Todo reino dividido contra si mesmo é devastado;
e toda cidade ou casa, dividida contra si mesma não subsistirá
(Mateus 12, 25).
Por Lorenzo Carrasco
Enquanto a maioria da classe política se aglutina em facções, tratando de sobreviver aos embates da Operação Lava Jato, a Nação à deriva sofre a abordagem de piratas rentistas, com suas conhecidas bandeiras do “Estado mínimo” e da “eficiência dos mercados”, além da ameaça de uma corrida financeira contra o Brasil. Em realidade, o rentismo tem dominado as políticas econômicas desde a década de 1990, com ênfase especial a partir da presidência de Fernando Henrique Cardoso, sendo mantido pelos seus sucessores do Partido dos Trabalhadores (PT) e, agora, elevado a um paroxismo com a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 241/16.
O objetivo é surreal: a fixação de um teto para os gastos públicos nos próximos 20 anos, a partir de 2017, limitando-os à correção inflacionária dos gastos dos anos anteriores – um autêntico golpe de martelo para fixar a hegemonia rentista nas próximas décadas.
Se aprovada, a medida implicará em uma severa redução da capacidade financeira do governo federal, pois com o aumento da população encolherão os gastos per capita em rubricas como educação, saúde pública e outros. Como convém aos rentistas, o único “benefício” resultante seria o privilégio ao serviço da dívida pública, que já arremata quase a metade do orçamento da União. Não é preciso uma bola de cristal para se antecipar que tal perspectiva implicará na exacerbação dos problemas sociais e das já elevadas tensões internas na sociedade, com a probabilidade de convulsões de desfecho imprevisível.
Todavia, a intenção de se manietar os próximos cinco mandatos presidenciais nessa camisa-de-força rentista não passa de um delírio irrealizável, em meio à evidente calamidade financeira da Federação, e demonstra uma vez mais que, em termos de fanatismo ideológico, os liberais de plantão superam os mais dogmáticos marxistas. Aliás, esta realidade em que os extremos se tocam explica como os próceres do PT aderiram tão rápida e docemente à agenda rentista-liberal, com o simbolismo extra de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em seu pragmatismo “propineiro”, ter projetado ao estrelato o atual ministro da Fazenda Henrique Meirelles, que comandava as finanças nacionais de seu posto no Banco Central.
Está claro que não será o atual Congresso Nacional, convertido em um necrotério político, que definirá o futuro da Nação. Definitivamente, avolumam-se os sinais premonitórios de algo novo se aproxima. A Nova República da Constituição de 1988 está acabada e à espera de ser enterrada – e com ela a nova “República de Meirelles” e a pestilência da usura.
É sempre oportuno recordar José Bonifácio, o “inventor do Brasil”: “Em toda sociedade bem ordenada, arrendar as finanças devia ser proibido; eles rendeiros influem em tudo, e isto é um meteoro de presságio funesto da queda dos Estados.”
Lorenzo Carrasco, escritor mexicano, é jornalista, sociólogo consultor estratégico, presidente do Movimento de Solidariedade Ibero-americana (MSIa) e colaborador do Portal Ambiente Legal
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