Poemas de Edna Uip
NÃO CHEGAR
Apropriar-se de si, dar-se permissão
Buscar a vista por detrás dos olhos
Encontrar o proibido
Chegar ao escuro, chafurdar-se nele
Empurrar para cima, mostrar o ar
Insistir
Pedaços a mais
Deixar o tempo, agarrar-se à lótus
Ultrapassar o denso
Estar certo da nuvem
Escorrer, vogar
Sentir, submeter-se
Delicadeza enfim
Cai por terra o caminho
Tanto desejo!
Esvai-se
Edna Uip
Andar pelo deserto pode ser sem fim, a menos que se encontre um pequeno lago.
Mergulhar no lago pode representar a paz dos sentidos. Ou pode representar água negra, densa, inexpugnável.
Nadar em todas as direções, para cima e para baixo, leste, noroeste, sul, norte e mais, pode mostrar algo. Ou nada.
Sair do lago é retorno ao sem fim.
Voltar ao lago é negrume.
Buscar incansavelmente pode resultar em uma fresta.
Para lá da fresta pode existir luz, brilho, tudo.
Ultrapassar a fresta pode ser desejo.
Viver para lá, só com permissão.
Angústia de não ir, o certo.
Chorar a incompreensão, necessário.
Entender a inaptidão, inevitável.
Estar incluído, trabalho.
Preferir estar alheio, talvez dádiva.
Chorar a incerteza…
Edna Uip
Edna Uip, advogada formada pela USP e empresária, está habituada a ver o mundo pelos olhos da razão, sem no entanto, deixar de cultivar atenta observação do comportamento humano e suas emoções. Autora do romance Espelhos Quebrados (Sá Editora, 2010), é escritora, ensaísta e poeta. Colaboradora do Portal Ambiente Legal, publica regularmente na Seção Ambiente Livre.