Igreja Messiânica faz agricultura natural passar de dogma a negócio promissor
Por Vitor Lillo
São três os pilares que orientam os membros da Igreja Messiânica: Johrei, a transmissão de energia divina pelas mãos; o Belo, ou seja, a valorização da arte e das coisas belas em geral; e a Agricultura Natural. Este terceiro sustentáculo em especial transformou a igreja – fundada em 1935, no Japão – em referência quando o assunto é a produção de alimentos orgânicos.
Parte do R$ 1,5 bi de faturamento do setor de alimentos orgânicos em 2012 no Brasil se deve a projetos de agricultores messiânicos como a Korin (lê-se kôrin), companhia agropecuária que é uma espécie de “braço” da agricultura natural – Shizen noho, em japonês – criado pela Igreja Messiânica em 1994 para incentivar o mercado nacional de alimentos orgânicos, trabalho que a Igreja realiza desde os anos 1970.
Da sua matriz em Ipeúna, interior de São Paulo, exportam-se frutas, verduras, legumes, sopa e principalmente carne de frango orgânica, o chamado “frango verde”, que não possui antibióticos nem hormônios indutores de crescimento, responsável por 85% do faturamento da empresa, estimado em modestos R$ 60 milhões no ano passado.
A estrutura de produção de ovos e frangos foi erguida numa propriedade de 171,2 hectares, cujas granjas respeitam as normas de bem-estar animal, deixando as aves soltas, com as galinhas podendo botar seus ovos nos ninhos que escolherem, ao contrário do método tradicional em que ficam confinadas em gaiolas. A produção é cerca de um quarto da concorrência, mas isso não é o importante para a Korin.
Tanto é assim que em um culto anual realizado na capela da empresa – da qual a própria Igreja Messiânica é sócia – pede-se além da salvação das aves no mundo espiritual, a compreensão pelo fato das aves não terem sido “sacrificadas por esporte, prazer ou ganância”, mas sim para que “dentro dos objetivos naturais da cadeia alimentar, venham a se tornar alimento dignificado e valorizado pelo ser humano”.
A filosofia de vender respeito a natureza é a força motriz da Korin, que ainda está longe de ser um sucesso financeiro. Para que se tenha noção, apenas 15 anos após sua fundação, em 2009, a companhia agropecuária obteve seu primeiro – e modesto – lucro líquido de R$ 2 milhões de reais. Os motivos da baixa lucratividade estão o alto custo de produção e a cesta variada de produtos.
Os alimentos são revendidos em um supermercado de produtos Korin, frequentado pelos membros da igreja. Além disso, os produtos Korin são encontrados em alguns supermercados e também são vendidos em “feirinhas” que se realizam periodicamente nos Johrei Centers, as unidades religiosas mantidas pela Igreja Messiânica. Mas, paradoxalmente, a marca pouco consumida pelos fiéis.
“Sem dúvida que o custo alto é um fator que dificulta muito um maior consumo, mas também a postura da Igreja de enfatizar o Johrei como essencial e deixar a alimentação natural num segundo plano é outro fator importante para a relativa pouca adesão á alimentação natural se comparada com outras religiões, por exemplo, como o Kosher judaico”, avalia o pesquisador Hiranclair Gonçalves da PUC-SP, estudioso da religião messiânica.
Mas ainda assim as perspectivas são boas para o setor de alimentos orgânicos, que deve crescer 46% até 2014. De olho nessa expansão, a Korin deve investir na compra de mais galinhas para a produção de ovos e a companhia aguarda a liberação de empréstimo de R$ 20 milhões do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES) para mecanização de seu abatedouro e, assim, a capacidade de processamento dos atuais 16 mil para 30 mil frangos por dia ainda em 2013.
A origem dessa filosofia está em um homem, o japonês Mokiti Okada, criador da Igreja Messiânica. Para ele o ideal era consumir apenas alimentos “puros”, produzidos sem agrotóxicos, sem fertilizantes químicos e até mesmo sem adubos. Os alimentos produzidos dessa forma, segundo ele, são mais saudáveis e possuem melhor paladar. Era uma forma de resistência à modernidade agrícola e alimentar.
“Tem como fazer a produção de alimentos sem adubo. Não que seja proibido, mas se não tem, se recomenda a compra de outros produtos naturais”, explica o agrônomo Douglas Harada, um dos coordenadores dos programas de agricultura natural da Igreja Messiânica. Se a utilização do adubo é vetada, sobra como opção o bokashi, um composto fermentado feito de farelos vegetais e microrganismos.
O composto é vendido pela própria Igreja Messiânica para produtores orgânicos. Ainda segundo o pesquisador Hiranclair Gonçalves, sua utilização é um ponto de discordância entre a Igreja Messiânica Mundial e as outras organizações messiânicas no Brasil. “Todas essas organizações acreditam que o bokashi não é natural e é errado porque não foi ensinado por Mokiti Okada”, aponta Hiranclair em artigo recente.
“Não é que [a utilização do bokashi] seja proibida, até mesmo porque não tem uma formulação apenas. Cada produtor, cada empresa tem a sua formulação, mas ele não vai contra os preceitos da agricultura natural”, sustenta Harada.
Além das perspectivas boas para o futuro da Korin, que planeja alcançar R$ 65 milhões de faturamento neste ano, meta 6% maior que a do ano anterior, há outros trabalhos desenvolvidos pela Igreja Messiânica como o da recuperação de áreas degradadas para a criação de novas lavouras de plantações orgânicas. Um desses projetos teve início ainda este ano na Zona Sul de São Paulo.
“Cada local tem o seu processo, a área em questão foi utilizada no sistema convencional de plantação e agora esta sendo feita essa recuperação. Dependendo das condições, em dois anos essas terras voltarão a ser produtivas”, estima Harada, que parece ser fiel a um ensinamento de Mokiti Okada “Felicidade é fazer a felicidade do outro”. Fazendo bem à natureza, o ser humano só tem a ganhar.
Boa Tarde. Gostaria de saber quais os alimentos que vcs usam para alimentar as galinhas? Li em uma reportagens sobre a Korin que são utilizados a soja e o milho. Fiquei muito preocupada já que consumo os ovos e o frango da Korin. Pois não adianta não dá antibióticos e hormônios e alimenta-las com esses pseudo-alimentos uma vez que os mesmos não são mais alimentos devido as suas mutações trangenicas.
Gostaria que a Korin investisse em uma alimentação realmente natural e orgânica.
Gratidão pelo lindo e precioso trabalho.