Por Gerson Neto*
O mercado imobiliário quer ganhar dinheiro. Para isso, nossas cidades terão que ser vazias, perigosas e problemáticas. O CODESE defende que é parte da cultura do goiano fazer poupança comprando lotes vazios para investir e que este investimento é seguro e rentável. Será verdade? Será saudável? Esse é um dos principais debates para a reformulação dos planos diretores que estão sendo feitos em muitas cidades goianas, especialmente na capital, Goiânia.
Uma cidade compacta gasta menos iluminação pública, manutenção de asfalto, sinalização, o policiamento fica mais efetivo, a limpeza urbana fica mais eficiente e barata, com menos presença de vetores de doenças como aedes aegypti, ratos, cobras e escorpiões. Além disso, os deslocamentos para o trabalho ficam mais curtos e seguros porque os lotes baldios servem de esconderijo de marginais e o transporte coletivo mais rápido e barato. Quem paga pela infraestrutura deficiente é a população como um todo, mas as piores consequências sobram sempre para os mais pobres.
Outro aspecto importante é que segundo o IBGE a população do Brasil como um todo está diminuindo, nasce menos gente do que morre. Em algumas cidades pequenas essa diminuição já causa problemas de incerteza em relação ao futuro. Nas grandes cidades a população está parando de crescer, e começará a diminuir dentro de 20 anos. Se as pessoas compram lotes para investir, vão vende-los pra quem no futuro? A longo prazo quem investir em lotes terá prejuízo. Mas o prejuízo maior ficará para as nossas cidades, por serão legados problemas difíceis de contornar.
Uma cidade saudável e desenvolvida é aquela que cresce com planejamento, uso racional de seus espaços e adensamento médio e calculado. Lote vazio não é desenvolvimento, é condenação ao atraso. Quando loteamos as áreas próximas a cidade de forma descontrolada transformamos terrenos que deviam estar produzindo alimentos para a cidade em lotes improdutivos e perigosos.
Enquanto isso, quase todas as cidades, especialmente as goianas, estão aumentando seu perímetro e abrindo novos loteamentos. É injustificável a irresponsabilidade desses prefeitos e empresários do ramo imobiliário. Eles estão destruindo o futuro das cidades e das pessoas que moram nelas.
*Gerson Neto, presidente da ARCA – Associação para Recuperação e Conservação do Ambiente