Revista Ambiente Legal
na crosta terrestre. O aprisionamento
do calor por esses gases atua de modo
semelhante a um cobertor protegendo
a superfície terrestre contra o resfria-
mento excessivo, da mesma forma que
pode, ocorrendo aumento na concen-
tração dos gases, provocar a elevação
da temperatura na superfície terrestre.
Devido a essas características, os
gases CO2, CH4, NOx e CFC pas-
saram a ser conhecidos como gases de
efeito estufa (GEE), tendo como con-
seqüência o aquecimento global ou as
mudanças climáticas.
É importante observar que, até re-
centemente, nos estudos relacionados
com o aquecimento global e seus efei-
tos na crosta terrestre e nos seres vivos,
nenhuma referência era feita com rela-
ção à emissão de metano por florestas
naturais ou áreas de reflorestamento,
isto é, por processos aeróbios (presen-
ça de oxigênio). Em todos os casos, a
emissão de metano sempre esteve rela-
cionada com processos anaeróbios, ou
seja, decorrentes da ausência de oxigê-
nio.
Recentemente, a revista Natu-
re (volume 439, páginas 187 a 191,
edição de 12 de janeiro de 2006), pu-
blicou o artigo de F. Keppler, J.T.G.
Hamilton, M. Brass & T. Röckmann;
intitulado “Methane emmisions from
terrestrial plant and aerobic condi-
tions”, no qual, pela primeira vez, é
mostrado que plantas em cultivo sob
condições aeróbias emitem concentra-
ções significantes de gás metano. Mais:
que a emissão de metano por plantas
em cultivo ou por folhas isoladas cres-
ce quando os vegetais são expostos à
luz solar ou à medida que ocorre um
aumento de 10°C na temperatura das
câmaras de cultura (intervalo experi-
mental de 30 a 70° C). Por si só, es-
ses detalhes inviabilizam, claramente,
a possibilidade de geração de metano
somente a partir de sistema anaeróbio,
além de projetar a emissão desse gás às
florestas nativas ou àquelas resultantes
de projetos de reflorestamento.
Para os autores da descoberta, em
condições normais de temperatura e de
Decisões somente
poderão ser tomadas
após o cálculo da
emissão líquido de
metano pelas árvores
e desde que também
seja melhor conhecida
a geração desse gás
nos vegetais e se tal
mecanismo ocorre
em outros sistemas
biológicos.
concentração de gases de efeito estufa,
a emissão de metano pelas plantas não
alteraria o equilíbrio e a temperatura
terrestre por se tratar de um fenômeno
natural que teria, inclusive, contribuí-
do para o desenvolvimento das popula-
ções primitivas de animais ou vegetais.
Ainda segundo Kepler et al, a emissão
de CH4 em áreas de reflorestamento
poderia ocasionar uma redução de 1%
- 4%
nos benefícios decorrentes dos
programas de reflorestamento e sua re-
lação com o seqüestro de carbono exis-
tente na atmosfera terrestre.
Logo após a publicação dos re-
sultados dessa pesquisa surgiram nas
revistas científicas questões tais como
qual a contribuição dessa nova fonte de
gás metano para o aquecimento global.
Essa questão se relaciona principal-
mente com a preservação de florestas
nativas e os projetos de reflorestamen-
to, devido à ligação com o Protocolo
de Kyoto, a redução de emissões pelos
paises industrializados e a estimativa de
créditos de carbono nos projetos de re-
florestamento.
Nas condições da pesquisa men-
cionada, a emissão de metano por
plantas em áreas de reflorestamento
não pode ser considerada como total-
mente competitiva com o papel que se
atribui a tais florestas como sorvedou-
ro de CO2 e, portanto, no controle do
aquecimento global. Contudo, é bas-
tante atual a colocação feita por David
Lowe, do National Institute of Water
and Atmospheric Research, Welling-
ton, Nova Zelândia: “Se você planta
árvores para tentar remover dióxido
de carbono, CO2, da atmosfera, mas
ao mesmo tempo as árvores estão pro-
duzindo metano, então os órgãos ofi-
ciais deverão conhecer o nível líquido
de emissão de gás metano e também
a capacidade de captura de CO2 pela
floresta”.
Daqui para a frente, decisões so-
mente poderão ser tomadas após o
cálculo da emissão liquida de meta-
no pelas árvores e desde que também
seja melhor conhecido o mecanismo
atuante na geração desse gás metano
nos vegetais e se tal mecanismo ocor-
re também em outros sistemas bioló-
gicos. A obtenção dessas informações
e sua análise de uma forma holística é
que nos permitirá estabelecer diretri-
zes mais realistas sobre o problema do
aquecimento global.
*
Hamilton J. Targa é biólogo. Foi
professor titular da Área de Genética do
Departamento de Biologia do Instituto de
Biociências da USP e coordenador do pro-
jeto de cooperação bilateral Brasil-Alema-
nha “Efeitos da Poluição Atmosférica na
Vegetação dos Trópicos. A Serra do Mar:
Cubatão como um exemplo”. Exerceu o
cargo de gerente da Assessoria de Planeja-
mento Estratégico da CETESB.
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