O imperialismo colonialista e o paradigma ambientalista
Por Maynard Marques de Santa Rosa*
O fascínio do Eldorado maravilhoso oculto na selva, que atraiu para a morte ilustres aventureiros do passado, está hoje transfigurado na ambição dos próceres globalistas pelas riquezas conhecidas do subsolo e do bioma amazônicos.
Infelizmente, o imperialismo colonialista sobreviveu no campo das ideias e já conseguiu impor o paradigma ambientalista à opinião pública.
Recentemente, o ambientalismo deu mais um passo à frente. No dia 19 de fevereiro de 2019, enquanto o mundo deparava-se com o espectro do coronavírus, surgiu o Conselho Militar Internacional sobre Clima e Segurança – IMCCS (sigla em inglês), com a missão de planejar ações de força destinadas a impor o cumprimento da agenda ambientalista.
No dia 30 de novembro, o mesmo Conselho liberou um relatório instando os líderes brasileiros: “a fazer da mudança climática e das medidas de contra – desflorestamento uma prioridade de segurança, bem como a colocar à prova de clima a sua segurança nacional”. São 33 personalidades que compõem o Conselho Consultivo do IMCCS, das quais 18 são oficiais-generais e dois oficiais superiores, todos da reserva das Forças Armadas dos Estados Unidos e 1 general holandês, também, da reserva.
Inegavelmente, a poluição ambiental é um flagelo real que deve ser enfrentado com determinação. O aquecimento global, porém, é uma falácia midiática. A mudança climática parece um fato, mas a sua causa pode não ser antrópica. E usar uma teoria não comprovada para justificar pressões sobre a soberania dos Estados mais fracos é uma estratégia moralmente abominável.
Desde a década de 1980, a prensa ambiental vem sendo apertada sobre a soberania brasileira, fortemente orquestrada pela mídia e pelas organizações-não-governamentais militantes. A liberdade de ação para decidir sobre as questões amazônicas está, visivelmente, prejudicada, mas a opinião pública desconhece a ameaça, que ganha forma a cada dia.
Olhando para fora, há experiências exitosas para cenários correlatos, como a que foi adotada na China, que merecem estudo. As medidas de integração e povoamento adotadas pelos chineses tornaram inócuos os movimentos de resistência uigures, tibetanos e mongóis. Atualmente, há mais chineses de etnia han no Sinkiang, no Tibete e na Mongólia interior do que as populações nativas originais. As migrações artificiais impactam os vizinhos da China, particularmente, a Rússia, cuja população do Extremo Oriente vem decaindo ao longo do tempo.
Sobre população, o eminente professor paraense Armando Mendes alertou, em 1974: “A Amazônia tem problemas políticos que ninguém pode esquecer, o primeiro dos quais é o vazio demográfico, que a transforma em megafúndio”.
O mais afamado historiador nativo da Amazônia, Arthur Cézar Ferreira Reis, escreveu, em 1982, no prefácio do seu livro A Amazônia e a Cobiça Internacional, baseado em fatos: “A Amazônia continua a ser uma reserva para o futuro. E nesse futuro é que está o grande perigo. Um dia, a continuar a ausência criminosa do poder público, poderemos acordar com o extremo Norte sob o domínio de estranhos”.
Portanto, o Brasil precisa preparar-se. A opinião pública nacional tem de ser persuadida. A pressão demográfica sobre a fronteira agrícola é inexorável e não pode ser contida, simplesmente, por repressão, cuja consequência inevitável é o aumento da favelização rural. A soberania nacional não pode ser alienada por medo, boa vontade ou bônus ambientais. A Amazônia anseia por desenvolvimento, que só pode ser alcançado mediante integração, povoamento e investimento na formação de um mercado interno. O enfrentamento da crise requer ação efetiva combinada com diplomacia, mais do que discurso, bravata ou apaziguamento.
*General de Exército Maynard Marques de Santa Rosa é oficial reformado do Exército Brasileiro, formado pela Academia Militar das Agulhas Negras (Resende/RJ), tendo servido em 24 Unidades Militares do Território Nacional durante 49 anos de atividade na carreira. Possui mestrado pela Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais do Rio de Janeiro e doutorado em ciências militares pela Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, também do RJ. No exterior, graduou-se em Política e Estratégia, em pós-doutorado no U.S. Army War College (Carlisle/PA, 1988/89). Foi Ministro-chefe da secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE), no Governo Bolsonaro (2019).
Fonte: The Eagle View
Publicação Ambiente Legal, 12/12/2020
Edição: Ana A. Alencar