Por Ernesto Marino Neto
Há cerca de uma década atrás eu estava em uma reunião de conselho presidida pelo Dr. Ozires Silva. Eu, como asset manager, defendia a aprovação do orçamento anual de um importante hotel de luxo de São Paulo. Esperava que todo o esforço que eu havia feito nas negociações com o operador hoteleiro fosse reconhecido pelos investidores reunidos naquela reunião.
Esforcei-me para explicar em detalhes sobre o mercado, seus desafios, posicionamento do hotel, etc. Inclusive porque os investidores institucionais estavam alí representados por profissionais não especializados. Então meu desafio era maior.
Quando acabei de fazer a explanação concedi a palavra para perguntas. E eis que as mais estapafúrdias questões foram colocadas em discussão. Eu mal iniciava uma resposta, e tentava orientar o raciocínio, e outro conselheiro engatava na conversa do outro com ponto sem relação com a matéria em discussão. Quando silogismos imperavam na sala o presidente do conselho pediu a palavra; todos ficaram em silêncio. Então perguntou: “Alguém sabe me dizer o que é um dromedário?”
Todos ficaram parados, inertes, sem entender nada, literalmente boquiabertos.
Aí o Dr. Ozires respondeu “é um cavalo feito em uma reunião com decisão por consenso”.
Paulatinamente os conselheiros foram se acomodando em suas cadeiras e o silêncio retornou ao ambiente. Foi quando o presidente colocou o orçamento em votação e as discussões foram produtivas e o orçamento foi finalmente aprovado.
Qual o aprendizado dessa história? Como se aplica para o Brasil?
Infelizmente a vida da nação é endereçada nas discussões que partem de pontos errôneos e, portanto, chegam em destinos inadequados.
Para que “Vale Paletó”? E o “Vale Moradia”? “Cotas Raciais” para privilegiar alguns em nome de seus antepassados? Por acaso seria então justo entregar o governo da Alemanha aos judeus para reparar um passado que já está escrito e nada vai mudá-lo?
Com o argumento de que uns precisam de mais que outros e considerando que o brasileiro é tolerante, privilégios foram sendo edificados em nossa legislação e destruindo o futuro da nação. Pouco a pouco roubando a poupança popular. Pouco a pouco aumentando o endividamento. Pouco a pouco desestimulando a saudável competição e destruindo a meritocracia.
Hoje a Previdência Social consome mais de 25% do orçamento da União Federal, sendo que cerca de 75% dos recursos são empregados para beneficiar apenas cerca de 25% dos pensionistas.
Hoje 51% das vagas nas universidades federais estão reservadas para cotistas, ou seja, para privilegiados.
Quem não é funcionário público, quem não é agraciado com alguma cota, é um cidadão de segunda classe? Onde está o verdadeiro sentido da Igualdade?
Está na hora de acabar com o país dos dromedários.
Vamos devolver o Poder ao Povo!
José Ernesto Marino Neto é graduado em Direito pela USP, MBA em Administraçãoo de Negócios em Turismo pela USP, Master in Science em Administration pela Florida Christian University (FCU), Ph.D. em Business Administration pela FCU. Professor Associado de Investimentos Hoteleiros/Asset Management Hoteleiro na Fundação Getúlio Vargas (FGV). Membro emérito do conselho consultivo da New York University – Preston Robert Tisch Center for Hospitality & Tourism.
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