Já que os partidos “tornaram-se empresas”, que tal assumirem os fundamentos de uma empresa e resgatarem sua funcionalidade política?
Por Prof. Antonio Luiz de Carvalho
As instituições políticas brasileiras passam por uma crise de confiança no país como nunca antes. É o que mostra o Índice de Confiança Social (ICS), realizado pelo IBOPE Inteligência. Segundo a pesquisa, que mede a confiança dos brasileiros em 18 instituições e quatro grupos sociais, Partidos Políticos, Congresso Nacional, Presidente da República, Governo Federal.
Em uma escala que vai de 0 a 100, sendo 100 o índice máximo de confiança, os Partidos Políticos mantêm a última colocação do ranking, com 17 pontos, praticamente metade do índice que obtiveram em 2010 (33 pontos) e 13 pontos a menos do que no ano passado.
A crise que se instaurou no Congresso Nacional brasileiro nos últimos meses vem comprovar aquilo que muitos já vinham alertando, ou seja, o sistema partidário e eleitoral brasileiro está deteriorado, refletindo suas enormes distorções e imperfeições na forma de crises cíclicas que colocam, cada vez mais, a imagem do Parlamento num patamar de grande descrédito perante a opinião pública. Os partidos políticos, por sua vez, demonstram não representar os verdadeiros interesses em jogo no interior da sociedade brasileira e precisam ser reformados com urgência.
A reforma política é uma necessidade, pois não é possível um país ter 35 partidos políticos homologados e outras dezenas em processo de formação. Em poucos anos teremos mais de 50 partidos e se continuar esta tendência, em uma década poderemos ter perto de 100 partidos políticos.
Na verdade, o partido político no Brasil atua como uma empresa privada, na maioria das vezes com “ideologia emprestada” e o único objetivo de seus donos/fundadores é obter poder e ganhar dinheiro.
Entretanto, muito mais importante do que a reforma política é a reestruturação interna dos partidos políticos com o objetivo de eliminar as “laranjas podres” que existem em seus quadros.
O indivíduo que tem várias acusações de crimes de corrupção ou de envolvimento direto ou indireto em crimes de corrupção, mesmo que ainda não tenha sido condenado, deve ser “colocado de lado” até que todas as acusações sejam esclarecidas e que não fique nenhuma dúvida da sua inocência. Quem for condenado deve ser expulso do partido.
O problema interno nos partidos políticos é a “carreira” dos “elementos sem caráter”, que grudam no partido como carrapatos e são difíceis de serem removidos. Estes elementos, na maioria de nível social baixo ou no máximo médio, geralmente desempregados e vivendo de “bicos”, quando procuram o partido usam da bajulação a quem detém um cargo elevado na organização, de preferência o cargo máximo na sua região. Sempre afirmam que são capazes de trazer milhares de votos – são muito bons em convencer as pessoas, bons oradores e se esforçam ao máximo para mostrar a sua capacidade de trabalho. Porém, o único objetivo destes elementos é tirar proveito próprio da política sem nenhuma preocupação com a ética ou moral. Enriquecer explorando candidatos inexperientes ou fazendo falcatruas quando eleitos ou nomeados a um cargo público é o sonho deles. Alguns destes elementos “fazem carreira” dentro do partido e podem conseguir nomeações a cargos elevados ou serem eleitos para cargos legislativos ou executivos. Uma vez com o poder na mão, partem para o enriquecimento ilícito.
Se enquadrando na descrição acima, hoje, temos ministros, deputados, senadores, prefeitos, governadores, etc., acusados e eventualmente condenados pela Lava-jato e seus desdobramentos.
Exemplo de carreirismo e ascenção é a do ex-governador do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho, atualmente com várias condenações, que antes de entrar na política era um locutor humilde em uma pequena rádio na sua cidade – Campos dos Goytacazes…
Esse tipo de “ascensão” carreirista precisa ser evitada apondo-se filtros de avaliação objetiva da qualidade dos quadros, tais como os existentes em qualquer grande empresa moderna. Não é infalível mas funciona na maior parte das vezes.
Assumindo-se que o partido é de fato uma empresa – que então adote objetivo lícito e finalidade social justa, utilizando fundamentos compatíveis para o cumprimento de sua função.
A “modernização” do partido, assim, deve importar reestruturação operacional, estabelecendo organogramas modernos e objetivos claros, visando prestar serviço à sociedade e eleger representantes, em todos os níveis de governo, atender ao seu objetivo ideológico de poder e produzir bem-estar e progresso ao povo.
O partido também deve se atualizar e divulgar os seus conceitos de:
- Missão
- Visão
- Valores
- Objetivos
- Metas
Precisa também montar uma campanha para atrair bons elementos de bons princípios e preferencialmente de elevado nível cultural. Usar os institutos partidários para organização de cursos preparatórios, de aperfeiçoamento, organismos de pesquisa e formulação de políticas públicas, seminários e fóruns de debates – instrumentos de depuração e seleção dos bons quadros.
Numa democracia moderna, no século XXI, não há mais espaço para hipocrisia – o partido político deve se tornar um berço de quadros pensantes, pouco importando sua origem social. O que não pode é uma organização de quadros desprezar a inteligência, efetividade operacional, postura moral e o discernimento como critérios de carreira.
Somente quando cidadãos de ilibada reputação, eficazes e competentes, assumirem os postos partidários e os cargos públicos, em todos os níveis, é que teremos uma redução ou até eliminação da corrupção no Brasil e, como resultado final, o progresso do país.
Prof. Antonio Luiz de Carvalho, Mestre em Administração de Empresas pela EAESP-FGV e engenheiro pela Escola Politécnica da USP, com muitos anos de experiência como presidente ou diretor de empresas nacionais e multinacionais e também em consultoria empresarial, trabalhando na FGV Projetos – EAESP-FGV e FIPE – Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas – USP.