Seca em São Paulo traz à tona cemitérios de lixo
Por Ana Alencar e Antonio Fernando Pinheiro Pedro
A crise hídrica em São Paulo não tem revelado apenas a má gestão dos municípios quanto ao abastecimento de água e trato com o meio ambiente (proteção de áreas de nascentes e destinação correta de lixo).
A seca tem trazido à tona sujeira de toda espécie, acumulada no fundo das águas de rios e represas.
Além de peixes mortos, aparecem carros, móveis, garrafas. Enfim, um verdadeiro cemitério de lixo produzido pelo cidadão comum, por empresas e até por criminosos.
Em Nazaré Paulista, com a queda histórica do volume da represa Atibainha, a segunda maior que compõe o Sistema Cantareira, a população próxima a área se deparou com um cemitério de veículos. São carcaças de um Fiat Fiorino, duas Ford Belina, um Chevrolet Opala e um Volkswagen Fusca que reapareceram debaixo da ponte, próximo ao bairro São Lazaro, em Nazaré Paulista. O local era conhecido como ponto de desova de carros roubados.
Outro grande problema revelado pelo baixo nível da represa é o fim do ecoturismo – fonte de renda de várias famílias da região, que se beneficiavam com os passeios de barco onde, no passado, eram as plantações de arroz de suas famílias.
Um morador do local acredita que em breve, poderá ver os restos da casa em que nasceu e foi criado, antes da construção da represa.
A cidade de Salto, em São Paulo, cujo nome se deve às famosas quedas d´água na região, fontes de turismo e subsistência, hoje se vê diante do lixo e das pedras outrora submersos.
O Rio Tietê, que forma uma cachoeira no centro da cidade, transformou-se num fio de água escura e expôs toneladas de lixo acumuladas entre as pedras ao longo de décadas.
A prefeitura aproveitou para fazer a limpeza do local. São plásticos, garrafas PET, brinquedos, latas, peças de veículos e outros materiais recicláveis que foram enviados para um aterro sanitário autorizado. Apenas restos de madeira e paus foram separados para uso em fornos industriais.
Tudo isso, gerou custos para a prefeitura que, além do uso de sacolões e caminhões para o transporte teve que treinar seus funcionários em rapel, para escalar, com o auxílio de cordas, os paredões de granito que formam a cachoeira e as corredeiras de Salto.
A primeira fase da limpeza durou 5 dias. Foram recolhidos cerca de 5 toneladas de lixo contaminado e não reaproveitável. A prefeitura anunciou novas ações de limpeza em outras áreas afetadas pela seca.
A prefeitura de Salto fará campanha de educação ambiental junto à população da cidade e a Câmara de Vereadores já discute a falta de políticas públicas sérias para coleta e destinação dos resíduos sólidos.
Como o lixo retirado das pedras em Salto é proveniente das cidades que margeiam o Tietê antes da chegada a Salto, sobretudo a Grande São Paulo, o prefeito Juvenil Cirelli pretende levar a questão à Associação das Prefeituras das Cidades Estâncias do Estado de São Paulo (Aprecesp), da qual Salto faz parte. “A despoluição do Tietê deve ser uma bandeira das estâncias turísticas.”, disse ele.
Em Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo, o baixo nível do Rio Jundiaí, está revelando tocos de árvores, restos de construção e até a piscina de uma antiga casa, que voltaram à superfície.
Uma das construções antigas que está emergindo é a do sítio de um famoso pintor chinês que viveu no local entre as décadas de 1950 e 1960. Até um antigo poço foi revelado pela queda no nível da água. Uma piscina de uma antiga chácara que foi inundada aparece como uma ilha, e agora está sendo usada por visitantes e pescadores.
Em todo o estado, municípios estão sofrendo com a falta de chuvas e com a queda do nível da água de represas e rios, como a represa Jaguari-Jacareí em São José dos Campos e Vargem, Rio Atibaia em Campinas, Rio Jacarei em Joanópolis, Rio Tietê em Araçatuba, entre outros. Isto tem levado turistas e moradores a “apreciar” o novo panorama, que revela a situação crítica e extremamente preocupante da crise hídrica em todo o Estado de São Paulo.
Cabe aos paulistas rezar para que volte a chover.
Fontes:
http://correio.rac.com.br/_conteudo/2014/10/ig_paulista/212739-seca-revela-cemiterio-de-veiculos-no-cantareira.html
http://werjen.com.br/novidades/noticias/lixo-exposto-com-a-seca-no-rio-tiete/
http://g1.globo.com/sp/mogi-das-cruzes-suzano/noticia/2014/04/baixo-nivel-de-represa-revela-ate-piscina-antiga-em-mogi-das-cruzes.html
http://noticias.uol.com.br/album/2014/07/30/estiagem-revela-velhas-construcoes-e-lixo-acumulado.htm#fotoNav=21
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