PARLAMENTARES DO NORDESTE NÃO RECEBEM UM ÚNICO EMAIL DE SUAS BASES, EM FAVOR OU CONTRA O IMPEACHMENT DE DILMA
Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro
Em meio à grande pressão popular sobre o parlamento nacional, nos estertores do trâmite do processo de impeachment contra a presidente Dilma Roussef na Câmara dos Deputados, deputados nordestinos seguem negociando posições com o quartel general lulista, instalado no Golden Tulip Alvorada, sem serem incomodados por seus eleitores.
O alerta de Celso Russomanno
Em conversa com o amigo e Deputado Federal, Celso Russomanno, este me alertou para um fato impressionante: do imenso volume de cartas, emails, manifestações em redes sociais e contatos pessoais, efetuados pelos cidadãos e movimentos pró-impeachment de Dilma, praticamente inexistem pressões provindas do norte e nordeste.
Expoente no Congresso Nacional, parlamentar mais bem votado do País – eleito com 1,52 milhão de votos (7% de todo o eleitorado do estado de São Paulo) – e experiente político no campo das modernas ferramentas de comunicação, Celso Russomanno analisou o fluxo de dados na internet e a origem das mensagens e manifestações, inclusive as recebidas pelos deputados das regiões norte e nordeste do país e, então, constatou o que os parlamentares nordestinos já haviam identificado: eles não sofrem, em verdade, qualquer pressão de suas bases eleitorais, no sentido de se posicionar contra o governo Dilma (nem a favor).
Há casos de partidos que se posicionaram a favor do impeachment, por exemplo, cujos deputados nordestinos não receberam sequer UM email de suas bases, parabenizando ou reprovando eventual desobediência á orientação partidária.
O Deputado Cleber Verde é um desses casos emblemáticos. Cleber está no rol dos indecisos no “placar do impeachment”. Por conta desse fato tem recebido milhares de emails e cartas.
No entanto, segundo assessores, TODAS as manifestações recebidas no gabinete do parlamentar do PRB, pedindo que apoiasse o processo em desfavor da presidente Dilma Rousseff, tinham origem na região sul, sudeste e centro-oeste. NENHUMA fôra remetida de sua base eleitoral, no Maranhão…
Difícil não interpretar a omissão do próprio eleitorado, como um salvo-conduto para que o representante decida por si… E a omissão é inversamente proporcional ao protagonismo observado no eleitorado das demais regiões do país, como atestam as assessorias de vários outros parlamentares.
O silêncio do nordeste, portanto, GRITA no parlamento nacional, tanto ou mais que a gritaria – real ou virtual, dos cidadãos e movimentos sociais de oposição do sul, sudeste e centro-oeste.
A guerra de secessão política ainda continua
Passados quase dois anos das eleições, a votação no nordeste ainda se mantém como indicativo do que pensa a região em relação ao governo federal.
O Nordeste, a segunda região mais populosa do país, deu a vitória a Dilma Rousseff.
Esse voto não foi gratuito. Deveu-se aos governos de Lula, e ao avanço inercial ainda sentido no primeiro governo Dilma. De fato, enquanto o PIB nordestino cresceu 1,9 ponto percentual no período de 2001 a 2011, o PIB no Sul perdeu 2,1 pontos e essa diferença ainda se manteve no período seguinte, até a crise forte de 2015.
Todo o discurso petista, no período que antecedeu as eleições é agora reforçado pelo bombardeio dos meios de comunicação no nordeste e distribuição de panfletos, rumores boca-a-boca e dados nas redes sociais da região: o Brasil reparou um chaga histórica no período Lula-Dilma, que foi incrementar o crescimento do nordeste em prejuízo do “sul maravilha” e, agora, a “turma de São Paulo quer destruir as ‘conquistas’ obtidas”.
O que puxava os índices de desenvolvimento do Brasil para baixo sempre foi o Nordeste, mas só até que Lula chegasse ao poder. Dali em diante, essa equação começou a se inverter.
