EXEMPLO AFRICANO FOI IGNORADO
Por Ana Alencar
Planejamento ignorante
O Brasil é considerado um dos países mais ricos em belezas naturais, áreas verdes e reservas ecológicas, em todo o mundo.
O volume enorme de turistas em função do evento da Copa do Mundo, seria uma ótima oportunidade para atrair receita e divulgar os parques nacionais, vários deles próximos das cidades onde se realizarão os jogos.
No entanto, o governo brasileiro deixou de investir nesse grande potencial turístico. Parques e reservas ambientais ficaram fora do roteiro da Copa.
Diferentemente da África do Sul, que se preparou antes da Copa de 2010, investindo fortemente no seu arsenal turístico natural, o Brasil sequer tratou de formular apoio ao programa de preservação do Tatu-Bola, o símbolo da competição.
Modelo Africano
Os sul-africanos souberam aproveitar o momento para dinamizar as oportunidades em favor de suas áreas de reservas ambientais.
Pouca gente sabe mas, a famosa “vuvuzela” (como é chamada aqui no Brasil), que enlouqueceu turistas e as delegações de futebol , insistentemente tocada durante os jogos, foi resultado da parceria entre a agência responsável pela gestão dos parques naturais, a SANParks (South African National Parks), e o “First National Bank” do país, com o intuito de inspirar o turista a “viver a África”, oferecendo uma “real experiência” selvagem.
O nome original é “kuduzela” , que representa um ícone na África do Sul por se assemelhar aos cornos do Kudu e emitir um som que é característico da presença deste animal nas savanas do país.
Para cada kuduzela vendida na Copa, parte dos recursos era revertida para o projeto “Kids in Parks”, que levou milhares de alunos e professores para estes espaços na tentativa de valorizar a importância de sua conservação.
Outra parceria da SANParks com a empresa Match, responsável pelas acomodações e venda de ingressos para o evento, garantiu reserva antecipada de 30% dos leitos disponíveis em 11 parques nacionais e até 100% em alguns núcleos do Parque Kruger, oferecidos aos turistas antes e durante o evento no país.
As acomodações diferenciadas, chamadas de “MatchVilles”, ofereciam a experiência selvagem nos parques aos turistas, atrelada a uma organizada logística para que desfrutassem dos jogos.
O projeto da SANParks, teve início em 2007 através do “Plano de Comercialização Estratégica” para os parques. Eram oferecidos aos parceiros, a comercialização dos produtos da Copa, incorporando e revertendo parte dos lucros, à conservação das áreas ambientais, que vinha sofrendo com a falta de recursos do governo.
O projeto ambicioso porém, muito bem elaborado e articulado, consistia em: geração de receita, uso otimizado de recursos governamentais subutilizados, criação de empregos, alívio da pobreza, inclusão de minorias, aprimoramento de infraestrutura, desenvolvimento das regiões onde os parques se inserem, promoção do turismo e proteção e conservação da biodiversidade.
Como resultado, conquistaram uma receita líquida para a SANParks da ordem de R$ 100 milhões, provenientes não apenas das mais de 40 parcerias
com o setor privado que foram estruturadas, mas também da locação de infraestrutura pública nos parques. Houve também, a valorização de ativos públicos localizados nesses espaços, como obras de infraestrutura que, por terem recebido investimentos privados, alcançaram um valor estimado que ultrapassa os R$ 70 milhões.
O gerenciamento de todo o sistema de reservas nas acomodações dentro dos parques, pela SANParks, impulsionou o turismo responsável e valorização dos mercados atrelados à conservação, resultando num índice de satisfação em relação a hospitalidade, pelos turistas, em torno de de 80%, em todo sistema.
Atualmente, além das aulas para crianças, sobre a importância ambiental, cultural e social da conservação dos parques nacionais, uma das prioridades da SANParks é ampliar os espaços para conferências e congressos dentro dessas áreas, que em 2012, os congressos geraram receitas líquidas da ordem de R$ 2,5 milhões.
Já no Brasil…
Infelizmente, apesar de nossa riqueza em reservas naturais, pouco ou quase nada foi feito para aproveitamento turístico dos nossos parques.
O plano inicial do governo brasileiro era investir cerca de R$ 668 milhões na preparação de 23 unidades nacionais, estaduais e municipais para atender a maior demanda de turistas durante os jogos, garantindo qualidade mínima de visitação.
Assim como na mobilidade urbana, as promessas de incentivo, ampliação e melhorias nas infraestruturas de atendimento, não foram cumpridas. Do total previsto, foi direcionado apenas um quinto dos investimentos.
Os contratos de concessão com o setor privado não saíram da fase de concepção, perdendo-se a grande oportunidade de geração de emprego e renda com o turismo ecológico.
Outro problema que atinge muitas UC´s, são as restrições aplicadas aos visitantes e usuários das comunidades do entorno dos parques. Alguns gestores desses parques, impedem o uso e acesso ao público. A boa intenção de proteger a área revela a falta de inteligência e o preconceito ideológico. Com isso, a administração dos parques desestimula investimento e descumpre com a educação ambiental – faz letra morta o “conhecer para preservar”.
A falta de compromisso do governo com o aproveitamento turístico dos nossos parques e unidades de conservação é frustrante. Deixaremos de mostrar e proporcionar aos turistas da Copa nossa maior riqueza.
Com isso perpetuamos as ameaças sobre nossas unidades de conservação, tais como o avanço de construções clandestinas, que comprometem toda a biodiversidades local.
O que poderia ser arrecadado com um planejamento parecido com o da África do Sul, compensaria em dobro, os investimentos previstos, tanto financeiro quanto ambiental.
O país do futebol mandou o turismo ecológico de nossos parques para fora do campo.
Fontes: http://www.oeco.org.br/convidados/28384-o-brasil-se-esconde-como-o-tatu
Ana, me desculpe mas você está mal informada!!! Deveria entrevistar os gestores dos parques…
O problema de fato não são as restrições aos visitantes, isso é uma lenda urbana… O problema é que se confunde patrimônio e atrativo turístico com produto e oferta turística. O que significa uma distância enorme para que o turismo seja viável.
Agora considere que as restrições à algumas áreas em parques ocorrem fundamentalmente por que os parques são unidades de conservação de proteção integral, e além da visitação, devem preservar a biodiversidade.
Tudo seria mais fácil se houvessem recursos humanos e financeiros para a visitação nos parques…
Sobre essa lenda urbana de gestores malvados que odeiam pessoas por que amam de capivaras, veja os comentários em http://www.oeco.org.br/convidados/28375-visitacao-e-essencial-nos-parques-estaduais-do-rio-de-janeiro#idc-cover
Prezado Flávio Mello, agradeço seu comentário, em meu nome e em nome da Ambiente Legal. Isso nos mostra que estamos atingido nosso objetivo, que é oferecer e receber informações valiosas sobre o meio ambiente e demais assuntos que envolvem a vida do nosso planeta. Eu já havia lido o artigo sugerido, entre outros, por isso fiz o comentário no meu artigo. Infelizmente, nem todos gestores compartilham da sua fala mas, adorei sua idéia de entrevistarmos alguns deles ou, voce mesmo escrever sobre o assunto, que tal? Toda informação é válida e, saber que pessoas como você estão preocupadas com a verdade e com a situação do meio ambiente, realmente nos deixa muito felizes.
Agradeço, de verdade, seu comentário e, podemos nos aprofundar nesse assunto dos gestores de parques brasileiros.
Um grande abraço!
Ana Alencar