Da Redação*
Desde a chegada dos portugueses no Brasil, com as grandes navegações, para conquista de novos territórios, inúmeras embarcações desapareceram misteriosamente ao navegarem nas proximidades do litoral do estado do Maranhão. O mistério permaneceu por muitos anos, já que não havia sobreviventes para contar que fim tiveram aquelas embarcações. Das antigas caravelas portuguesas a navios cargueiros e transatlânticos, mais de duzentas embarcações sumiram ali, levando a região a ser chamada de Triângulo das Bermudas brasileiro, em referência ao trecho do oceano Atlântico também famoso pelo desaparecimento de barcos e aviões.
Com o tempo, descobriu-se que havia naquela parte do litoral uma estranha formação rochosa bem abaixo da superfície. Associada aos fortes ventos e correntes marinhas da região, esta era uma armadilha perfeita para os marinheiros desavisados. Hoje, além de ser um dos maiores cemitérios de navios do mundo, o local abriga também o Parque Estadual Marinho do Parcel de Manuel Luís.
Os navegadores chamam de “parcel” os bancos de areia ou rochedos próximos à superfície do mar. O parcel de Manuel Luís – batizado em homenagem a um antigo pescador que o descobriu – é uma formação rochosa natural, sobre a qual crescem corais e algas calcárias. O acúmulo desses organismos mortos ao longo de milhares de anos levou a formação de torres maciças (“cabeços”), cujas pontas podem chegar até a superfície, constituindo um enorme perigo aos navegantes desavisados.
Mas o que tudo isso tem a ver com um parque para preservação ambiental? É que o parcel de Manuel Luís tem uma enorme importância para a biodiversidade marinha. Ele constitui o maior banco de corais da América do Sul e serve como ligação para a fauna marinha entre o litoral brasileiro e as ilhas do Caribe. Em meio às suas formações rochosas e os restos das embarcações afundadas vivem cerca de 140 espécies de peixes. Entre eles, estão peixes-papagaios, peixes-morcegos, garoupas, barracudas e cirurgiões. Entre os maiores e mais ameaçados habitantes do local estão meros e tubarões-dos-recifes.
Além dos peixes, há também uma enorme diversidade de invertebrados. São cerca de 15 espécies de corais, sendo algumas exclusivas do litoral brasileiro e uma delas, o coral-de-fogo Millepora laboreli, endêmica do parcel de Manuel Luís. Completando a rica diversidade local, há ainda muitos moluscos, esponjas, crustáceos e algas.
Atualmente a localização do parcel de Manuel Luís encontra-se bem informada nas cartas náuticas – o equivalente marítimo dos mapas terrestres – e nenhum naufrágio é registrado na região há mais de 30 anos. Uma ótima notícia para os navegadores e também para as criaturas marinhas, que podem viver tranquilas no mais antigo parque estadual marinho do Brasil.
*Fonte: Ciência Hoje das Crianças