BENGALADAS NÃO INIBEM UM PROJETO CRIMINOSO DE PODER
Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro*
A misteriosa morte de Hublet
Em 29 de novembro de 2005, o escritor curitibano Yves Hublet – autor de livros infantis consagrados e belga de nascimento, ganhou notoriedade midiática quando desferiu golpes de bengala no então deputado federal José Dirceu.
As bengaladas de Hublet em Dirceu, lavaram a alma das pessoas de bem no Brasil.
Hublet, no entanto, passou a ser perseguido pela militância petista, a qual aparelhava os organismos de Estado. A pressão imposta ao velhinho foi de tal ordem que obrigou o velhinho a sair do Brasil e exilar-se na Bélgica.
Passado um ano de seu exílio, Hublet voltou ao Brasil para resolver seu processo de divórcio. Quando desembarcou em Curitiba, foi detido pela Polícia Federal sem qualquer explicação.
Enviado a Brasília, Hublet “adoeceu” na carceragem. Hospitalizado sob escolta da PF, o velhinho entrou em óbito, sendo o corpo, em seguida, cremado – de forma que não há mais espaço para qualquer questionamento sobre as circunstâncias do ocorrido, além da versão oficial – por si só bastante estranha.
Hublet teve a “ousadia” de ter dado uma surra de bengala em José Dirceu – o mais sinistro articulador do esquema criminoso que sustentou o Lulopetismo. Aprendeu, pagando com a própria vida, que bengaladas não inibem um projeto criminoso de poder.
Sua morte, sob custódia da polícia, no entanto, foi apenas uma de uma série de outras mortes misteriosas, que cercam o esquema bolivariano instalado no Partido dos Trabalhadores e nos seus satélites.
Esse “mecanismo” foi desenhado no Foro de São Paulo, nos anos 1990. Porém, passou a ser implementado em 2002 – ano da campanha vitoriosa de Lula, mesmo ano em que ocorreram os estranhos casos de homicídio dos prefeitos de Santo André e Campinas – ambos tesoureiros da campanha de Lula, urdida e capitaneada por José Dirceu…
A cabeça cai, mas o verme se recompõe
O caso de Hublet é mais um horror que permaneceu na latrina que as instituições permanentes da República insistem em não destampar, pois encontram-se obscurecidas pelas nuvens de contradição que envolvem seus comportamentos erráticos.
De fato, Polícia Federal, Ministério Público Federal e Supremo Tribunal Federal, permaneceram omissos até hoje, na apuração desses fatos.
PF, PGR e STF são instituições carcomidas pelo mais caustico corporativismo, ultrapassam com frequência o limiar entre servir bem a sociedade e servir-se muito mal dela… Há muito rasgaram a Constituição de 1988 – sempre pretextando servi-la…
Se por um lado buscam apurar setorizadamente casos escabrosos de corrupção, por outro protagonizam ensaios conspiratórios como foi o caso das ações controladas e delações premiadas envolvendo os donos da JBS, cujo único intuito foi derrubar o presidente da República – ao custo do prejuízo na investigação de um provável esquema criminoso que custou bilhões aos cofres públicos.
Temer, de fato, foi um mero boneco nesse roteiro macabro. O presidente é um elemento que se apequena a cada dia, é certo. Porém, o alvo da conspiração nunca foi Temer e, sim, o poder político e a governabilidade do país.
Podem alegar o que for. O que transpareceu de forma cristalina em todo o processo de crises judicializadas para inviabilizar o governo Temer, foi a vontade de provocar o caos no país, interromper as reformas econômicas, forçar o rompimento institucional e buscar um evento que antecipasse as “eleições gerais”, inserindo nelas a figura “reabilitada” do ex-presidente Lula.
Essa idiossincrasia que atinge as instituições que compõem o centro nervoso da jusburocracia federal, revela que o esquema bolivariano-petista, organizado pelo sinistro “lua preta” José Dirceu, sobrevive como um verme anelado – por mais que se corte sua cabeça… ele se recompõe.
Vale dizer, os vermes bolivarianos permanecem vivos e continuam infestando a República.
O caldo de cultura instalado em Brasília, no entanto, conta com o reforço dos partidinhos de esquerda e notórios cabeças de bagre do PSDB, sempre em busca de notoriedade junto a determinadas redes de mídia que não hesitam em jogar jornalistas na lata de lixo da história em prol do caos, em busca de algo que permita resgatar o poder perdido com o impeachment de Dilma.
