Marina Silva fala dos desafios do desenvolvimento sustentável e de sua vida durante evento em São Paulo
Por Vitor Lillo
“Eu sempre brinco que tenho quatro qualidades que me fazem falar pouco: sou mulher, sou professora, sou política e sou latino-americana”. Foi assim que Marina Silva abriu sua fala – e de certa maneira se apresentou – durante painel no Fórum Panrotas, realizado nesta terça-feira (19), em São Paulo.
Diante de um auditório lotado, formado por políticos e profissionais do setor de turismo do Brasil e do exterior, Marina falou improvisadamente sobre os desafios do desenvolvimento sustentável com a propriedade de quem não tem formação acadêmica, mas uma “experiência vivencial” do tema.
A ex-senadora e atual presidente do partido ‘Rede Sustentabilidade’ afirmou que o mundo vive uma “crise civilizacional”, fruto das crises econômica, social, ambiental, política e de valores. “Não é fácil enfrentar uma situação como essa. A gente não tem acervo e nem repertório para isso”.
Diante desse grande desafio para a humanidade, Marina não vê razões para desânimo. “Quando as pessoas me perguntam se sou pessimista ou otimista, eu digo que nem otimista nem pessimista, mas tão somente persistente. Eu consigo perceber que paralelo a essa estagnação, há um florescimento com novas oportunidades”, declarou.
Um sinal desse florescimento, segundo a ambientalista, estaria no fato de estarmos “começando a fazer um deslocamento das formas tradicionais de nos sentirmos prósperos para outra visão de progresso, de bem estar”. Ainda falta, porém, “enxergar sustentabilidade não como uma maneira de fazer, mas como um modo de ser”.
Ou seja, ser sustentável não se restringe fazer da preservação ambiental um fator de desenvolvimento econômico; distribuir os recursos ambientais de forma igual para todos e com sabedoria; respeitar a preservar a diversidade cultural, e entendê-la como vantagem; e, nem somente a incentivar a participação popular na política. É fundamental mudar a nossa relação com o futuro.
“Gosto muito da frase do Jean-Paul Sartre que diz: ‘nós não somos o resultado e o produto daquilo que o passado fez conosco, somos o resultado e o produto daquilo que fazemos com o passado’. Se o nosso passado nos trouxe até aqui com ganhos e problemas, vamos transformar esses ganhos, vamos dar novo significado àquilo que foi negativo e vamos criar novas coisas”, sustentou Marina Silva.
Acreditar e criar
Ao final da palestra foi realizado um bate-papo com a editora da revista Cláudia, Patrícia Zaidan, e o vice-presidente do Grupo Alatur, Ricardo Ferreira. Marina lembrou uma frase que disse recentemente: “a gente não deveria ser pragmático, tem que ser sonhático. Se eu não fosse assim não estaria aqui”, lembrou.
Quando perguntaram à ex-ministra de onde veio a força e determinação para superar a pobreza e as doenças da infância no interior do Acre para se transformar em uma celebridade política e da causa ambiental no mundo, respondeu: “Sou de uma família de mulheres muito fortes, as matriarcas mandavam em tudo”.
Marina ainda lembrou a primeira vez que se deu conta do que era preconceito racial: “Antes de chegar à cidade eu não sabia o que era preconceito, porque a gente vivia numa comunidade muito isolada e minha mãe, que era branca, era muito apaixonada pelo meu pai que era negro”.
Além das mulheres fortes da família e dos obstáculos que superou, outra grande inspiração de Marina Silva foi o líder seringueiro e ativista ambiental Chico Mendes (1944-1988), que conheceu ainda jovem. Ela o definiu em uma simples frase: “Ele tinha uma sabedoria e uma visão antecipada do mundo”.