Por Edna Uip
Olhos caídos, boca apertada e amarga.
A mão rápida não ajuda.
Costas doloridas, incomodando.
Cabelo horroroso no rosto.
Coceira no olho, respiração presa.
Dia nublado e cinzento.
Sinto medo. Medo de movimentos, de tantos barulhos.
Vento, folhas balançando, luzes vermelhas.
Catador de sonhos.
Por que se move se acabaram os sonhos?
Cortina balançando, mandalas balançando, aves voando.
Tanta gente… Trabalhando ou passeando?
Correm, correm muito. Sinto medo.
Barulhentos e mais barulhos.
Sons tiram a minha concentração.
Alguns barulhos são estranhos.
Aumentando.
Sirene de ambulância ou do resgate?
Aumentando.
Só penso nos sons.
Avião, computador, carros.
Ônibus, buzinas, motos.
Aumentando.
Audição é muito importante. Sons.
Mais ônibus. Mais sons, mais sons. Sinto medo.
O computador desistiu: diminuiu a luz, apagou. Chega!
Edna Uip, advogada formada pela USP e empresária, está habituada a ver o mundo pelos olhos da razão, sem no entanto, deixar de cultivar atenta observação do comportamento humano e suas emoções. Autora do romance Espelhos Quebrados (Sá Editora, 2010), é escritora, ensaísta e poeta. Colaboradora do Portal Ambiente Legal, publica regularmente na Seção Ambiente Livre.