Uma pesquisa que comprovou a associação do surto de vírus Zika com bebês nascidos com microcefalia no Nordeste do Brasil é o vencedor da 17ª edição do Prêmio Péter Murányi.
O trabalho, coordenado por Celina Turchi, do Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz), em Pernambuco, indicou também a relação do vírus com o aumento da mortalidade de fetos.
O estudo epidemiológico, o primeiro que estabeleceu a associação entre microcefalia e infecção pelo vírus Zika, acompanhou, de janeiro a novembro de 2016, a gestação de mulheres atendidas em oito maternidades públicas do Recife. Durante o período, 32 recém-nascidos foram diagnosticados com microcefalia. Testes laboratoriais apontaram a presença de infecção por Zika em 13 deles.
Os resultados obtidos pelo grupo de Turchi permitiram que fossem criadas medidas de combate ao mosquito transmissor do vírus Zika por parte do poder público, como a distribuição de repelentes para grávidas moradoras de áreas de risco para a doença e o acompanhamento de crianças portadoras de microcefalia. Auxiliou também na análise clínica das infecções.
A cientista foi responsável por formar uma rede internacional, com cerca de 30 profissionais de diversas especialidades e instituições, reunidos no Microcephaly Epidemic Research Group (Grupo de Pesquisa da Epidemia de Microcefalia), que conseguiu, em apenas três meses, identificar como o vírus Zika e a microcefalia estavam associados.
Os estudos começaram em janeiro de 2016, e, em abril, já havia fortes indícios dessa relação. O trabalho resultou na inclusão de Turchi entre as 100 pessoas mais influentes do mundo eleitas em 2017 pela revista norte-americana Time.
“É uma doença que gerou intensa comoção social e isso evidencia a gravidade desses eventos ligados à saúde reprodutiva da mulher, o desconhecimento sobre a causa e transmissão da infecção e dos possíveis fatores de risco. Podemos dizer que esse estudo, realizado por pesquisadores brasileiros, moveu a fronteira do conhecimento científico e, hoje, é referência nos guias de manejo da síndrome do Ministério da Saúde e também é utilizado como fonte de orientação para os Estados Unidos”, disse Turchi.
De acordo com Vera Murányi Kiss, presidente da Fundação Péter Murányi, entidade organizadora da premiação, estudos como esse mostram a importância do trabalho dos pesquisadores brasileiros para preservar o futuro das próximas gerações.
“Essa votação foi uma das mais emocionantes que já participei, devido ao nível dos finalistas. Todos são muito impactantes. Era impossível não pensar no tamanho do benefício que os trabalhos ofereciam à população, conforme íamos analisando os três estudos”, disse.
Na opinião do professor Eduardo Moacyr Krieger, vice-presidente FAPESP, o trabalho vencedor é de extrema importância, pois não só apontou a correlação entre o Zika e casos de microcefalia, como também aponta um caminho para combater as complicações causadas pela doença.
“O trabalho vencedor dá uma pista segura de que há uma relação entre as duas coisas [vírus Zika e microcefalia] e se há essa relação precisamos proteger as mães e a população em geral dos danos causados por esse vírus. A questão do vírus Zika causou um dano enorme para as mães que foram infectadas e para os fetos que apresentaram microcefalia”, disse Krieger.
Para esta edição, focada em saúde, o Prêmio Péter Murányi recebeu 225 trabalhos, vindos de toda a América Latina, recorde de inscritos em toda a história da premiação. O trabalho vitorioso foi selecionado por um júri composto por representantes de entidades ligadas à área da saúde, integrantes de universidades federais, estaduais e privadas, personalidades de renome e membros da sociedade.
O Prêmio Péter Murányi é realizado anualmente, com temas que se alternam a cada edição: Saúde, Ciência & Tecnologia, Alimentação e Educação – cada tema é revisitado a cada quatro anos. O valor total é de R$ 250 mil, divididos entre o vencedor (R$ 200 mil), o segundo (R$ 30 mil) e o terceiro colocados (R$ 20 mil). A entrega ocorrerá em abril, durante a festa de premiação.
Mais informações: www.fundacaopetermuranyi.org.br.
Fonte: Agência Fapesp
E porque existem outros lugares com maior incidência de Zika do que no Brasil, inclusive em mulheres grávidas, não teve até hoje nenhum caso relacionado a microcefalia? (Como por exemplo, em Cabo Verde) Será que o vírus Zika é realmente o único fator determinante para os acontecimentos de microcefalia no Brasil? Acho muito relevante a pesquisa, mas acredito que afirmaram com certeza em muito pouco tempo de estudos e pesquisas, justamente por causa da comoção social e do grande número de casos.
Ana Paula, talvez essa outra leitura esclareça um pouco mais as dúvidas. O certo é que as pesquisas estão no início mas, no caminho certo.
http://revistapesquisa.fapesp.br/2018/02/04/predisposicao-genetica-tornaria-bebes-mais-suscetiveis-a-infeccao-por-zika/
Grata,
Ana Alencar