Imagem: Marco Arrifano
Por Ricardo Viveiros*
Todos os anos, destes muitos que já vivi, observo existir o que se pode denominar: “Espírito de Natal”. Ou seja, desde o final de outubro até o início do novo ano, a grande maioria das pessoas se torna melhor. E apenas isso já é bom.
Aqueles que não cumprimentam, não estendem a mão, não dizem “por favor” e “muito obrigado”, sequer um “com licença”, jamais pedem desculpas ou têm um gesto de solidariedade ao próximo, tornam-se seres de boa vontade. Amáveis, gentis, simpáticos. Todos ficam otimistas também.
E são muitos reencontros, reconciliações, perdões. Tantos quanto as promessas para o futuro.
Nada disso volta a acontecer no ano seguinte, como do mesmo modo não são realizados os compromissos de parar de fumar, beber, jogar ou, também, fazer exercícios, dieta e trabalhos sociais, cuidar de idosos, visitar os amigos. Quem sabe até, sorrir mais. Acreditar que é possível.
Por que o “clima de Natal”, tão generoso e emocionante, não perdura o tempo todo?
Na minha rua, por exemplo, os que limpam bocas-de-lobo lá de vez em quando passam mais assíduos cumprindo com seu dever, os policiais que não vigiam aparecem atentos, o caminhão do gás transita sem fazer barulho e deixar rastros, o carteiro coloca correspondência com um sorriso e o entregador de jornais não joga o meu exemplar no telhado da garagem. E todos eles, por mágica, fazem questão de encontrar-me nos mais diferentes horários na estratégica lembrança de que o Natal está chegando.
Será que José e Maria, ou quem sabe o Espírito Santo, agiram assim e, por isso, motivaram os Reis Magos a presentearam o Menino Jesus? Não. Todos nós, para a eternidade, é que fomos presenteados com o exemplo do jovem de Nazaré.
Pois é… Mais um Natal, mais um ano e o que, de fato, mudou ou mudará?
Quem fomos e quem poderemos ser? Quem está, de verdade, disposto a sonhar além de seus próprios sonhos? De realizar desejos de outros que não têm ânimo sequer para sonhar?
Vamos, neste Natal e Ano Novo, ter a coragem de sentir esperança? De acreditar que somos e podemos além, muito além de nós mesmos?
Cada um pode ser Papai Noel da realidade. Não se satisfazer com “mais do mesmo”, não enganar a própria consciência com as ações temporárias do “Espírito de Natal” e buscar ser especial o ano inteiro. Normal, lembro, é ter respeito e solidariedade. Pensar no singular, agir no plural.
Quero um só presente de mim mesmo, a certeza de que fiz refletir sobre a feliz possibilidade de fazer do “Espírito de Natal” um sentimento permanente.
Para, mais com amor do que palavras, poder desejar a todos um sincero Natal de paz e um Ano Novo de realizações!
*Ricardo Viveiros – Jornalista e escritor com passagem nas mídias impressa e eletrônica. Autor de 41 livros, lecionou por 25 anos para cursos superiores de graduação e MBA. Dentre os reconhecimentos, recebeu a medalha da Organização das Nações Unidas (ONU) no Ano Internacional da Paz (1986), foi escolhido pela ABERJE, “Comunicador Empresarial do Ano”, em 2013 e tem o título de “Notório Saber”, em nível de doutorado, recebido da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Fundou e dirige, desde 1987, a RV&A.