Como ele reflete a necessidade urgente por adoção de boas práticas ambientais
Por Cecília Vick
Se as pessoas esperavam um alerta real para adotarem práticas sustentáveis, ele está acontecendo neste exato momento no Sistema Cantareira. A maior estiagem da história do complexo de tratamento de água que atende a região metropolitana de São Paulo exige mudanças de hábitos para evitar uma tragédia inimaginável tempos atrás: a completa falta d’água no local e o inevitável racionamento para uma população estimada em 10 milhões de pessoas.
Considerado o maior sistema da América Latina, o Cantareira envolve as represas de Jaguaí/Jacareí, Cachoeira, Atibainha, Paiva Castro, Águas Claras e a estação de Guaraú. Em meados de 2014 o nível de armazenamento de água caiu para assustadores 7% da capacidade útil. Não fosse o aproveitamento do volume morto, nome dado ao reservatório que fica abaixo das comportas de captação e que garantiu mais 400 milhões de metros cúbicos, a água poderia acabar em agosto. Agora, há uma sobrevida até o fim de outubro, de acordo com dados da própria Sabesp.
Muitos culpam o clima instável nos últimos anos para tentar explicar o fenômeno. Isso porque a região Sudeste teve apenas 25% da chuva esperada para o período entre dezembro de 2013 e fevereiro de 2014 – tradicionalmente os meses mais chuvosos do ano.
A instabilidade ambiental é resultado da falta de ações sustentáveis no passado. O planeta começa a cobrar o preço por anos de exploração. Em três décadas, por exemplo, a emissão de dióxido de carbono (principal gás do efeito estufa) aumentou de 330 para 400 partes por milhão, o que contribuiu para a redução de 40% da camada de gelo do Oceano Ártico e 30% da biodiversidade do planeta. O aquecimento global faz com que o clima oscile, gerando secas frequentes em alguns pontos e chuvas torrenciais em outros.
É preciso pensar na sustentabilidade tanto no lado econômico quanto no social. Uma pesquisa do Ministério do Meio Ambiente mostra que 66% dos brasileiros desconhecem o conceito de “consumo sustentável”, mesmo considerando o desperdício de água e energia como um dos mais graves problemas ambientais do país. Ações bem simples seguem ignoradas por grande parte da população: ainda hoje é comum ver pessoas lavando calçadas ou que deixam a torneira aberta ao escovar os dentes. No ambiente corporativo, aparelhos eletrônicos costumam ficar ligados fora do horário do expediente. E na esfera pública, as energias eólica e solar ainda são consideradas cara demais.
O sistema Cantareira já deixou uma mensagem clara: passou da hora de ações sustentáveis nortearem a vida das pessoas e a agenda governamental. Caso contrário, pode ser tarde demais.
Cecília Vick é Diretora Executiva da GreenClick, empresa que contribui com a neutralização da emissão de CO2 no país.