Revista Ambiente Legal
problemas, mas trafegam mui-
to melhor quando conseguem
amplo apoio da sociedade”, ob-
serva o especialista que leciona a
disciplina Movimentos Sociais e
Lutas Ambientais na Fundação
Escola de Sociologia e Política
de São Paulo.
Em sua avaliação, a intole-
rância – ainda que condenável
sempre foi praticada histori-
camente. “A intolerância surge
diante da incapacidade da socie-
dade e do Estado de resolver seus
conflitos”, explica Carneiro.
Já o antropólogo, geógrafo
e ambientalista Maurício Wal-
dman afirmou que a tendência
dos conflitos é se multiplicarem
se a essência da questão ambien-
tal não for resolvida. “Não po-
demos pensar em criminosos e
santos. A Aracruz tem seu papel
na sociedade e o MST também.
Então, o que precisaria ser dis-
cutido entre eles são políticas
de reciclagem para o consumo
de papel no Brasil”, acredita o
antropólogo.
C o n f l i t o A b e r t o
Citando estatísticas de estu-
dos realizados na Universidade
de São Paulo (USP), Waldman
comenta que o papel branco
descartado no Brasil é suficiente
para circundar a Terra 48 ve-
zes pela linha do Equador. “Se
somarmos os demais tipos de
papel, seria possível viajar 25
vezes, ida e volta, até a Lua. O
Brasil joga fora 4.980 toneladas
de lenço de papel por ano e 15
mil toneladas de guardanapos.
Não é uma aberração?”, ques-
tiona Waldman.
Ações criminalizadas – O
deputado federal João Alfredo
(
PSOL-CE) em seu pronun-
ciamento sobre a invasão ao
laboratório da Aracruz assumiu
uma posição que pode causar
perplexidade a muitos eleitores.
Não podemos condicionar o
debate à visão maniqueísta de
ser a favor ou contra a ocupa-
ção. Como representantes do
povo brasileiro, nós, parlamen-
tares, temos o dever de procurar
entender as razões da indigna-
ção das mulheres camponesas.
Ademais, não podemos recorrer
a soluções simplistas e conserva-
doras de criminalizar a ação dos
movimentos sociais”, defendeu
o deputado.
Mas não foi dessa maneira
que a Justiça lidou com o pro-
blema. O Ministério Público
do Rio Grande do Sul denun-
ciou 27 mulheres e 10 homens
pela invasão, incluindo o líder
do movimento, João Pedro Ste-
dile, que após o episódio cum-
primentou as “companheiras
pela coragem”. O grupo foi de-
nunciado pelos crimes de dano
qualificado, furto qualificado,
formação de quadrilha e bando
armado, seqüestro e cárcere pri-
vado e lavagem de dinheiro.
O promotor que fez a de-
núncia, Daniel Indrusiak, afir-
mou que não poderia correr o
risco de fazer uma denúncia
difusa, com centenas de envol-
vidos porque seria ineficiente.
Tenderia a consumir um tem-
po demasiado e levar à impuni-
dade dos responsáveis”, esclare-
ce o promotor.
O procurador geral do Rio
Grande do Sul, Roberto Ban-
deira Pereira, garante que não
se trata de ser contra os movi-
mentos sociais. “Apenas temos a
obrigação de coibir os excessos e
a prática de crimes”.
O dia seguinte - A pesqui-
sadora Isabel estava decidida,
já no dia seguinte aos atos de
vandalismo, a recomeçar do
zero e reerguer, custe o que
custar, o centro de pesquisas.
Junto com outras três funcio-
nárias, elas se puseram a traba-
lhar arduamente. Em três dias,
as quatro mulheres colocaram
a ordem possível na destruição
que as trabalhadoras da Via
Campesina fizeram em poucas
horas.
Era a resposta que quería-
mos dar para aquelas mulheres.
Os facões delas não são capazes
de destruir o que foi construído
com amor. Hoje, a única certeza
que tenho é que fiquei mais de-
cepcionada com o ser humano,
mas sei que sou uma mulher de
sorte, pois trabalho em um lu-
gar paradisíaco”.
Se o ser humano perdeu par-
te do encanto para essa mulher
de fibra, a Natureza exuberan-
te e os animais que a rodeiam,
como emas e seus filhotes que
costumam comer coquinhos
praticamente na porta de entra-
da do centro de pesquisas, vão
ser sempre seu consolo. “Afinal,
eles desconhecem a intolerân-
cia”, conclui Isabel.
O Ministério Público
do Rio Grande
do Sul denunciou
27
mulheres e 10
homens pela invasão
no laboratório da
Aracruz.
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