Aquíferos subterrâneos continuam uma incógnita para a Administração Pública
Por Rafael Abrão Possik Jr.
Muito está se falando sobre os problemas de abastecimento de água nos últimos dias, porém a imprensa sempre foca no uso dos mananciais, esquecendo-se de analisar a situação dos aquíferos, que armazenam 95% da água doce do mundo.
Os 2 principais reservatórios de água brasileiros são: Alter do Chão, nos estados do AM, PA e AP, com capacidade estimada de 86 mil km³, e o Guarani, nos estados de MT, GO, MS, MG, SP, PR, SC e RS, além do Paraguai, Argentina e Uruguai, com 55 mil km³.
Pesquisas da Embrapa Meio Ambiente apontam que estes trilhões de litros seriam suficientes para fornecer água potável por pelo menos 400 anos, estimando um consumo médio diário per capita de 250 litros d’água, o dobro da quantidade sugerida pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
No estado de São Paulo, cidades como Ribeirão Preto e Bauru, por exemplo, já se abastecem da água do Aquífero Guarani.
Além da chuva, o que está faltando é uma cultura de planejamento e avaliação de resultados dos administradores públicos, rompendo o paradigma do aprendizado por ensaios e erros.
Culpar São Pedro pela seca deixa uma impressão de amadorismo com tanta tecnologia e informações disponíveis em tempo real.
O Palácio dos Bandeirantes poderia abandonar o bate-boca com o Palácio da Guanabara, esvaziando o discurso político dos vizinhos e enchendo as caixas d´água das residências paulistanas das 9 milhões de pessoas sob ameaça de racionamento, adotando práticas sustentáveis e ambientalmente responsáveis na exploração desta riqueza natural abundante no subsolo brasileiro.
Este é um tema muito discutido nas aulas de Gestão do Agronegócio na Faculdade de Administração da FAAP e um exemplo da complexidade do tema é o uso de biocombustíveis, pois um aumento nominal de 5% do transporte rodoviário até 2030 poderia aumentar a demanda por água em até 20% na agricultura.
Na questão energética, uma opção à sazonalidade do parque hidrelétrico nacional é aproveitar melhor o potencial estimado de 68 milhões de kWh de energia limpa do ponto de vista ambiental das usinas de açúcar e etanol com o estímulo à instalação de usinas de co-geração com o bagaço da cana-de-açúcar, com tecnologia nacional.
Como reflexão, vale lembrar que se a água é o ouro do século 21, o preço de uma garrafinha de 1litro de água mineral já se iguala, e em muitos casos supera, o preço do litro de combustível nos postos.
Rafael Abrão Possik Jr. é Empresário e Professor de Gestão do Agronegócio da Faculdade de Administração da FAAP – Fundação Armando Alvares Penteado.