Quais os limites ambientais do crescimento econômico?
Marcus Eduardo de Oliveira (*)
Nos últimos 60 anos, a economia mundial expandiu-se de forma considerável. Em 1950, o PIB mundial era de quase US$ 5 trilhões; em 2000, saltou para US$ 50 trilhões. Nove anos depois, já estava em US$ 70 trilhões. Em 2012, chegou a US$ 71,3 trilhões. Em 1945, os Estados Unidos, concentravam, sozinhos, 50% do PIB mundial; hoje respondem por 1/3 da produção global. Entre 2000 e 2050, a taxa anual de crescimento econômico deverá ficar, na média, em 3,5% ao ano. Nas próximas quatro décadas, a produção global irá crescer quatro vezes mais. Em 2050, muito provavelmente teremos um PIB global próximo a US$ 280 trilhões.
Se a maior economia do planeta – EUA – de um lado, terá seu tamanho econômico global reduzido, como já vem acontecendo, do outro, o resto do mundo continuará pisando firme no acelerador do crescimento, expandindo a produção econômica.
Buscando afirmar todo esse crescimento econômico, a atividade industrial mundial, como já o faz em larga medida, continuará não respeitando os limites da natureza, ultrapassando as fronteiras ecossistêmicas, fazendo adoecer mais ainda o já gravemente enfermo planeta Terra.
Desde as últimas seis décadas, esse crescimento econômico sem limites virou sinônimo de derrubar árvores, queimar florestas, aquecer o planeta, poluir o ar, a água e destruir os principais serviços ecossistêmicos (serviços de manutenção da vida no planeta).
Ao praticar essa depredação ecológica, agredindo a natureza na extração, produção e no consumo final ao descartar resíduos e poluir o planeta, a economia mundial vêm contribuindo para que a qualidade da vida humana se dilua no ar.
Ao agir assim, a atividade econômica, conduzida pelos fiéis defensores do crescimento econômico como “receita” infalível de prosperidade, ignora dois importantes pontos: 1) a finitude da biosfera; e 2) os passivos ambientais decorrentes do rompimento dos limites impostos pela natureza.
Contudo, como o mercado pressiona (e continuará pressionando) por mais e mais crescimento econômico, por níveis de produção cada vez mais expansivos, pouca importância darão os “administradores econômicos” aos estragos ocasionados sobre o capital natural.
Com isso, confrontar-se-á ainda mais a “necessidade” de crescimento econômico versus a capacidade de suporte da Terra.
Assim, se intensificará a agressão ecológica, agravando mais ainda a debilitada saúde do planeta Terra.
Para conturbar um pouco mais esse candente confronto, todo dia chega mais gente ao mundo, aumentando a pressão sobre a natureza. A cada novo dia, 220 mil crianças nascem no mundo. Ao ano, são mais de 80 milhões de novos habitantes num planeta que não aumentará de tamanho. Em 2050, dividiremos o mundo (o mesmo espaço físico de sempre) com 9,5 bilhões de pessoas, aumentando consideravelmente a pressão por mais produtos, desequilibrando mais ainda o meio ecológico, provocando mais desigualdades socioeconômicas.
Atualmente, 20% da população mais rica do mundo utilizam ¾ dos recursos naturais, abocanhando 80% de toda a produção global, enquanto 1 bilhão de pessoas (14% da população mundial) dormem todas as noites com as bocas esfaimadas e os estômagos vazios.
Nesse conflito, os recursos naturais se exaurem, o planeta adoece e a vida se degrada.
A agressão sobre o meio ambiente e os serviços ecossistêmicos é intensa. Os oceanos – o maior dos ecossistemas – em 2048, segundo a FAO/ONU, não nos fornecerão mais alimentos, dada à taxa de extração exagerada que vem sofrendo. Vinte e cinco por cento dos solos do planeta estão hoje degradados e a tendência é que isso aumente ainda mais nos próximos anos.
Não obstante, a economia continuará sua sanha exploratória por mais produção, queimando petróleo, gás e carvão, derrubando e queimando florestas, contribuindo assim para o aquecimento global (efeito estufa) que tenderá a se tornar mais insuportável.
Isso tudo resulta numa agressão sem limites imposta pela atividade econômica sobre a base dos recursos naturais. Se isso tem um nome apropriado, certamente chama-se desastre ecológico! A culpa? Grande parte dela, como deixamos claro, pode ser creditada na conta da atividade econômica.
De uma vez por todas, é importante reiterar que o mundo não precisa de mais PRODUÇÃO; precisa, sim, de mais PROTEÇÃO.
(*) Economista e professor, com mestrado pela USP.