Por Alfredo Attié Jr.
A presidente tem uma visão peculiar de “democracia” e “soberania popular”.
Vale a “vontade das urnas”.
Monteiro Lobato já advertia, sabiamente, que “lisonja mata, e sinceridade salva”.
Sejamos sinceros ( e deixemos a lisonja para os enferrujados velhinhos de espírito da claque presidencial): a presidente está mais confusa agora do que quando disse que era especialista em “minas e energia” (mas não enxergava o que ocorria na sua, digamos, zona de atividade especializada).
Como o povo não ressoa mais o equívoco da eleição passada ( e a presidente não sabe se mentiu por lá ou por aqui, ontem ou hoje), a presidente pediu para instalar algumas urnas em seu gabinete. Ele quer conversar com as urnas e tentar entender qual é sua vontade. Esperemos que não sejam urnas funerárias…
O ato dos “juristas” pela renúncia teve tons de grandeza. Afinal, pediram uma renúncia de grandeza e não uma renúncia atabalhoada. Renúncia atabalhoada seria a de Jânio. E a de grandeza? Será que estavam pensando no Getulio? Ops…
Mas a petição não tem lógica nenhuma – com o devido respeito aos juristas.
Também não tem lógica o pedido dos subalternos (ministros de estado, pasmem!), para que a presidente admita seus erros.
A falta de lógica deriva do fato de a presidente se ter utilizado da mentira para se eleger. Deu certo. Por qual motivo iria mexer no que, para ela, deu certo e passar a dizer a verdade ao povo? Seria suicídio, com o perdão da palavra.
Deriva, também, da falta de grandeza. Uma pessoa de estatura moral e intelectual é insegura, busca a perfeição, nunca sabe se está certa, totalmente certa. Enxerga seus erros.
Quem não tem estatura moral nem intelectual pensa de si o máximo e dos outros, o mínimo. Não enxerga os próprios erros, culpa os outros, a quem trata mal, despreza.
Vamos esquecer tudo isso e lembrar que estamos no Brasil, que, cansado de se enganar (a si mesmo), tirou a máscara e mostrou sua cara (como na música popular).
Os problemas não foram apenas os erros de política, em geral, e política econômica, em particular. Foram as ilicitudes (nem estou falando da corrupção, pois esta a presidente não viu e dela não sabe). Falo dos erros administrativos.
A situação é grave, mas tudo o que se vê fazer é reunir as cúpulas, para engendrar planos de salvação, não mais da Pátria, mas do simples governo.
A brincadeira é a das cadeiras, mas pararam a música. Acabou a diversão.
Com todo respeito, vamos fazer valer a lei, com coragem.
Deixemos esses conchavos de lado.
Que se apure a verdade, e que o Tribunal de Contas cumpra a sua função, sem mais delongas, adiamentos, que o Congresso cumpra o seu papel de controle, o mesmo valendo para o Judiciário, o Ministério Público, as Polícias, a Imprensa.
Errou, errou e tem sanção. E sanção independe da vontade de quem deva ser punido. Não tem essa de renúncia, nem de pacto de subdivisão ainda maior do poder.
A vontade do povo é a lei. A lei deve encarnar, na sua construção e execução, a soberania popular.
Democracia é poder do povo e não dessas elites pretensiosas. Chega de andar para trás! Chega de golpe, de conciliação das elites. Venha a democracia, de uma vez por todas, ou teremos de esperar mais cem anos, como brada a legião da morte…
Alfredo Attié Jr. – Magistrado do Tribunal de Justiça de São Paulo, Doutor em Filosofia, Mestre em Direito e em Direito Comparado, Membro do Fórum Global de Justiça e Desenvolvimento, Washington, D.C., Titular da Cadeira San Tiago Dantas da Academia Paulista de Direito.