Por Adriana Martins*
A sigla ESG, do inglês Environmental, Social and Governance, refere-se a três práticas de gestão que estão despontando como primordiais para a responsabilidade corporativa das empresas e que dizem respeito ao seu impacto ambiental, social e de governança nas comunidades onde atuam.
O conceito ESG envolve também uma mudança de mentalidade de negócios, ampliando o foco do seu propósito e legado. Além dos objetivos de rentabilidade e retorno para os acionistas, as empresas com estratégia ESG adotam objetivos de sustentabilidade e de melhorias para a sociedade, considerando todas as partes envolvidas no negócio: funcionários, fornecedores, clientes, consumidores, governos e organizações diversas.
Assim, o ESG vem se consolidando como uma estratégia de visão multistakeholder, que leva em conta outros objetivos além do retorno financeiro para os acionistas (shareholders), como a contribuição para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas, que estabelecem metas para redução da fome, desigualdade, degradação ambiental, entre outras.
Em contrapartida, essa visão holística de negócio favorece a longevidade da empresa, reduzindo riscos e custos ambientais e operacionais, fortalecendo sua reputação, transparência e vantagem competitiva e, por fim, aumentando sua rentabilidade no longo prazo.
Critérios de avaliação dessas práticas também vem sendo utilizados pelo mercado financeiro, há algum tempo, para estimar o desempenho e rentabilidade das empresas ESG e direcionar investimentos para elas.
Outro fator importante para a adoção da estratégia ESG pelas marcas são as demandas dos consumidores das novas gerações, mais especificamente os Millennials (nascidos entre 1980 e 1994) e os da geração Z (nascidos entre 1995 e 2010). Esses consumidores entendem a preservação ambiental como fundamental para a biodiversidade do planeta, e temem as ameaças que as mudanças climáticas significam para a qualidade de vida da sua geração e das futuras.
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E o que a pandemia tem a ver com tudo isso?
O “despertar”: A pesquisa “2020-2021 Survey Report – Board governance during the Covid-19 crisis, da Global Network of Directors Institutes (GNDI)”, instituição da qual o IBGC (Instituto Brasileiro de Governança) é representante no Brasil, trouxe importantes insights sobre os reflexos da pandemia do coronavírus nos conselhos de administração do Brasil e do mundo.
Ao todo, responderam a pesquisa 1.964 conselheiros de 17 institutos equivalentes em todo o mundo. O resultado mostrou que o ESG foi considerado pelos executivos como a questão de maior impacto daqui em diante na estratégia das empresas, com a grande maioria destacando a sustentabilidade e a geração de valor para as partes impactadas pelo negócio como assunto prioritário.
Na opinião de vários especialistas, a pandemia aumentou a necessidade e a urgência da inclusão dos ODS nas agendas públicas e privadas, bem como a busca de parcerias para ações institucionais solidárias emergenciais e futuras.
As metas da Agenda 2030 para desenvolvimento sustentável têm sido tema de diversos fóruns e debates desde o início da crise sanitária, como foi o caso de um evento promovido pelo Observatório do Futuro do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo em 2020 sobre monitoramento do avanço dos ODS.
O tema deste debate girou em torno dos efeitos da pandemia de Covid-19 sobre o progresso da agenda no Brasil. A imagem desse artigo resume as conclusões do fórum em relação à maioria de efeitos negativos sobre a agenda; sendo um dos poucos positivos, a redução da emissão de gases do efeito estufa com a diminuição da atividade econômica, embora a agropecuária, a pesca e o desmatamento continuem sendo primordiais para essa questão.
A imagem sugere que a pandemia fez com que retroagíssemos em vários dos 17 itens abaixo, sendo que inclui mais alguns não comentados nela (9, 12, 14, 15, 16 e 17):
1. Erradicação da Pobreza: a perda de renda levou muitas famílias para baixo da linha da pobreza;
2. Fome Zero: o acesso à alimentação foi prejudicado para a grande maioria;
3. Saúde e Bem-Estar: a pandemia impôs efeitos devastadores nos indicadores de saúde;
4. Educação de Qualidade: o ensino se tornou inacessível para muitos;
5. Igualdade de Gênero: a renda feminina caiu, houve aumento da violência doméstica, e observa-se profissões com maioria de mulheres mais expostas à Covid-19, como enfermeiras, assistentes sociais etc.;
6. Água e Saneamento: a atual inacessibilidade à água e ao saneamento básico aumenta os riscos de contaminação pela Covid-19 no país;
7. Energia Limpa e Acessível: interrupções de acesso à eletricidade fragilizam a economia e o sistema de saúde;
8. Trabalho Descente e Crescimento Econômico: a suspensão de comércio e de outras atividades econômicas causa mais desemprego;
9. Indústria, Inovação e Infraestrutura: não citado na imagem; porém a paralisação ou redução da produção e do ritmo de investimentos, além do aumento de custos, gerou risco de estagflação;
10. Redução da Desigualdade: as famílias empobrecidas e o desemprego aumentam a desigualdade;
11. Cidades e Comunidades Sustentáveis: a necessidade de maior investimento na saúde reduz o foco de outros investimentos urbanos;
12. Consumo e Produção Responsáveis: não citado na imagem; porém, a queda no poder aquisitivo da população força a adoção de produtos mais baratos nem sempre mais sustentáveis;
13. Clima: a pandemia colocou a priorização da agenda climática em compasso de espera, mas diminuiu a emissão dos gases de efeito estufa com a redução da atividade econômica;
14. Biodiversidade Marinha: não citado na imagem; porém, a redução da produção e do consumo pode estar amenizando o descarte de resíduos e plásticos em rios e oceanos.
15. Biodiversidade Terrestre: não citado na imagem; porém, a redução do ritmo de degradação ambiental em função do menor ritmo de atividade econômica favorece a preservação das espécies na terra;
16. Instituições Fortes: não citado na imagem; porém, a presença de instituições fortes protege a democracia e o estado de direito em situações emergenciais e de crises humanitárias, o que reforça a sua importância perante a sociedade.
17. Parcerias: não citado na imagem; porém, houve um aumento de parceiras entre instituições públicas, privadas e sociedade para ações comunitárias de solidariedade para combater principalmente a fome e a falta de oxigênio nos hospitais, por exemplo.
Esse paralelo evidencia, portanto, a urgência da priorização por parte de todas as instituições de uma estratégia multistakeholder, com foco no ESG, que considere uma contrapartida efetiva para a preservação do bem-estar da sociedade, inclusive como base de sustentação da economia. A pandemia está sendo um choque de realidade para mobilizar a atenção mundial para a sustentabilidade.
Portanto, se havia dúvidas quanto à relevância do ESG para as agendas institucionais, com a pandemia, já não há mais.
*Adriana Martins é consultora de planejamento estratégico e de marketing na BRG Brasil com foco em construção e fortalecimento da reputação de marca; Especialista em Branding Reputacional. Amartins.ic@thinkbrg.com https://www.linkedin.com/in/adrianamartins
Fonte: a autora
Publicação Ambiente Legal, 30/04/2021
Edição: Ana A. Alencar
As publicações não expressam necessariamente a opinião da revista, mas servem para informação e reflexão.