Cientistas descobrem novos sapos em montanhas na Mata Atlântica de SC
Por Maria Luiza Campos
Com tamanhos que variam de 1 cm a 2,5 cm, eles pertencem ao gênero Melanophryniscus e vivem em grandes altitudes e em meio de bromélias terrestres
Três novas espécies de sapos foram descobertas na Mata Atlântica em Santa Catarina, sul do Brasil, entre as cidades de Garuva e Blumenau. A descoberta ocorre no momento em que os principais líderes mundiais se reúnem na Conferência do Clima (COP21), em Paris, para definir um novo acordo global que evite o aumento da temperatura na Terra e as suas consequências. A exemplo de outras espécies de anfíbios, eles são altamente sensíveis às mudanças climáticas e pelo menos uma das espécies foi classificada como ameaçada de extinção na categoria “em perigo”.
O anúncio da descoberta foi oficializado nesta quarta-feira (02) por meio da publicação de um artigo científico na revista internacional PLOS ONE. As três novas espécies pertencem ao gênero Melanophryniscus e foram descobertas em campos no alto da serra do Quiriri e em florestas no alto da serra Queimada e nos morros do Baú e do Cachorro. As espécies são endêmicas dessas regiões, ou seja, só podem ser encontradas ali.
“As novas descobertas mostram quão rica é a biodiversidade da Mata Atlântica, ainda que restem apenas 8% desse ambiente natural tão vasto e desconhecido para muitos brasileiros apesar de concentrar cerca de 70% da população do país”, afirmou Malu Nunes, diretora-executiva da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, instituição que apoiou a pesquisa desse projeto. Entre 2013 e 2015, esse mesmo projeto propiciou a descoberta de oito novas espécies de mini sapinhos de outro gênero, Brachycephalus.
As três novas espécies descobertas são Melanophryniscus biancae, Melanophryniscus milanoi e Melanophryniscus xanthostomus, essa última em alusão a uma característica muito peculiar dessa espécie – a cor amarela (xanthos) que orna a boca do sapinho. As demais espécies homenageiam Bianca L. Reinert e Miguel S. Milano pela expressiva contribuição de ambos à conservação da natureza no Brasil.
Os novos sapos têm tamanho variado de 1 cm a 2,5 cm e possuem a pele escura com verrugas e espinhos e se alimentam basicamente de formigas e ácaros. Esses alimentos liberam substâncias químicas que irão se acumular na pele dos sapos e os tornam venenosos, sobretudo aos seus predadores, tais como cobras.
“O mais notável das espécies descobertas é que elas vivem em água acumulada pela chuva na base das folhas de bromélias terrestres, enquanto que as demais espécies reproduzem em córregos e em poças”, disse o pesquisador da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Marcos R. Bornschein, biólogo e estudioso de aves e anfíbios desde o final da década de 1980. Participaram também da pesquisa os biólogos Márcio Pie, também da UFPR, e Luiz Fernando Ribeiro, da PUCPR. Todos são pesquisadores associados do Mater Natura – Instituto de Estudos Ambientais, que é a organização proponente e a executora do projeto junto à Fundação Grupo Boticário.
Apesar de viverem no alto de montanhas, os pequenos sapos são vulneráreis a impactos provocados diretamente pela ação humana, como desmatamentos, queimadas, atividades silviculturais e mineração. “A nossa preocupação é com a ameaça de extinção dessas espécies”, alerta Bornschein. De acordo com as pesquisas e levantamentos efetuados pelos cientistas, foi proposto formalmente que a espécie Melanophryniscus biancae seja classificada como em perigo de extinção. As outras duas espécies possuem dados deficientes que não possibilitam ainda classificá-las de acordo com os critérios da IUCN. “Para ter uma análise mais precisa das outras duas espécies, necessitamos ampliar nossas pesquisas em campo para avaliar a extensão de suas ocorrências e os riscos que sofrem”, ressalta o pesquisador.
Criada em 1990 por iniciativa do fundador de O Boticário, Miguel Krigsner, a atuação da Fundação Grupo Boticário é nacional e suas ações incluem proteção de áreas naturais, apoio a projetos de outras instituições e disseminação de conhecimento. Criado em 1983, Instituto de Estudos Ambientais – Mater Natura, tem a finalidade de atuar pela preservação, conservação e manejo sustentável do patrimônio paisagístico e valores culturais. Ao longo desse período executou 71 projetos que resultaram na descoberta de 21 novas espécies de animais da Mata Atlântica. Além destas instituições, a STCP Engenharia de Projetos e a Prefeitura de Joinville também contribuíram para a realização da pesquisa.
Fonte: Fundação O Boticário – NQM Comunicação
Maria Luiza Campos é jornalista e assessora de comunicação da NQM Comunicação