Por Ives Pereira Muller*
Incrível a necessidade cada vez maior que tenho percebido de criar “avatares” para dar conta de uma nova realidade.
Encurtamos as distâncias, “resolvemos” alguns problemas críticos de mobilidade urbana (ficando em casa), reduzimos as emissões de gases, a tecnologia e a inovação assumiram um papel de destaque “far beyond out of the box” (1), como se, num piscar de olhos, saíssemos da Era do Gelo e chegássemos na Era Digital. A era do teletransporte, já bastante visto em Jornada nas Estrelas.
É bem verdade que o velho seriado “O Túnel do Tempo” já fazia isso possível, mas o que tenho percebido é a necessidade de sair em uma nova era acompanhado de reforços, os chamados “avatares”.
Nessa nova realidade, parece que os compromissos estão se empilhando nos paletes. Uma profusão de iniciativas, produtos e serviços, reuniões e LIVEs simultâneas, muitas de tão interessantes e importantes que são, difícil as vezes tomar uma simples decisão: qual priorizar?
A novela “O Clone” fez sucesso ao trazer um tema tão complexo e contraditório, à época, sob inúmeras perspectivas. O premiadíssimo filme de James Cameron, “Avatar”, também apresentou uma realidade virtual capaz de lidar com ameaças que seriam impossíveis de serem vencidas no mundo real.
Ficção? Se não consigo trazer os “avatares” para auxiliar nas múltiplas tarefas, desafios e compromissos que estão se empilhando, teremos que lidar com melhores modelos de decisão, seleção natural, avaliação de riscos nunca dantes populados nas matrizes de riscos, análises de sensibilidade cada vez mais sensíveis, tolerância ainda menos tolerantes a perdas e, apetite a riscos as vezes invisíveis a olho nu, onde o novo normal passa a ser disruptivo na essência. Imaginem, que loucura!
O exemplo mais real dessa tolerância cada vez menos tolerante está acontecendo neste momento, após uma reação muito mal conduzida por um policial contra um cidadão negro, que resultou na sua morte nos EUA. E por um erro aparentemente sem maiores consequências, que justificassem uma abordagem agressiva como a que foi empregada.
As reações foram imediatas e, de certa forma, bastante amplificadas, com notas marcantes de vandalismo e atos de guerra urbana, não apenas nos EUA, mas em vários outros países. Acreditem, a fase de recuperação plena de uma pandemia ainda está longe de acontecer. Como eu disse, o apetite a riscos e o nível de tolerância foram alterados.
“Yes, we all can’t breath” (2) – como respirar de forma tranquila em meio a crises na saúde, política, segurança e economia, enfim na Governança como um todo, pilares importantes para o equilíbrio das nações. Fica evidente a incapacidade dos governantes de assumirem o protagonismo, minimamente de encontrar o norte. Quem sabe encontrar “avatares” capacitados, que os ajudem nas ações concretas e comunicação clara, direta e objetiva, no firme propósito de focar naquilo que realmente importa: o bem estar de todo um planeta.
Esse “túnel do tempo” vai nos levar pra onde mesmo? Fico pensando…
(1) far beyond out of the box – muito além da caixa
(2) Yes, we all can’t breath – Sim, todos nós não podemos respirar
*Ives Pereira Muller, é formado em Tecnologia de Informação pela Universidade Mackenzie (1985), MBA em Controladoria pela USP (1996), com certificação nos programas internacionais, de Sustentabilidade pela Stanford University, em 2007 (Califórnia), e em “Innovative Brand” por Mumbay University (Índia), em 2010. É membro da Comissão de Gerenciamento de Riscos Corporativos do Instituto Brasileiro de Governança Corporativo (IBGC), e professor do Curso de Formação de Conselheiros do IBGC no módulo de Gestão de Riscos. Há mais de 10 anos, auxilia no desenvolvimento Projeto Social Global para erradicar a Fome no Mundo por meio da redução do desperdício de alimentos. Foi sócio da Arthur Andersen e Deloitte. É diretor da Muller & Sinergy Consulting.
Fonte: O próprio autor – Muller & Sinergy Consulting
Publicação Ambiente Legal, 03/06/2020
Edição: Ana A. Alencar