Após a farra, os foliões da República tornarão a enfiar a cabeça na areia, alienados, ensimesmados e com ressaca…
Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro
O carnaval já foi sublimação coletiva em prol da alegria. Hoje, canaliza fugas dissociativas. Transformou-se em catarse hedonista sem caráter. Dissimulação do desespero ante uma realidade abominável.
Como aquela ave australiana, os foliões da República encostam suas cabeças minúsculas no chão, quando não as enterram na areia. Retiram-nas solertes, no entanto, quando ouvem o grito de Momo, dando início ao carnaval.
Na farra da crise moral brasileira, néscios se unem aos canalhas em blocos carnavalescos desprezíveis.
O governo tampão abre alas. Alterna o ritmo da folha corrida de seus próceres com a cegueira moral de seus indicados nos postos da República. Ministra por onde passa remédios amargos necessários à economia e, em seguida, perde-se em estrepolias rítmicas indefinidas. Não tem futuro mas vai levando. Ali, todos dançam para não dançar…
Segue o bloco dos nababos. Fantasias despudoradas unem engravatados e foliões togados ao som da marchinha do ativismo judicial. Lotado de gordos salários plenos de penduricalhos imorais, o bloco nada resolve – pelo contrário, cria confusões. Seus foliões não têm qualquer compromisso com a claque que paga para vê-los evoluir. Pilhas de processos sem andamento ornam carros pretos alegóricos usados pelo bloco.
O tema da marchinha é gastronômico: “Supremo de Frango no Mundo de Pollyanna”.
O bloco dos demais parasitas da Nação reúne encamisados e descamisados, partidos políticos e movimentos sociais, donos de crachás, escrachados, amigos dos amigos dos amigos, etc. Todos pulam no sapatinho, na moita, juntos e misturados, evitando ter maior visibilidade. Cada integrante do bloco segue no seu próprio ritmo. Não estão nem aí. Eles se lixam para o povo e para quem samba ao lado deles. Acreditam piamente que todo mundo, à própria exceção, é burro e desmemoriado.
É o que ocorre com os integrantes do bloco vermelho com estrelinha. Cujo samba-enredo é “governo golpista”.
O bloco histórico era gramsciano, mas pelo visto radicalizou – perdeu credibilidade. Pulam todos rapidinho. Precisam eleger o barbudo mor antes que a enxurrada de delações premiadas levem o líder na correnteza.
Militontos que protagonizaram o oba-oba enquanto seus dirigentes roubavam TRILHÕES, agem agora como se a crise de hoje não tivesse nada a ver com a farra de ontem… ou seja, com eles.
A farra segue sem algemas. As punições se resumem a tornozeleiras distribuídas em troca de deduragens parciais. Nessa farra ninguém assumirá seus esqueletos. Eles ficarão para trás… abandonados na rua, no aguardo dos garis.
A nação brasileira permanece nas arquibancadas. Não trouxe fantasias e nem mesmo abadás. O grupo de excluídos é enorme. Recebeu de volta à linha da pobreza os trinta milhões que dela haviam saído… e adicionou à tragédia 12 milhões de desempregados. No final, aos sobreviventes restarão as cinzas.
Terminada a farra de Momo, voltará a ressaca… e o mau humor da platéia.
Ante a dura realidade, os foliões da República tornarão a enfiar a cabeça na areia, alienados, ensimesmados e com ressaca.
Nessa posição “heroica”, em sua fuga psicogênica, deixarão os traseiros expostos…
Assim permanecerão, até que uma onda redentora finalmente os afogue em sangue.
Vivemos de fato o carnaval dos avestruzes.
Antonio Fernando Pinheiro Pedro é advogado (USP), jornalista e consultor ambiental. Sócio diretor do escritório Pinheiro Pedro Advogados. Integrante do Green Economy Task Force da Câmara de Comércio Internacional, membro do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB, das Comissões de Política Criminal e de Infraestrutura e Sustentabilidade da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB/SP. É membro do Conselho Consultivo da União Brasileira de Advocacia Ambiental, Vice-Presidente Jurídico da Associação Paulista de Imprensa – API, Editor-Chefe do Portal Ambiente Legal e responsável pelo blog The Eagle View.
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