As produzido por um grupo que conspira contra a democracia
Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro*
Uma coisa é certa. Há quem dialogue, há quem pondere e há quem duvide. Assim deve ser o raciocínio ante uma afirmação, além do ato de concordar, óbvio.
O problema ocorre quando a afirmação é reiterada, e contém invectivas que impedem o diálogo, inibem a ponderação e agridem qualquer discordância. Nessa hipótese, saímos da razão para entrar no mundo das certezas absolutas, recalcadas e repletas de intolerância.
Nesse mundo das sombras que reagem, pensar é crime.
Foi contra esse mundo orwelliano, dominado pelo ministério da verdade e submetido ao “duplipensar” da “novilíngua”, que resolvemos organizar os grupos nas redes sociais de intercomunicação. Esses grupos se tornaram focos de resistência à ditadura intelectual lulista, esquerdopata, que nos tolhia na mídia tradicional, nas academias e até mesmo nas nossas páginas de perfis nas redes sociais abertas ao público.
Com essa mobilização vencemos a imprensa mainstream, mídia oficial do establishment, as organizações partidárias, a censura acadêmica e todo o sistema de repressão ao pensamento discordante, montado nos meios de comunicação convencionais.
Assim, e com base principalmente nessa articulação digital, descobrimos que não estávamos sós e isolados – na verdade eramos uma grande e até então silenciada maioria. Então elegemos um novo presidente sem base partidária, lhe demos uma e renovamos os quadros nos executivos e legislativos estaduais.
Sabíamos que não deveríamos de forma alguma nos desmobilizar, pois a barragem de artilharia do inimigo iria voltar e se repetir em ondas – afinal, o establishment não havia sido destruído, continuava vivo, entranhado no deep state e sustentado pelo globalismo financeiro.
A batalha, sabíamos seria dura e renhida.
Mas não contávamos de forma alguma com o que viria a ocorrer ás nossas costas, no seio do governo que elegemos e defendemos.
Elegemos verdadeiros liberais, cidadãos cosmopolitas, líderes conservadores e quadros soberanistas. Verdadeiros lutadores pela liberdade, acostumados ao debate democrático e ao combate das ideias. Porém, também elegemos e empoderamos bajuladores, carreiristas, oportunistas, neonazistas e obscurantistas de toda ordem.
Os primeiros logo se revelaram, tornando mais fácil descartá-los ou mantê-los sob observação crítica. Mas os segundos… Entranharam-se nas mídias sociais e construíram pontes obscuras com o novo poder, fazendo nelas transitar os vírus da intriga, da conspiração e da desconfiança, que facilmente contaminaram o núcleo duro presidencial, revelando sua baixa imunidade.
Alinhados com o organismo adoecido pelo trauma da perseguição, os agentes das sombras se instalaram nas proximidades do poder e de lá trataram, primeiro, de direcionar suas baterias para destruir os aliados que lhes pareciam imunes á síndrome e não afeitos á bajulação incondicional. Estes logo foram apelidados de isentões, e traíras – sofrendo desgaste junto ao Presidente da República a ponto de serem defenestrados da convivência com o poder.
Seguros da situação, o grupo passou a se dedicar a duas tarefas tenebrosas:
A- poluir e saturar as redes sociais com todo tipo de indignidades e afirmações chulas… até que a ignorância nelas se instalasse como regra; e
B- destruir qualquer crença possível nas instituições da República, desacreditar a política como um meio e a justiça como um fim, de forma a sobrar apenas o menoscabo.
O objetivo estratégico dessa articulação digital obscura é, paradoxalmente claro e evidente: montar as bases para um golpe de estado e instalar no país um regime totalitário, nos moldes do velho fascismo.
Por óbvio que a articulação, para ter algum sucesso, envolve um arco de ações e mobilizações muito maior e complexo. Mas, essa ação localizada nas redes sociais, na mídia digital, já ocorre fortemente, sofrendo avanços e recuos dissimulados, contando com o comportamento explosivo do próprio presidente, com desentendimento entre seus auxiliares e com o próprio cinismo, inerente a gente desprovida de características humanas.
O interessante é que essa corja obscurantista estimula o ódio sistemático como ferramenta de exclusão e forma de doutrinação.
É fácil observar esse método pela vulgarização de termos chulos dirigidos aos “traidores” do dia, aos “vagabundos” da semana e aos “inimigos” do mês – tudo metralhado com munição digital fornecida à vontade pelos robôs cibernéticos e humanos, que distribuem as infâmias sem pestanejar – poluindo o ambiente virtual até não sobrar uma nesga de diálogo.
A infâmia sistematizada tem sido de tal ordem, que as administrações de Youtube, Twitter, Facebook, LinkedIn, Instagram e WhatsApp, trataram de construir meios de identificar e reprimir o tráfego do que é produzido pelas equipes dessa “seita”, tão irresponsável quanto determinada.
Esse fenômeno gerou dois paradoxos: 1- “justificou” o monitoramento e a censura no tráfego de informações em redes sociais – que todos nós combatíamos por justamente denunciarmos o direcionamento ideológico desta fiscalização; e 2- incorporou totalmente o sistema canalha de blogs sujos e de destruição de reputações, que era mantido pela esquerda lulopetista – hoje bastante enfraquecida – e cujos malefícios justamente nos incentivaram a nos organizar em redes sociais, para buscar uma defesa moral face à poluição proselitista nas infovias.
