2022 é o ano para colocar a mão na massa, com ambição, planos e ações concretas voltadas à proteção do meio ambiente
Por Malu Ribeiro* e Luis Fernando Guedes Pinto**
Fortes chuvas são um fenômeno natural nesta época do ano na região da Mata Atlântica, onde vive a maior parte da nossa população. Já as enchentes, mortes e prejuízos não podem se tornar comuns, embora seja tragédias já anunciadas. Elas são resultados do desmatamento e da ocupação desordenada do nosso país.
A destruição ambiental gera um efeito bumerangue, que costuma afetar mais fortemente as populações mais pobres e vulneráveis. Isso tem se tornado mais intenso e frequente e será ainda mais grave devido às mudanças climáticas. Se a questão climática já vinha sendo compreendida, 2021 foi fundamental para entendermos a urgência de ação imediata, 2022 é o ano para colocar a mão na massa, com ambição, planos e ações concretas voltadas à proteção do meio ambiente.
Recordando que muitos países, governos estaduais, municípios e empresas firmaram compromissos com a agenda climática para alcançar a neutralidade das emissões de gases de efeito estufa, no máximo, até 2050. Mas as metas somente serão alcançadas se os trabalhos se iniciarem imediatamente, independente de eleições, Copa do Mundo e pandemia. As promessas estabelecidas em 2021 não podem ser tratadas como aquelas de fim de ano, como fazer dietas, que não costumam durar até o carnaval. Elas vão de fato determinar o nosso futuro.
Cabe às empresas transformarem os seus compromissos voluntários em ações concretas de redução de emissões e compensações complementares, se necessário, nos seus negócios e nas suas cadeias produtivas de maneira transparente e com robustez para comprovar que estão de fato contribuindo para conter o desmatamento, recuperar florestas e rios e reduzir a pressão sobre os recursos naturais na direção de um planeta neutro. Há desconfiança de consumidores e investidores se estes compromissos empresariais de fato colaboram para o clima e, assim, sofrerão escrutínio cada vez maior da sociedade.
Há uma grande expectativa de que governos estaduais e municípios possam fazer a diferença localmente. Para isso, é essencial que os planos existentes, muitos deles apresentados na Conferência do Clima no Reino Unido, saiam das gavetas e sejam implementados, com a definição de metas de curto prazo, alocação de equipes e recursos. Um exemplo concreto disso são os Planos Municipais da Mata Atlântica e a implementação do Código Florestal com a recuperação das Áreas de Preservação Permanente urbanas e rurais.
Infelizmente, no plano federal, em um ano crucial para as próximas décadas, os esforços ainda serão para a contenção de dados e evitar mais retrocessos de um governo pilhados da natureza, negacionista da ciência e que despreza a saúde, as populações indígenas e tradicionais. Enquanto o Brasil assumiu o compromisso de acabar com o desmatamento e reduzir em 30% as emissões de metano até 2030 e a Europa, EUA e China deixaram claro que não vão comprar commodities com desmatamento em sua cadeia produtiva, no Congresso temos projetos de lei para flexibilizar o licenciamento ambiental, regularizar invasões de terra e permitir mineração em terras indígenas.
É bom lembrar que o Brasil é um país chave no tabuleiro do clima, com oportunidades raras para contribuir para a mitigação das mudanças climáticas e, ao mesmo tempo, atrair recursos para construir um novo ciclo de desenvolvimento inclusivo, que tenha a agenda ambiental como estratégia. A nossa janela vai até 2030, onde as soluções baseadas na natureza, como o fim do desmatamento e a restauração florestal, serão uma solução viável, efetiva e economicamente competitiva para a mitigação climática, coincidindo com a Década da Restauração de Ecossistemas da ONU.
Para isso, o fim do desmatamento e a restauração da Mata Atlântica são ações concretas que deve constar das plataformas para os nossos próximos governantes.
Artigo publicado originalmente na Folha de São Paulo, em 21 de janeiro de 2022.
- Malu Ribeiro é diretora de políticas públicas da Fundação SOS Mata Atlântica
** Luis Fernando Guedes Pinto é diretor de conhecimento da Fundação SOS Mata Atlântica
Fonte: SOSMA Fundação SOS Mata Atlântica
Publicação Ambiente Legal, 01/02/2022
Edição: Ana Alves Alencar
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