Por Alfredo Attié Jr.
Onze de Agosto, dia de comemorar o aniversário da Fundação dos Cursos Jurídicos no Brasil (em 1827, por Decreto Imperial). As duas Faculdades, de Olinda e de São Paulo (no Largo São Francisco), deram início à formação de gerações e gerações de bacharéis, que povoaram a vida brasileira com o vocabulário acadêmico e as lendas e histórias de convivência com a vila, a cidade, a metrópole. Coisas boas, no engendramento de várias culturas (algumas até originais, outras coladas nas inovações dos meios universitários estrangeiros).
No dia de hoje, os estudantes aplicavam a “pendura” ou “pindura” (na boa e agradável pronúncia paulistana).
No primeiro ano, nem atingida a maioridade, o primeiro “pindura” levou todo mundo para a delegacia – e a conciliação do delegado, para que tudo terminasse bem, como, de fato, terminou. Todo mundo de volta pra casa e os donos do restaurante conformados com o prejuízo…
Foi um descuido, pela inexperiência, não fizemos o discurso, de agradecimento pela gentil “oferta”, na hora certa.
Depois, cinco anos de novas experiências, de êxito e orgulho acadêmico (aquela ilusão, que só aparece de quando em vez, ainda bem). Resultado da opção pelos “pinduras” diplomáticos.
De fato, havia três tipos de “pindura”. O diplomático (ou sem muitas emoções), em que telefonávamos, reservando mesa e já avisávamos de nosso intento (um grande exercício de retórica e marketing…). Proporcionava a ida a restaurantes excelentes, em pequeníssimos grupos.
Depois, o clássico, em que, após o jantar, restaurante lotado, um dos estudantes erguia-se e fazia um longo discurso de agradecimento pelo “convite” do dono do restaurante, elogiando a qualidade da comida e do serviço, referindo os antigos laços que uniam o estabelecimento à estudantada. Enfim, o pessoal do restaurante, constrangidíssimo, não queria passar vergonha e ficava por isso mesmo.
Finalmente, o menos usual, era o selvagem, em que, terminada a refeição, alguém gritava “-pindura!” e… sebo nas canelas…
O importante era sempre honrar a gorjeta aos garçons – porque “pindura”, afinal, era a “elite” praticando um golpe na “elite”… digamos.
Houve “pinduras” famosos (veja em “Causos”) – alguns verdadeiros, outros mentirosos.
Mas o meu momento já era o crepúsculo das academias e de seu folclore. Hoje, nosso Brasil deve ter algo como a metade das faculdades de
Direito do mundo. E é preciso refletir muito sobre isso (e sobre as “inovações” legislativas, mais preocupadas em resolver problemas oriundos dessa opção, do que, efetivamente, os da sociedade brasileira e internacional).
Ficam as memórias da liberdade.
Alfredo Attié – Magistrado do Tribunal de Justiça de São Paulo, Doutor em Filosofia, Mestre em Direito e em Direito Comparado, Membro do Fórum Global de Justiça e Desenvolvimento, Washington, D.C., Titular da Cadeira San Tiago Dantas da Academia Paulista de Direito.
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