Por Cristiano Vallejo
Como transformar as discussões sobre o meio ambiente, muitas vezes etéreas, para algo que leve a uma maior percepção de valor sobre o tema?
Em conferência recente sobre inteligência competitiva, uma executiva da indústria de embalagens – empresa multinacional – trouxe pesquisa detalhada sobre valor percebido dos consumidores finais sobre os atributos mais importantes para a diferenciação naquele mercado. A segurança – conteúdo não vazar – ganhou o primeiro lugar. A questão ambiental – embalagem “eco friendly” – ficou em nono.
O quadro se repete em diferentes indústrias de bens de consumo. Automobilística, por exemplo, é uma das que já havia tomado conhecimento, informalmente, sobre os resultados destas pesquisas. O atributo ambiental está sempre flutuando entre o sétimo e décimo lugares. Pontualmente, há algumas alterações: países nórdicos ou produtos muito agressivos. De resto, é regra que segue aqui no Brasil e na maioria do mundo.
Mas, qual o caminho para melhorar a percepção de valor dos atributos ambientais nas relações de consumo? Se a sociedade não percebe o valor, não comprará produtos sustentáveis e, pior ainda, continuará dispondo incorretamente: televisão velha no carroceiro, bituca de cigarro no chão, garrafa plástica na calçada e por aí vai.
Minha sugestão é tratar a questão ambiental cada vez mais sob a ótica da saúde e finanças. O Instituto Saúde e Sustentabilidade publicou estudo detalhado sobre a influência da poluição atmosférica em relação às mortes prematuras e aos custos das internações, que em última análise, são pagos por nós, contribuintes ou consumidores do serviço de saúde.
Contribuir para que uma ONG internacional salve um animal em extinção dá um baita alívio na consciência. Creio, que dentro deste contexto, o mais eficiente seja olharmos para as nossas opções de consumo e constatarmos que já estamos morrendo precocemente em razão de algumas delas, inclusive, com impacto diário nos nossos bolsos. Preservar o meio ambiente com olhos para que as gerações futuras tenham uma melhor qualidade de vida é imprescindível, mas não seria melhor a visão imediata e preservarmos a vida e o dinheiro hoje?
Fica o convite ao pessoal de marketing para que dê suas contribuições aos que militam na área ambiental. Problemas contemporâneos necessitam cada vez mais de soluções interdisciplinares.
Voltamos ao nosso papo em breve.
segundo artigo de uma série do autor
Cristiano Faé Vallejo é Secretário-Executivo do INRE – Instituto Nacional de Resíduos -, professor do Inbrasc – Instituto Brasileiro de Supply Chain – e da Universidade Corporativa Fenabrave.
Mais um bom texto do Cris.