IPHAN, Geddel, Calero e Temer… Que confusão.
Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro
Em casa onde falta pão, todo mundo grita e ninguém tem razão!
Esse ditado popular se aplica ao episódio lamentável envolvendo os ex ministros de governo e cultura, o IPHAN e o Presidente da República.
A crise de pão é óbvia. Não há mais dinheiro.
O governo sofre enorme pressão da alta burocracia e da jusburocracia, pois não há outra saída para as finanças públicas que não cortar as benesses e frear a sanha por altos salários e insuportáveis privilégios dessa casta de funcionários.
Por outro lado, o fio da meada encontrado na Operação Lava-Jato está levando praticamente toda a liderança política do país para os autos dos processos criminais a cargo do juiz Sérgio Moro. Isso também é fator da enorme pressão provocada por aliados, cada dia mais assustados, e pela oposição que, ao que tudo indica, irá se organizar na prisão…
Não bastasse isso, é patente que o governo Temer sofre de absoluta anencefalia e está pendurado em uma composição ministerial absolutamente sofrível.
Nesse estado de coisas… ganhar no grito parece ser boa alternativa…
Assim, não é surpresa alguns ministros se darem ao trabalho de gerar crises como a atual, extemporânea e calcada em assuntos minúsculos.
Nesse diapasão, foi que o “probleminha” imobiliário do Ministro Geddel com o Instituto de Proteção do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, começou por ferir suscetibilidades do Ministro da Cultura e acabou envolvendo o próprio Presidente da República.
Efetivamente, ninguém tem razão nessa crise sem razão, e as conclusões são óbvias, senão vejamos:
1- Empreendedores do projeto incorporado condomínio-edifício La Vue, foram muito mal assessorados. É patente a subjetividade contida no parecer do IPHAN. Afinal, “sombra” não é critério de interferência, mormente quando o órgão não veta o edifício e fica palpitando sobre a quantidade de andares…
2-Os políticos do governo não aprenderam nada. Continuam reduzindo as relações de Estado à troca de favores pessoais e praticando advocacia administrativa. Impressionante como não conseguem extrair lições positivas dos episódios recentes da história.
3- O tal ex-ministro da cultura (tudo em minúsculo), Marcelo Calero, foi, para dizer o mínimo, leviano. Deveria ter saído de cabeça erguida e pela porta da frente, ao não concordar com a ingerência de outro ministro em sua esfera de atribuições, mormente para tratar de assunto particular. No entanto, ao invés de pisar no chão firme, enfiou o pé “na jaca”. Insinuou ter gravações obtidas em reuniões com o presidente da República – fato passível de constituir transgressão à Lei de Segurança Nacional – para em seguida desmentir. Saiu atirando e desaprendeu diplomacia. Não serve nem para dedo-duro de promotor…
4- O ex-Ministro Geddel, o atabalhoado autor das ingerências indevidas, é figura que já foi tarde…
5- O Presidente Temer, pelo visto, está sozinho… e mal acompanhado.
6- A grita da oposição é patética. Petistas são verdadeiros rasgados, falando de rotos…
Patente, portanto, que o imbróglio está alguns graus acima da temperatura que deveria causar, e a entrevista coletiva presidencial, em pleno domingo, só piorou o estado de coisas.
Não há como negar. O governo Temer é consequência direta, guarda vários vícios e está umbilicalmente ligado à história do lulopetismo. É até aqui “a melhor parte” do governo Dilma.
Porém… o que seria a melhor parte… da pior parte?
Necessário reconhecer: trata-se de uma crise de transição em uma transição em crise.
Portanto, está na hora do Presidente rever não apenas seu ministério, mas, também, sua assessoria de mídia e comunicação social.
Antonio Fernando Pinheiro Pedro é advogado(USP), sócio-diretor do escritório Pinheiro Pedro Advogados. Consultor ambiental, e jornalista. , é Editor-Chefe do Portal Ambiente Legal, Editor da Revista Eletrônica DAZIBAO e editor do Blog The Eagle View.
Entendo seus argumentos, Dr. Pedro, mas se o Calero saísse como sugerido por você de cabeça erguida, indignado com a ingerência em sua pasta, e denunciasse numa carta, a bem do interesse público, as pressões que sofreu, inclusive do próprio Presidente – que se imiscuiu num assunto de interesse pessoal de seu amigão Geddel, e tomou lamentavelmente partido a seu favor – haveria ato contínuo um movimento contrário fortíssimo de fritura e de difamação contra ele – com mentiras, mentiras e mais mentiras sobre seu caráter. E em quem todo mundo iria acreditar? Em Calero? Nada disso, Calero seria o verme, e os medalhões seguiriam reinando na Podre Dinamarca. Calero, uma vez decidido a denunciar entendendo que estava fazendo um bem à Nação, foi praticamente obrigado a gravar as conversas. Se não fizesse isso, não poderia denunciar. Conheço bem esse jogo de fritura dos que são acusados de “não ter jogo de cintura”. Conheço meu gado (ou, meus porcos).