MULHER
Sobre meus ombros,
Ventre, peito
Carrego
O ato e o efeito
Sou mulher
Antes do fim
E do meio
sou o começo
Do que eu quiser
Antes das dores
Das flores
Antes das cores
Pelo amor, sou mulher
Antes da moral
Antes da perseguição
Com ou sem sua aprovação
Eu sou mulher
E se eu quiser
Sou até uma qualquer
No dia em que acordei mulher
não haviam flores me avisando
nem café servido na cama
ofereceram-me socos, estava apanhando
sangrando
por dentro e por fora
aquele que outrora
era motivo de alegria
transfigurava meu rosto
movido por covardia
ódio imperava sua mente
pesava na mão que batia
por tanto tempo calada
ninguém desconfiava
da família que aparentava
de amor ser cercada
cercada sempre era eu
até que neste dia sucedeu
que ele tanto bebeu
que se esqueceu
de fazer silêncios aos vizinhos
estávamos sozinhos
veio reclamando do colarinho
que não estava bem limpinho
embora sujeira eu não tenha visto
e exatamente por isto
um soco certeiro, imprevisto
acertou-me arrancando-me um grito
primeiro dos que seguiam
atentos os vizinhos ouviam
cochichavam, estremeciam
mas
mesmo indignados nada faziam
sai correndo, procurei a porta
muito fraca, quase morta
desviei da faca que quase me corta
na rua percebi pessoas me olhando
todos emocionados, alguns chorando
porque não estavam me ajudando?
foi quando uma moça me fez saber
esse tipo de briga não é pra se meter
quem mandou esse homem eu escolher?
distraída não desviei novamente do talher
e assim como nasci também morri mulher
sob os olhos vizinhos, cada qual com sua colher.
Contesto com texto
graças não darei
oração sem fundamento
no momento
do tormento
descrente roguei
até mesmo
por desastres
seca cega
não via
dor tr(a)ns(gressão)
o desastre acontecia
a MINHA revelia!
invadida!
força bruta
ecoa voz noite adentro:
puta! vai sua puta!
morta luta
estremecida
mulher de pouca sorte
no muro de apoio
apática fraca
encontra viva morte.
Eu devo te pedir desculpas porque a sua melhor desculpa
é que a minha saia curta que te colocou nessa saia justa?
Eu deveria te pedir desculpas pela tua falha de caráter ou
pela minha falta de sorte que deu tanto pano pra manga que faltou pro meu decote?
Tô cansada dessa porra, de toda essa bobagem,
ainda diz que a culpa é minha, que eu induzo a abordagem,
que as palavras que me falam, são bem das merecidas,
tô querendo parar obra com essas roupas chamativas,
cativa de corpo, alma culpada,
se o problema é a roupa resolve se eu usar nada?
Recado para outra Claudia.
Tava vendo ontem uma revista de moda,
dentre as conclusões, a mais triste
foto é foda.
Uma matéria de 3 páginas
umas meninas altas e magras
bem bonitas e maquiadas
a cabeleira milimetricamente esvoaçada
pela revista nomeadas
“O sonho de todo homem moderno”
eu logo peguei o caderno
porque no espelho, não é aquilo que vejo
vejo uma moça, cara de cansada
cara de quem acorda muito cedo
e que muito trabalha
cara de quem prefere sentar numa calçada
e beber um breja falando sobre nada
deduzi, não sou a mulher dos sonhos
e por isso não me senti mal
me abracei e percebi
sou a mulher real.
Maria Amora Buendia – “Não nascida em 26/02/2013 – É o amor intrínseco personificado através das mãos de sua não-geradora. Sua formação consiste em um luta pessoal, do conhecimento e reconhecimento constante do seu sagrado em contato com o exterior. Dentre sua conduta literária tem a predileção e o impulso sobre o cotidiano da mulher, do pobre, do marginal e do esquecido pela sociedade. Acredita sobre tudo na Palavra e propõe a cada escrita um questionamento, não vazio, mas cheio de possibilidades para a mudança onde o singular entenda que a felicidade é um bem coletivo.” – por ela mesma.