Tudo isso que estamos passando é um aprendizado – para transformar incertezas em ativos
Por Paulo Gianolla*
Entramos na década com muitas expectativas e previsões de transformação, mal iniciou e já se mostrou muito mais transformadora que qualquer estimativa.
Em estudos de futuros, eventos como este pelo qual estamos passando, são chamados de ‘Cisne Negro’; são aqueles eventos raros e imprevistos que surgem de maneira muito rápida e com grandes efeitos e impactos em todas as esferas: econômicas, políticas, sociais e culturais etc. e que muda tudo como conhecemos, não só localmente, mas globalmente. Esses eventos geram muitas reflexões e mudanças significativas. O que antes não era considerado consenso geral ou simplesmente desprezado passa a ser dominante, e quando vemos, já foi.
Apesar de escutarmos desde os anos 80 o termo globalização, nunca ficou tão claro como nos últimos dias, como uma província a 17.964 km – distância entre a capital Wuhan até São Paulo – da qual provavelmente você nunca tinha tomado conhecimento, passa a ser o quintal da sua casa, e que os meios de transporte modernos, inimagináveis, até pouco tempo atrás – o primeiro voo comercial foi realizado em 1910 numa viagem de uma hora que percorreu a distância de 100 km em incríveis 97 km/h, e hoje quase que como teletransportes, levam qualquer pessoa de um lado do mundo literalmente para o outro lado em menos de um dia. Assim como uma mensagem ou notícias demoravam dias, ou até meses para chegar, hoje você pode se tornar motivo e a própria notícia mesmo sem saber ou sequer ter saído do seu quarteirão.
Tudo está conectado… Quantas vezes já ouvimos essa frase, já desgastada virou chavão, mas ainda não foi compreendida.
Inicialmente a década tinha previsões como chegar em 2030 com menos comércio entre países e consequente queda do PIB mundial, causada pelas novas tecnologias emergentes e processos de fabricação aditivos como 3D, produção local sob demanda com o fim dos silos de armazenamento, diminuição do deslocamento de pessoas, no transporte internacional, de massas urbanas entre outros.
Alguns desses indicativos apontados por prospectiva, métodos já mapeados nas três classes de futuros: possíveis, prováveis e preferíveis, sofreram mudanças e devem ser revisitados.
Alguns atrasarão um pouco, como o já identificado com a implantação do 5G, onde a paralisação deve causar um atraso de um ano e meio inicialmente, porém, outras devem ser aceleradas ainda mais como RV e RA, realidade virtual e aumentada, influenciado diretamente no teletrabalho, revisão na cadeia produtiva com mudança estrutural na forma e relações de trabalho, telemedicina e uso de agentes digitais (nossos clones ou ‘dobras’) e ambientes virtuais para consumo e negócios de todos os segmentos.
O que mudou com esse evento Cisne Negro? Na verdade apenas a velocidade de implantação, agora vertiginosa, o chamado novo normal. É como se nos acostumássemos e adaptássemos às inconstantes mudanças de altitude no trajeto de uma montanha russa sem se importar com o mal estar que ela proporciona.
O conceito de exponencial que é difícil de ser assimilado por nosso cérebro, foi tão exposto que ficou bem claro conforme passavam os dias de contaminação. Como os sistemas mais perfeitos são os mais naturais possíveis, os que imitam a natureza com sua aparente calma e coordenação com seus ciclos, tudo está interligado, e nós não estamos alheios a esse sistema, ninguém está. Assim como nosso sistema imunológico que funciona sem percebermos, estamos todos nesse ecossistema, agora interligados com outros sistemas, os artificiais, computadores e redes, potencializando tudo, seja para o bem ou tanto como para o mal.
A adoção de tecnologia se é mais cedo ou mais tarde, tanto faz, porque não é a tecnologia que está em questão, e sim questões éticas, morais e culturais, são essencialmente humanas.
Vivemos um tempo de transição, disso já sabíamos, os sistemas antigos estão morrendo e os novos sistemas ainda não emergiram totalmente. Porém, o ser humano tem essa tendência na preservação e manutenção daquilo que já conhece, lutando a todo custo ao cenário novo; porque não o compreendemos ou nos sentimos ameaçados e quanto mais tempo de luta contra tentando preservar, mais demora em buscar respostas de superação.
Já não é uma questão de querer ou não querer; a disrupção virá para todos, em maior ou menor impacto e resistência, mas virá, e já começou. Está é apenas a primeira onda de mudança que impactará você e o seu negócio e todos serão envolvidos na mudança, e a primeira mudança é em nós mesmos, a mudança interior.
Vimos reações, bipolares, como tudo em nossos dias, os que acolheram, os que rejeitaram e pensaram só em si, assim como a união e reposta rápida da ciência e a busca por compartilhamento de informações e soluções rápidas, exponencialmente rápidas também.
A era agora é da acumulação, mas não de retenção de bens e sim retenção de conhecimento e compartilhamento deste conhecimento, com líder sinárquico, o mais preparado, orientado para servir e organizações com mentalidade de fins lucrativos para meios lucrativos.
Acredito que de tudo isso que estamos passando, muito aprendizado e efetivas mudanças teremos, através da nossa capacidade de transformar a incerteza, de uma inimiga em um ativo, e na comunidade (a comum unidade) onde a lei que regerá a célula individual, regulará também a coletividade.
Future-se!
*Paulo Gianolla é Designer e Consultor. Atua na implementação do Design como Estratégia e Cultura de Inovação para a Liderança Exponencial e Empreendedorismo. Pesquisador de futuros, neurociências, cognição, aprendizado e processos criativos, métodos híbridos de AI (Inteligência Artificial ou Aumentada) e implantação de IoT (Internet das Coisas).
Fonte: The Eagle View
Publicação Ambiente Legal, 19/05/2020
Edição: Ana A. Alencar