Dinheiro Eletrônico domina as transações
Por Vivaldo Breternitz
As primeiras moedas foram cunhadas na Ásia, há 2,6 mil anos, dando início a uma revolução no comércio em escala mundial – antes delas, havia a simples troca de mercadorias, o que tornava muito difícil fazer negócios, o que era um entrave ao progresso.
Hoje, com o avanço da tecnologia, especialmente as ligadas à telefonia celular e aos cartões, podemos perguntar: ainda faz sentido manter o dinheiro físico em circulação?
Aos poucos, esse questionamento leva a ações concretas; recentemente o governo da Dinamarca anunciou que pretende dar fim ao uso de moedas e cédulas de dinheiro em lojas, postos de gasolina e restaurantes até 2016. Seu objetivo no longo prazo é tornar-se o primeiro país do mundo a eliminar a circulação de dinheiro físico. Vale lembrar que no início deste século, Cingapura já pretendia fazer isso até 2008, o que acabou não acontecendo.
A medida foi apresentada como parte de um pacote de propostas para fomentar a produtividade dos negócios, ao cortar os consideráveis custos administrativos e financeiros envolvidos no uso de dinheiro físico.
Mas aqueles, que como nós, estão envolvidos com o tema, têm dúvidas: isso é possível? O governo dinamarquês acredita que sim, e parece estar em sintonia com os hábitos da população. Todos os adultos do país têm cartão de crédito e os pagamentos com dinheiro físico sofreram uma redução de 90% desde 1990; na atualidade, apenas um quarto deles é feito desta forma.
Além disso, ali praticamente todos os pequenos negócios aceitam pagamentos com cartões; e os incentivos são cada vez maiores para que eles e os celulares sejam cada vez mais utilizados para pagamentos.
Mais perto do Brasil, temos o exemplo do Equador, onde o governo colocou em prática,em dezembro de 2014, um sistema de dinheiro eletrônico. Um dos principais objetivos é lidar com a exclusão financeira da maior parte de sua população – custa caro manter contas em bancos e sua falta é um obstáculo sério aso negócios.
Ali, cerca de 40% da população economicamente ativa não tem acesso a uma conta bancária, mas praticamente 100% dos domicílios tem um celular.
O sistema é administrado pelo Banco Central do Equador e permite realizar transferências entre usuários, compras e pagar passagens no transporte público. Em breve, também será possível pagar taxas públicas. Seu funcionamento é simples. Uma conta é aberta com o celular, sem uso da internet, teclando-se *153#. Ela pode ser recarregada em lojas, e as transações são feitas por meio de mensagens SMS – sistemas como esse já existem em países da África há alguns anos – há tecnologias mais avançadas para esse tipo de operações, mas muitas delas não estão disponíveis nos celulares mais simples.
O governo equatoriano acredita no sucesso da iniciativa, mas está ciente da existência de problemas: especialmente nas áreas pobres do país, há o problema de educação financeira que o governo pretende combater com um processo de formação, para que os cidadãos aprendam a usar o sistema e não sejam vítimas de golpes.
Mas além de remover obstáculos aos negócios, há outras vantagens trazidas pelo dinheiro eletrônico: moedas e cédulas têm custos elevados de produção, armazenamento, transporte, segurança etc., bancados por empresas, pessoas e governos. Mais vantagens: um estudo da Universidade de Tufts, nos Estados Unidos, concluiu que cada americano passa 28 minutos por mês sacando dinheiro de caixas eletrônicos e que os mexicanos, em conjunto, gastam 48 milhões de horas por ano. O que quer dizer que sua eliminação aumentaria a produtividade destas pessoas.
O dinheiro físico facilita também as operações ilícitas (negócios com armas e drogas, por exemplo) e a evasão fiscal: o governo americano perde US$ 100 milhões por ano com recebimentos em dinheiro não declarados.
Para fim, o dinheiro físico é pouco higiênico. Em 2011, pesquisadores britânicos do Instituto BioCote chegaram à conclusão que tirar dinheiro em um caixa eletrônico deixa uma pessoa tão exposta a bactérias quanto usar banheiros públicos muito sujos.
Vivaldo Breternitz, especialista em Sistema da Informação e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
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