Da redação*
Com capacidade de processamento de 2 mil toneladas por mês, a nova central de tratamento de resíduos de saúde da cidade de São Paulo, a maior das Américas em autoclaves, alia tecnologias de ponta a soluções sustentáveis de reaproveitamento de líquidos do processo e uso de luz natural para economia de energia.
Em maio deste ano (2017), a Loga – Logística Ambiental de São Paulo S.A. inaugurou, oficialmente, a nova Central de Tratamento de Resíduos de Serviços de Saúde Marcus Silva Araujo (CTRSS). A Loga é responsável pela coleta de resíduos de saúde de toda região Noroeste de São Paulo, mais de 16 mil estabelecimentos cadastrados.
Com investimento de cerca de R$ 35 milhões, a CTRSS está localizada em Perus, em uma área do Aterro Bandeirantes, desativado em 2007.
“A empresa viu a oportunidade de instalar o equipamento em um local que estaria isolado e sem uso pelos próximos anos, e que agora passa a receber uma unidade de tratamento de alta tecnologia que garante proteção ao meio ambiente e qualidade de vida para os paulistanos”, explica Marcelo Gomes, Diretor-presidente da Loga.
Com capacidade para recebimento de 2 mil toneladas de resíduos de saúde por mês, a CTRSS recebe material de mais de 14.000 estabelecimentos de saúde (grupos A e E, exceto A2 e A3), oriundos tanto de pequenos geradores, como farmácias, clínicas, veterinários e laboratórios, quanto de grandes hospitais do Agrupamento Noroeste de São Paulo, os chamados grandes geradores de resíduos de saúde.
A nova central é um benefício para São Paulo, pois se trata de um bem reversível ao município ao final da Concessão da Logística Ambiental de São Paulo S.A. – Loga. Além disso, a instalação do empreendimento na região gerou empregos para a população do entorno, 70% dos colaboradores da Central são da região de Perus, profissionais contratados que trabalham próximos de suas residências.
Processo de tratamento dos resíduos
Os resíduos são submetidos a tratamento térmico, por meio de equipamentos de autoclaves. Nesse processo de tratamento, há a combinação de quatro variáveis: a temperatura, a pressão, o tempo de residência ou tratamento, além do contato ou penetração do vapor na massa de resíduo. Assim, o material contaminado é exposto ao calor (temperatura de até 150ºC) e umidade à alta pressão por um período de tempo suficiente para eliminar os microrganismos patógenos e reduzir a carga microbiana presente nesse tipo de resíduo. A tecnologia de tratamento por autoclave assegura altos níveis de inativação microbiana (nível III), estabelecidos pela legislação brasileira e, também, internacionalmente reconhecidos. Ou seja, o material é descontaminado, descaracterizado, triturado e encaminhado a um aterro. Essa forma de tratamento reduz o volume de resíduos, o que contribui para vida útil dos aterros.
O processo operacional é dividido nas seguintes etapas:
1 – Recebimento e armazenamento temporário dos resíduos;
2 – Carregamento e pesagem dos resíduos;
3 – Tratamento térmico por autoclavagem;
4 – Descaracterização dos resíduos por trituração;
5 – Acondicionamento e transporte para a destinação final.
Resíduos recebidos na CTRSS
A CTRSS recebe e trata os resíduos de serviços de saúde dos grupos A e E, de acordo com a Resolução Conama 358/2005. Demais grupos possuem coleta e tratamento específicos.
Resíduos com a possível presença de agentes biológicos que necessitam de tratamento específico, tais como: descarte de vacinas de microrganismos vivos ou atenuados; resíduos de laboratórios de manipulação genética; resíduos resultantes da atenção à saúde de indivíduos, bolsas transfusionais, sobras de amostras de laboratórios contendo sangue ou líquidos corpóreos. Kits de linhas arteriais, endovenosas e deslizadores; sobras de amostrasde laboratório e seus recipientes contendo fezes, urina e secreções; recipientes e materiais resultantes do processo de assistência à saúde.
Grupo A (exceto A2 e A3):
Grupo E: materiais perfurocortantes, tais como: agulhas,ampolas de vidro, brocas, limas endodônticas, pontas diamantadas, lâminas de bisturi; tubos capilares; micropipetas; lâminas e lamínulas; espátulas; todos os utensílios de vidro quebrados no laboratório (pipetas, tubos decoletasanguíneae placas de Petri) e outros similares.
Tecnologias sustentáveis
Com o compromisso de preservar o meio ambiente, a CTRSS foi projetada já considerando tecnologias para mitigação dos impactos ambientais. Assim, os materiais são recebidos e tratados em locais e equipamentos estanques e controlados. Todo o ar interno da Central é coletado e encaminhado para um sistema de exaustão e recebe tratamento por meio de filtros de alta capacidade de retenção de partículas, o ar é substituído 15 vezes por hora e tratado por sistema de pressão negativa. Além disso, o fluxo de ar após a filtragem passa pelo tratamento por ozônio, para minimizar eventuais odores, característicos desse tipo de resíduo.
Outro recurso moderno adotado na Central é o de captação e filtragem de água da chuva para uso na limpeza da unidade, o equivalente a mais de 70% de redução no consumo de água potável. Além disso, o uso de gás natural gera o vapor necessário para o tratamento. A unidade também dispõe de economizadores para reaproveitar o calor das chaminés e reduzir o consumo de combustível. A Central conta ainda com iluminação natural interconectada com sistemas de LED, garantindo a luz necessária para a operação e reduzindo o consumo desse recurso.
Homenagem ao Engenheiro Marcus Araujo
Nascido no ano de 1950, em Belo Horizonte, Minas Gerais, Marcus Silva Araujo foi um dos grandes especialistas na gestão de resíduos do Brasil. Engenheiro, formado pela PUC Minas Gerais, trabalhou durante 24 anos em construtoras e, em 1999, entrou para o segmento de resíduos na Vega Engenharia Ambiental.
Colaborador da Logística Ambiental de São Paulo S.A., Loga, desde o início das atividades da empresa, em 2004, Marcus atuou como gerente de destinação final e participou de grandes projetos na empresa, como a desativação dos aterros Bandeirantes e Vila Albertina, modernização da Estação de Transbordo Ponte Pequena, instalação da primeira Central Mecanizada de Triagem de resíduos recicláveis da cidade e contribuiu de forma significativa para o projeto e obra da Central de Tratamento de Resíduos de Saúde, que hoje leva seu nome. Marcus faleceu em setembro de 2016 e deixou um grande legado para o gerenciamento de resíduos do mundo e para as próximas gerações.
*Fonte: LOGA