Por outro lado, a chamada “hegemonia tucana” fez com que, no governo petista em Brasília e do PSDB em São Paulo, este se tornasse o Estado que mais perdeu participação no PIB da indústria brasileira. Apesar de ainda responder pela maior parte da produção industrial (33,3%), a economia paulista teve recuo de 7,7 pontos percentuais em sua participação no PIB industrial.
No período do primeiro mandato de Dilma Roussef e, ainda inercialmente, no seu primeiro ano de segundo mandato, o Nordeste liderou a criação de postos de trabalho no país. Tirante o desemprego galopante, do 1,5 milhão de empregos novos criados no período (sempre os há), 1 milhão ocorreu no Nordeste.
Assim, ainda vigora na região, aliado ao ressentimento tradicional com o sudeste, um novo sentimento de compreensão de que o que aí está, ainda que não seja o melhor para o Brasil, foi, sim, para o Nordeste.
O discurso político petista, na região é acachapante: distribuição de renda começa pela distribuição geográfica, para depois avançar para os critérios de idade, gênero, etc.
Com isso, enquanto o Brasil enfrentava uma sucessão de “pibinhos”, o PIB nordestino crescia.
Miragem e preconceito
Por óbvio, toda essa propaganda dilmista não revela que, em meio a todo esse avanço em obras de infraestrutura, petróleo, transposição, etc, ocorreu que as empresas nordestinas de construção civil tornaram-se quase vassalas das grandes empreiteiras do sul (incluso Odebrecht – que de baiana, hoje, só tem a origem…), cujo cartel açambarcava todos os contratos, subcontratando firmas e engenheiros nordestinos por trecho… Assim, a libertação real da economia nordestina poderá ocorrer justamente com a saída de cena do esquema de governo petista e seus grupos de grandes empreiteiras.
Por outro lado, a classe política e empresarial nordestina necessitaria vir à tona nesse oceano de silêncio, justamente para sinalizar à bancada nordestina no parlamento, que não ficariam impunes os deputados governistas e dissidentes que não apoiassem o impeachment (que várias entidades de peso do nordeste, de fato, apoiam – embora não expressem com a necessária clareza).
Assim, é preciso ampliar a compreensão da questão regional, nesse exato momento em que o PT reedita a União Cívica Nacional, nos moldes getulistas dos anos 30, quando tenentistas do sul e oligarquias nordestinas deram-se as mãos para espancar o Sudeste, formando a rede de apoio ao governo federal, entre a constituinte de 1934 até o golpe do Estado Novo, em 1937.
O alerta de Celso Russomanno precisa ser ouvido e entendido em sua inteireza, para que o “sul maravilha” não seja surpreendido como foi em 2014.
E não adianta responder com preconceito ou xenofobia… o buraco, em verdade, está bem acima disso, situado na economia e na miragem.
Tucanos…não são opção
Seria preciso forte articulação entre os líderes oposicionistas do sul e sudeste e as verdadeiras classes produtivas do nordeste.
A economia do nordeste, em verdade, para além da miragem segregacionista lulo-dilmista, poderá sim, ganhar muito com o redimensionamento da economia – principalmente após debelado o cartel de grandes empresas apoiadoras do governo petista.
O problema é que, se depender de grande parte das hostes oposicionistas, em especial a tucanada paulista, pouco mudará nesse campo.
Ensimesmados nos seus sonhos provincianos de poder. Perdendo toda a iniciativa política para o PMDB no cenário nacional, os líderes do PSDB deixaram há muito de constituir alternativa válida para o que aí está e… aí reside a razão do grande silêncio do nordeste…
Antonio Fernando Pinheiro Pedro é advogado (USP), jornalista e consultor ambiental. Sócio diretor do escritório Pinheiro Pedro Advogados. Integrante do Green Economy Task Force da Câmara de Comércio Internacional, membro do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB e da Comissão Nacional de Direito Ambiental do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB. É Editor-Chefe do Portal Ambiente Legal e responsável pelo blog The Eagle View.
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