas.
Não é obrigado desativar aterros sanitários até 2014, ao contrário é obrigatório encerrar os lixões e dispor os resíduos em aterros sanitários, tanto nos existentes, como nos a construir.
A matéria é muito válida. è preciso usar o que for de positivo em paises onde a coisa deu certo. Há anos não se fala em aterros sanoitários em países de 1° mundo. Já passou da hora de mudar a mentalidade dessa nação. Lixo trás doenças, gases tóxicos… efetito estufa e super aquecimento do planeta. Basta dizer que há 10 anos atrás nessa mesma época do ano a temperatura era 10° abaixo do que é hoje. O povo tem que ser mais inteligente e poupar a própria existencia no planeta. Nós produzimos o lixo e criamos no planeta uma bomba relógio, agora é hora de desativar a bomba!
Achei boa essa matéria, vai me ajudar muito com um trabalho.
Muito boa matéria!
Na minha cidade, Carbonita mg estamos instalando uma usina com queima por pirólise. Alguém já viu falar dessa queima e onde deu certo no Brasil?
Favor me responder nesse email : moriahproducoeseeventos@hotmail.com
Obrigado.
Caro Sr. José
Bom dia.
Qual o tamanho do reator de pirólie? É vertical ou horizontal?
Os senhores vão pirolisar plástico, borracha ou lixo urbano?
Qual a previsão de início das operações?
Abraços. Dimas