Dirceu organizou a “Suprema Armadilha”
O aparelhamento do Estado urdido pelos petistas, embora permaneça dissimulado em várias instituições, é absolutamente visível na “superestrutura formada pela jusburocracia”, para usar um termo gramsciano – teórico da “hegemonia” e do “bloco hegemônico”, pretendido pela estratégia bolivariana*.
Observa-se a implementação da estratégia hegemônica naquelas côrtes de justiça e organismos de controle, onde o petismo pôde indicar juristas engajados. Esse assalto de paraquedas sobre os tribunais superiores formou uma pinça com o processo lento e contínuo de infiltração e aparelhamento “pelo mérito”… das defensorias públicas, ministério público e judiciário – um engajamento bolivariano “a partir das bases”.
O ativismo engajou especialmente as associações de classe dessas corporações – cujo caráter sindicalista tornou-se evidente. São essas organizações que mais se empenham contra as reformas de estado, em especial a trabalhista.
Nas carreiras jurídicas de Estado, o índice de infiltração de ativistas engajados – segundo fontes de inteligência, já alcança a ordem de 30% dos quadros de carreira.
Mas o quadro mais agudo e visível de bolivarianismo pode ser observado no Supremo Tribunal Federal. Ali foi organizado o “estado da arte” do bolivarianismo tupiniquim.
O aparelhamento da suprema corte foi urdido por José Dirceu, seguindo o exemplo de Hugo Chávez – o ditador venezuelano que destituiu e perseguiu magistrados para instalar na suprema côrte da Venezuela juízes ideologicamente engajados com o “socialismo do Século XXI”.
No caso brasileiro, igualmente aparelhados, Ordem dos Advogados e Ministério Público permitiram, calados, que advogados e procuradores mudassem de lado no mesmo processo, com claro conflito de interesses, que a canalhice substituísse o profissionalismo nas relações jurídicas e que ministros da Suprema Côrte decidissem nos autos de processos em que deviam declarar-se impedidos ou, no mínimo, suspeitos.
Esse quebra-cabeças de omissões que interessam, revelações que sugerem, decisões que não se aplicam e fatiamentos procedimentais, urdido especialmente no Supremo Tribunal Federal, segue sob as vistas de todas as instituições republicanas, mídia e sociedade civil organizada, sem que se adote um fio sequer de reação indignada.
Ainda que o judiciário federal busque punir os gigantescos esquemas de corrupção e desvio de dinheiro público que financiavam o projeto criminoso de poder lulopetista, o fato é que o esquema bolivariano articulado por José Dirceu e seus pigmeus estalinistas, continua sendo construído sob as bençãos do STF – cuja judicatura foi moldada pelas indicações urdidas em doze anos de poder incontestável do lulopetismo.
Não por outro motivo, o sodalício agora desfia decisões ridículas – tais como a de negar instância de revisão colegiada de acordos de delação e leniência – em claro conflito com a constituição, proferir decisões monocráticas em fases procedimentais que deveriam passar pelo crivo do colegiado, libertar presos condenados por conta de “habeas corpus de ofício”, dissimular afrontas à isonomia no tratamento processual por meio de decisões provisórias de cunho “garantista”, fatiar a investigação de casos complexos , dificultando a persecução penal contra lideranças políticas importantes, e negar vigência às próprias decisões de plenário, tudo para favorecer o caos e, principalmente, manter o projeto petista vivo – mesmo que siga respirando por aparelhos…
A miopia geral, no entanto, não permite observar que o “tracking” desse mecanismo, não está centrado na condução, passo a passo, decisão a decisão, do ex-presidente Lula em direção a Curitiba, mas sim no “ioiô” do ex-ministro José Dirceu, já condenado e, mesmo assim, remetido e extraído do sistema prisional, sempre de forma pressurosa, pelos ministros bolivarianos…
Trata-se, portanto, de uma impressionante conspiração contra a República, digna de um roteiro cinematográfico.
“A luta continua”
Assim, enquanto os ingênuos da república comemoram a “virada de página” do projeto petista, os dito-cujos permanecem firmes “na luta”.
Os agentes bolivarianos, em meio ao caos, mantém o foco. Estão determinados a abafar a operação Lava Jato, desviar a atenção de Lula para o caos do governo Temer, combater qualquer tentativa de conferir segurança ao inauditável voto eletrônico, instalar o caos no País, barrar as reformas, forçar a convocação de eleições diretas com Lula candidato e garantir o retorno do esquema bolivariano de poder petista.
Os bolivarianos permanecem armados. Continuam infiltrados nas instituições que deveriam zelar pelo Estado de Direito, em especial a jusburocracia. Queiram ou não os ingênuos, essas instituições postaram-se como protagonistas do esquema conspiratório.
