Por Gerson Neto*
Os nossos Cerrados estão se transformando com a tomada avassaladora das áreas nativas pelas culturas do agronegócio. O prognóstico não é bom. A retirada da vegetação nativa diminui a capacidade do solo acumular água. Ao mesmo tempo o rebaixamento dos lençóis freáticos seculares faz secarem as nascentes a começar pelos lençóis superficiais e por fim vai atingir os lençóis mais profundos. Isso quer dizer que nossos rios vão desaparecer. Segundo o professor Altair Salles Barbosa, o maior pesquisador do Cerrado, esse processo já atinge alguns pequenos riachos, mas deve chegar aos grandes rios, que deixarão de correr dentro de apenas 25 anos.
O potencial destrutivo desse processo é de inviabilizar não apenas os imensos projetos do agronegócio que retiram a vegetação nativa para dar espaço para lavouras e pastagens mas também cidades inteiras, podendo transformar nossa região se não em uma espécie de deserto, em um sistema muito parecido com a caatinga.
Já podemos ver esse processo acontecendo nos nossos grandes rios, o Araguaia e o Tocantins, que cada ano perdem parte do seu caudal. Em Ceres o Rio das Almas, que já foi um rio majestoso, profundo e perigoso, com corredeiras rápidas e implacáveis, hoje é um conjunto de poças de água mal cheirosa entre ilhas de pedra. As lavouras atacam o rio duplamente. Além de acabar com suas nascentes bombeiam enormes quantidades de suas águas para irrigar suas culturas. Quem anda pelo Cerrado estranha o contraste da sequidão da vegetação e pastagens com o verde das lavouras em plena época de seca. Para estas não falta agua; ainda.
Para nós que habitamos o Cerrado só resta fazer uma profunda mudança na nossa forma de viver e lidar com a terra. Plantar o máximo de árvores possível para que a água se mantenha no solo, recuperar as matas das nascentes e as matas ciliares dos rios, escolher melhor nossas culturas para explorar os recursos naturais com mais sensatez e por fim rezar para que o processo de rebaixamento dos lençóis freáticos seja atenuado. Recuperar a cobertura de cerrado não será mais possível porque essa vegetação não pode ser replantada. Teremos que criar um novo cerrado através de muita pesquisa para escolher espécimes capazes de recompor nossa vegetação, e temos que fazer isso logo.
Quando a água acabar, os empreendimentos vão embora. Nós vamos ficar aqui para viver e sobreviver do que houver resultado.
*Gerson Neto, presidente da ARCA – Associação para Recuperação e Conservação do Ambiente