O que o episódio revela e a mídia não captou
Por Flammarion Ruiz*
A propósito da repercussão da honestidade do Sargento PM Aragão, repercutida na mídia nacional, valem algumas observações.
Entre os brasileiros, José Renato Nalini nos brinda com sua significativa obra “Ética Geral e Profissional”, já em sua 13ª edição, onde ensina os fundamentos da importante ciência do comportamento para todas as sociedades contemporâneas, que os obedecem por questão de sobrevivência e porque ninguém é ”mais” melhor do que os outros e assim evolui a humanidade. O Sargento Aragão é a própria demonstração disto no plano material e o reconhecimento de sua atitude é fato que a mídia destaca pelo mérito pessoal observado, no entanto, vale aqui mais do que isto a questão de profissão de fé do Policial, não somente pelo que na TV se viu e como foi divulgada a notícia.
Não é pelos valores envolvidos, ou pelo arrepio à lei e à ordem, tal como a TV procurou demonstrar, o quanto o Sargento laborou pelo bem, que merece destaque. É na questão própria do humanismo inerente em estar presente para garantir, em nome do Estado, que todos tenham também direito à vida, à segurança e à liberdade, tal como este prestimoso policial tem agido, de modo indelével e constante, investido de seu poder para assegurar este progresso de toda humanidade.
Nós, policiais brasileiros, estamos muito além das observáveis razões de volume dos valores apreendidos, estamos entre a ordem e a barbárie, entre a desgraça e a esperança, entre a fé e a descrença, sozinhos, enquanto todo o resto só existe por conta desta vigilância constante e heroica destes limites, com toda crítica dos que nada fazem, que nem sequer reconhecem a razão desta nossa convicção, no que é de direito ou daquilo que sabem ou ouviram dizer sobre Ética, mas que só a observam quando valores em espécie saltam aos olhos.
Do que é mais relevante, sem o aparecimento de valores monetários, como deste caso, sequer há qualquer consideração.
Pense nisto. Parabéns Sargento PM Aragão! Polícia Militar, fiel guardiã da sociedade!
*Flammarion Ruiz é Coronel da Reserva da Polícia Militar do Estado de São Paulo, é diretor da Associação dos Policiais Militares do Brasil.
ENTENDA O CASO:
O procedimento padrão de uma abordagem Policial é simples: ordem de parada, revista, entrevista, pesquisa criminal e depois disso o suspeito pode ser liberado ou preso.
A equipe do Sargento Aragão, do comando de policiamento da região metropolitana de São Paulo, suspeitou de dois homens em um carro e realizou abordagem. Foi então que, na revista do veículo, encontraram uma mala e uma caixa com R$ 1,8 milhão em dinheiro.
“Os dois começaram a tentar explicar de onde vinha todo aquele dinheiro. Primeiro eles falaram que era da venda de um apartamento na região da Augusta, mas nem o local exato onde ficaria essa prédio e nem os documentos da venda, eles tinham. Na verdade, os dois não conseguiam explicar nada”, contou o Sargento Aragão à imprensa.
Os meliantes tentaram subornar o sargento e sua equipe, oferecendo R$ 800 mil, e receberam voz de prisão por tentativa de suborno.
Um dos suspeitos já tinha passagem por tráfico internacional de droga, o que levantou a suspeita de que o dinheiro deve ser do tráfico. Os dois homens e o dinheiro foram levados para o DEIC (Departamento Estadual de Investigações Criminais). Eles vão responder por lavagem de dinheiro e corrupção ativa.
A mensagem da polícia no episódio foi clara: Não existe e não haverá possibilidade de “jeitinho brasileiro” com um Policial Militar do Estado de São Paulo.
Fonte: Último Segundo – iG @ http://ultimosegundo.ig.com.br/policia/2018-03-02/policial-militar-18-milhao.html