Os mesmos canalhas da república, que enriqueceram com a corrupção no período Lula-Dilma, ainda estão lotados de dinheiro roubado. Não perdem a oportunidade de escarnecer dos cidadãos de bem.
É fato: todos querem derrubar Temer a qualquer custo. Isso é essencial para a cartada esquerdista.
A saída de Temer não significaria, no entanto, qualquer manifestação contra a corrupção, mas permitiria à turba reassumir o poder, justamente para incorrer na mesmíssima corrupção.
Só psicopatas interessados ou imbecis alienados não enxergam o que está ocorrendo. O dispositivo bolivariano está vivo e ativo em Brasília.
Seguindo o roteiro de esticar a corda das instituições até o limite, o núcleo duro do projeto petista pretende retomar o poder – ainda que por conta disso sobrevenha o caos, ou que o caos sirva de meio.
Esse núcleo duro não hesita e nunca hesitará em fazer uso das instituições que deveriam, em tese, preservar a República.
O tempo é crucial!
Tudo deve ocorrer antes que decisões condenatórias conduzam definitivamente os líderes petistas à prisão.
Nesse ponto, o Supremo Tribunal Federal é a chave – não se pode esquecer que essa chave foi urdida por anos, pelo chaveiro preso-solto-preso, José Dirceu.
Por isso a pressa, a agitação na busca por jogar no mesmo balaio gregos, troianos, cristãos e muçulmanos, seja por meio do denuncismo que beira a leviandade protagonizado pela PGR de Janot, seja pela extrema dubiedade dos “fatiamentos” e das “listas de Fachin”, seja pelo garantismo da “segunda turma” do STF, seja pelas decisões estrambólicas aparentemente libertárias da ala “progressista” da suprema côrte, seja pelo comportamento cínico e odioso dos parlamentares esquerdistas em prol de seus bandidos de estimação, seja pela mídia que mais confunde que informa, seja pela impressionante massa de dinheiro que ainda irriga a corrupção, paga grandes escritórios de advocacia, opera transferências inexplicáveis em operações bancárias, mantém intactas as estruturas construídas nas Caixas Econômicas da vida, permite que o crime organizado administre das prisões um cartel que já ultrapassou as fronteiras da América do Sul e impeça o povo brasileiro de enterrar de vez o regime da Nova República, que caminha feito zumbi, arrastando os pedaços da moribunda Constituição de 1988.
Resta a pergunta: Quantos esqueletos mais serão jogados no armário dessa turma?
O crime organizado não se inibe com seus líderes presos. Seja a organização criminosa um cartel de drogas mexicano ou o partido dos trabalhadores brasileiro. O exemplo do PCC está aí, para provar.
Assim, José Dirceu preso ou solto, ou Lula lá ou cá… o resultado é o mesmo. Se não forem identificados todos os anéis do verme, cortá-lo em partes poderá significar dar origem a vários outros.
Será preciso reencarnar o espírito de Hublet e sair por aí distribuindo bengaladas nos personagens travestidos de “comandos em ação” da polícia federal e nos togados e engravatados – todos cheios de autoridade e vazios de compromisso com o Brasil.
Talvez, bengaladas não bastem. O que está em risco é a própria sobrevivência do regime democrático no Brasil.
Nota:
* Para o teórico marxista das superestruturas, Antonio Gramsci, a crise da hegemonia ocorre quando a “classe dominante” perde sua capacidade de interferir decisivamente sobre os demais segmentos dirigentes do Estado. Nesse momento, a própria complexidade da crise irá demandar novas alianças com a chamada “classe subalterna” – o proletariado, o qual poderá, em aliança com segmentos da burocracia de Estado formar uma nova aliança de classes, gerando um “bloco social” que se tornará hegemônico.
Para Gramsci, o momento revolucionário parte da chamada superestrutura, que na linguagem marxista corresponde ao nível político, cultural, ideal e moral. A partir daí a ação torna-se “transversal” – trespassa a sociedade em sua complexidade, até atingir a estrutura da economia, ou seja, o bloco histórico, formado pelas relações sociais de produção e seus reflexos ideológicos.
*Antonio Fernando Pinheiro Pedro é advogado (USP), jornalista e consultor ambiental. Sócio diretor do escritório Pinheiro Pedro Advogados. Integrante do Green Economy Task Force da Câmara de Comércio Internacional, membro da Comissão de Direito Ambiental do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB e da Comissão Nacional de Direito Ambiental do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB. É Editor- Chefe do Portal Ambiente Legal, do Mural Eletrônico DAZIBAO e responsável pelo blog The Eagle View.