Tucanos e aduladores profissionais voam para Nova York para fugir da sabatina de Luiz Edson Fachin
Tucano se posicionando em relação à sabatina do candidato ao STF
Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro
O “problema” Fachin
Com todo o respeito à idéias do Dr. Luiz Edson Fachin, estivesse eu em seu lugar, de há muito teria mandado às favas a indicação presidencial para uma vaga no STF. Isto porque, tenho para mim, nenhum cargo público deve valer a dignidade pessoal de um indivíduo.
No entanto, parece que a vaidade fala mais alto. Afinal, o que poderia levar um jurista de reconhecido radicalismo doutrinário a manter sua candidatura? Até que ponto poderia este mudar suas opiniões? Por que deveria Fachin parafrasear FHC, quando disse “esqueçam o que escrevi?”.
O jurista-candidato odeia a propriedade privada, julga-se inimigo do agronegócio, combate a ferro e fogo a tradicional instituição da família e declara “ter lado” quando a questão é apoiar o governo do PT. Agora, vem desdizer-se em público e procurar suavizar seu perfil por meio de blogs e vídeos reproduzidos em páginas de redes sociais…
Não bastasse esse diz-que-não-disse, ainda há uma nota técnica do Senado Federal, apontando provável irregularidade advinda do exercício da advocacia privada, quando investido o candidato em cargo público de procurador – duplicidade vedada por norma legal expressa do Estado do Paraná.
Parece, diante da tranquilidade retórica do candidato, que há algo mais no ar que os aviões de carreira.
E de fato há.
Para conforto do candidato de Dilma ao STF, o muro tucano está vazio. Não por conta de terem os oposicionistas emplumados, a exemplo de Fachin, “escolhido um lado”. Não, os tucanos, simplesmente “voaram” para longe do embate no Senado Federal.
O dilema tucano
Em um momento como este, em que até mesmo o parlamento nacional expõe as feridas de um processo de indicação para suprema côrte do país, o mínimo que se poderia esperar de um parlamentar, um Senador da República, principalmente se este pertencer ao maior partido de oposição ao governo, seria uma firme postura em relação à questão.
Porém, o principal partido de oposição ao governo no Brasil, infelizmente, é o PSDB.
O governador do Paraná, o tucano Beto Richa, ao que tudo indica por razões absolutamente bairristas, apóia Fachin. Isso mostra até que ponto interesses regionais contaminam a postura nacional do partido da oposição.
Diante do conflito interno, o que faz o PSDB às vésperas da sabatina do Dr. Fachin perante o Senado da República? Promove a debandada de seus senadores em direção à Nova York!
Não dizem SIM, não dizem NÃO. Saem em revoada…
Decididamente, o tucanato é a “Terra de Marlboro” da pusilanimidade.
Mas… há justificativa: os tucanos fugiram da sabatina do complicado jurista Edson Fachin… para homenagear FHC em Nova York!
No evento estarão nosso ex-presidente e Bill Clinton, o grande presidente americano (lá, “ex” não existe…). Aécio e Serra lideram a “bancada” da claque, formada pelos que fugiram da sabatina.
É fácil entender o dilema tucano: entre atender, de um lado, aos apelos dos brasileiros que não querem ver Fachin alçado ao cargo de ministro do Supremo Tribunal Federal (ou que desejam ao menos que ocorra uma sabatina séria do candidato), e, do outro, contribuir para a adulação explícita a Fernando Henrique Cardoso, a nata do tucanato preferiu engrossar a claque do ex-presidente.
Importante observar que a representação do PSDB na CCJ – Comissão de Constituição e Justiça do Senado, estará presente na sabatina. Mas… é cediço que qualquer senador pode inquirir o candidato a ministro. Assim, o que fez o tucanato foi algo similar a manter um pelotão de feridos na linha de frente, enquanto o grosso da tropa bate em retirada…
Ostentação e luxo
O ex-presidente tucano será homenageado na noite de terça-feira, 12 de maio, com o título de “Homem do Ano” pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos.
Por óbvio que não está em discussão, aqui, a justa homenagem prestada pela entidade do Comércio Internacional ao ex- Presidente Fernando Henrique. O surreal da opção da bancada tucana, porém, está nos detalhes do evento:
Para “ver e ser visto” enquanto incensa FHC no icônico hotel Waldorf Astoria, cada engravatado-convidado pagará US$ 1,5 mil. Cada mesa com dez lugares custou aos patrocinadores o valor de US$ 15 mil.
Esses valores não incluem despesas de transporte e hospedagem, muito menos os programas de praxe experimentados na meca dos deslumbrados de todo o planeta.
O programa social objetivado pelos tucanos não termina na premiação.
Na manhã de quarta-feira (13), ainda em Nova York, executivos, parlamentares e aduladores profissionais farão o seu desejum em companhia do ex-presidente, que falará por 15 minutos no mais caro café da manhã que se tem notícia – cada participante do evento desembolsará US$ 4 mil.
O organizador do “breakfast” cobrou US$ 40 mil por cada mesa com dez lugares.
Para fechar o café da manhã, os convivas terão direito a uma palestra do governador Geraldo Alckmin, de São Paulo, que foi à “Big Apple” na expectativa de “atrair investimentos para o principal estado brasileiro”.
O engraçado nesse esforço do governador paulista é que sua palestra não será dirigida a empresários norte-americanos, pois foram empresas brasileiras as patrocinadoras do evento.
Esnobismo privado
Decerto que o evento em tela terá “cordinhas” e “ala vip”, separando “uns dos outros”. A diferenciação entre pares, e as cordinhas como é cediço, compõem a tradição dos eventos do PSDB.
No entanto, o evento de homenagem a FHC é de natureza absolutamente PRIVADA. Bancado e dirigido a empresários. O público esperado para o evento é de empresários, executivos e bajuladores PRIVADOS.
Em nenhum momento se pretendeu realizar um regabofe-caça-niqueis para políticos e funcionários públicos. Portanto, os senadores tucanos NADA TERIAM O QUE FAZER ALI.
Fugiram de um evento importante para os destinos de um Poder da Nação, para participar de uma efeméride particular no exterior. Algo digno de uma empresa de turismo, não de um partido político – principalmente de oposição.
Lula tem razão ao afirmar que o PSDB é mesmo a melhor oposição que um governo poderia ter…
Quando se tem a oportunidade de mostrar à nação a que veio, a oposição tucana bate vôo para Nova York e deixa um enorme ponto de interrogação onde só deveria haver exclamações e assertividade.
Há uma exceção: Aloysio Nunes, senador paulista, informou que ficará no Brasil e não irá a NY. Estará presente à sabatina de Fachin. Uma louvável exceção à regra…
Vale, a propósito, a frase de Abraham Lincoln: “Pecar pelo silêncio, quando se deveria protestar, transforma homens em covardes”…
Nova York, será o ponto de encontro da frouxidão oposicionista…
Matéria originalmente publicada no blog The Eagle View.
Antonio Fernando Pinheiro Pedro é advogado, sócio-diretor do escritório Pinheiro Pedro Advogados. Consultor ambiental, com consultorias prestadas ao Banco Mundial, IFC, PNUD e UNICRI, Caixa Econômica Federal, Ministério de Minas e Energia, Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência, DNIT, Governos Estaduais e municípios. É integrante do Green Economy Task Force da Câmara de Comércio Internacional, membro do Grupo Técnico de Sustentabilidade e Gestão de Resíduos Sólidos da CNC e membro das Comissões de Direito Ambiental do IAB e de Infraestrutura da OAB/SP.
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