Ou seja, dando um passo atrás, para ver todo o quadro, constatamos que o Ministério da Verdade orwelliano não caiu – apenas mudou de gerente.
O duplipensar metamorfoseou do “Lula Livre” para o “Mito”.
Com toda a certeza, não foi para isso que nos mobilizamos e elegemos Jair Bolsonaro…
Mas o fenômeno obscurantista está chegando ao seu ponto crítico. Com a pandemia da Covid-19, e a crise de isolamento social, algumas características desse movimento infame foram ganhando moldes que fariam corar George Orwell. Senão vejamos:
Como no romance “1984”, os obscurantistas – que formam o chamado “gabinete do ódio” bolsonarista, elegeram também a sua “eurásia” – reinventando a Guerra Fria / para fazer surgir no firmamento de seu horizonte estreito um comunismo virulento e comedor de criancinhas, responsável pela pandemia. O coronavírus logo foi apelidado de “vírus chinês” – não para que com isso se fosse buscar alguma responsabilização internacional, mas para aplicar o “duplipensar” – vinculando quem busca seguir os preceitos da Organização Mundial da Saúde, para combater a pandemia, ao “comunismo chinês”, e taxar como “comunistas” as medidas de prevenção, adicionando que a quarentena era um expediente maléfico contra o governo bolsonaro.
Então, veio a cereja do bolo: Bolsonaro havia encontrado a cura pela “cloroquina”… e os protocolos médicos que já afirmavam ser essa substância um dos elementos do coquetel de tratamento da doença passaram a ser “fake news” para obscurecer a iluminação do líder. Essa confusão mental é tão útil como são os petistas e seu “lula livre”, para estigmatizar qualquer um que ouse pensar diferente.
A luta contra o coronavírus também serviu para reeditar a campanha da “revolta da vacina”, que praticamente tirou a saúde de Oswaldo Cruz e vários outros sanitaristas do início do século XX. A novilíngua do gabinete do ódio vinculou a simples aceitação da pandemia com a supressão da liberdade das pessoas, gerando uma campanha de desobediência civil mortal, tal qual aquela iniciada no Rio de Janeiro contra a vacinação em massa para combater a Febre Amarela. Então os resultados benéficos – como a redução do número de mortos, passam a ser computados como “vitória de Bolsonaro contra a mentira da pandemia”… enquanto os resultados ruins, como os picos da contaminação – são taxados como mentiras fabricadas. No meio dessa confusão mental doentia, reputação ilibada de médicos que são referência internacional passam a ser moídas por memes e notícias falsas de fazer Pinóquio perder o nariz.
Mas a campanha contra o “vírus chinês”, necessita destruir de fato a economia, e assim, a campanha de ódio se volta contra a exportação de alimentos para a China e a importação de produtos da China – contra quem atua no ramo e quem administra no governo esse comércio (que é essencial ao país).
Observamos, agora, nos estertores da pandemia, como em qualquer círculo do mal, a destruição de reputações promovida pelos obscurantistas voltar a corroer o próprio governo – como era no início.
O alvo agora são os núcleos de excelência da Administração – pois o objetivo é que NADA FUNCIONE. Assim, anotem: depois da saúde, os alvos serão a Agricultura, a Energia, a Economia e a Justiça…
Há um dado lamentável nisso tudo. O comportamento tíbio do presidente ajuda os obscurantistas, embora haja um esforço sobre humano do governo continuar a governar “apesar” do comportamento idiossincrático do mandatário.
Enquanto isso, de crise em crise, as redes sociais mergulham no lixo da difamação, da maledicência, da ironia, do patrulhamento e da intolerância. Afinal, isso é parte da conspiração totalitária.
Terrível ironia. Passamos toda a campanha eleitoral e o primeiro ano de governo Bolsonaro, analisando positivamente a performance das mídias digitais contra o establishment, e as redes sociais como novo mecanismo democrático. Hoje, clamamos para que sejam desinfetadas urgentemente, pois contaminadas pela pandemia do totalitarismo… em especial o bolsonarista.
Mas, isso não irá longe. Essa conspurcação suja os próprios conspiradores, que no caminho já se revelam.
Assim, é questão de tempo. Retomaremos o rumo certo das reformas e dispensaremos na primeira fossa essa carga de gente odiosa que nos cerca digitalmente.
Esperamos que o governo trate de ser o primeiro a sofrer essa depuração, em nome da governabilidade.
Quanto às redes, aos poucos, os que pensam, se reorganizam e se protegem, e tornarão a determinar as mudanças que se façam necessárias.
É questão de tempo.
*Antonio Fernando Pinheiro Pedro é advogado (USP), jornalista e consultor ambiental. Sócio do escritório Pinheiro Pedro Advogados. Membro do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB e Vice-Presidente da Associação Paulista de Imprensa – API. É Editor-Chefe do Portal Ambiente Legal e responsável pelo blog The Eagle View”. Foi integrante da equipe que elaborou o plano de transição da gestão ambiental para o governo Bolsonaro.
Fonte: The Eagle View
Publicação Ambiente Legal, 21/04/2020
Edição: Ana A. Alencar