Na região da bacia do Xingu a expansão do agronegócio tem causado sérios impactos na vida de agricultores e indígenas. Uma das consequências mais graves são as mudanças ambientais que impactam todas as formas de subsistência local. O documentário acompanha a rotina dos jovens Anderson, Milene, Oreme e Tawa que desvendam como a vida de suas famílias e de suas comunidades têm sido afetadas e o trabalho que se tem feito na tentativa de minimizar os efeitos dessas mudanças.
Premiado como melhor fotografia e selecionado para festivais, o minidocumentário Antes da Chuva, que aborda como jovens coletores de sementes da região do Xingu e Araguaia percebem as consequências das mudanças climáticas na lida do dia a dia, está disponível no YouTube, Vimeo e na plataforma Videocamp
Durante 20 minutos, jovens indígenas e assentados da agricultura familiar narram as dificuldades que precisam driblar para continuar a coletar sementes, fonte de renda e essencial na conservação e restauração dos recursos naturais. O grupo foi acompanhado por um ano, em 2016, quando participou do curso Sementes Socioambientais, promovido pela Rede de Sementes do Xingu. Daí também resultou o livro O que será de nossas sementes?, Pesquisa intercultural sobre as mudanças climáticas no Xingu-Araguaia, publicado em 2017.
Entre os impactos do agronegócio sobre os cerrados e florestas da região, está a intensificação de mudanças ambientais. O jovem Oreme Ikpeng, da aldeia Moygu, no Território Indígena do Xingu, conta que se não trabalhasse com sementes não saberia o que são as mudanças climáticas. Ele é o elo em sua aldeia, como é chamado o responsável pela articulação de organização de atividades do núcleo que realiza a coleta.
Dona Vera, mãe da jovem coletora Milene Alves, de Nova Xavantina (MT), relata que as margens do rio onde a água alcançava um metro de altura, agora estão secas. A água recuou. “A gente não entendeu o que aconteceu aqui”, conta. Milene, que a partir da coleta de sementes decidiu cursar biologia na Universidade Estadual do Mato Grosso (Unemat), explica que antes as sementes da espécie landi (Calophyllum brasiliense) caíam na água, boiavam e eram coletadas. Com o recuo das águas, agora elas caem direto na terra, perdem água e qualidade.
Outro exemplo das alterações que essa região enfrenta é dado por Tawa, que também é elo. Ele conta que os caititus não encontram mais alimentos na mata e por isso invadem as roças e plantações em busca de comida, destruindo o que encontram pela frente. Em sua opinião isso se dá pelo desmatamento intensificado pelas grandes plantações de monocultura e aumento da pecuária no entorno do Território Indígena do Xingu. Os sinais que a natureza dava também estão falhando. “A gente seguia os sinais, mas não é mais como era”, conta Oreme.
O jovem Anderson Barbosa, do Assentamento Bordolândia, em São José do Xingu, relata que o veneno que é jogado nas plantações de soja das fazendas que ficam no limite do assentamento, contaminam a água do rio. “O avião passava e dias depois as plantas murchavam”, diz. A princípio acharam que podia ser cupim, mas depois perceberam que era o veneno das plantações levado pelo vento.
O documentário em curta-metragem foi premiado como melhor fotografia no Festival dos Sertões e selecionado para mostras no Cinecipó – Festival do Filme Insurgente e VI Congresso Latino-americano de Agroecologia.
Assista abaixo:
Sobre a Associação Rede de Sementes do Xingu
A Associação Rede de Sementes do Xingu é uma rede de trocas e encomendas de sementes de árvores e outras plantas nativas das regiões do Xingu, Araguaia e Teles Pires. Com dez anos de existência, já foram viabilizados a recuperação de mais de 5 mil hectares de áreas degradadas na região da Bacia do Rio Xingu e Araguaia e outras regiões de Cerrado e Amazônia. Foram utilizadas 201 toneladas de sementes de mais de 220 espécies nativas. As sementes são coletadas e beneficiadas por 600 coletores, gerando uma renda de R$ 4,2 milhões repassadas diretamente para as comunidades. A iniciativa se consolidou como a maior rede de comercialização de sementes nativas do Brasil. (http://sementesdoxingu.org.br)
Sobre o Videocamp
A plataforma online Videocamp reúne filmes considerados de impacto – que apontam causas urgentes, que retratam situações que precisam ser destacadas, que ampliam o olhar para temas sensíveis e que, sobretudo, promovem um mundo mais justo, solidário, sustentável e plural. Estão disponíveis para exibições públicas gratuitas e procuram alcançar o maior número possível de pessoas. (https://www.videocamp.com/pt)
Fonte: Instituto Socioambiental